Cerca de 4,5 milhões de habitantes da capital cearense e cidades próximas terão segurança hídrica garantida. Desde 2012, Estado do Ceará enfrenta uma das piores crises hídricas da história
Águas do Rio São Francisco na passagem molhada sobre o Rio Jaguaribe, na velha Jaguaribara, a 10 Km de alcançar a parede do açude Castanhão | Fotos: Gustavo Veras
Jaguariabara – CE. O sertão cearense viveu um momento histórico na tarde de quarta-feira (10) quando as águas da Rio São Francisco, liberadas por meio do Cinturão das Águas do Ceará (CAC) no último dia 1º, chegaram ao Açude Castanhão e devem beneficiar aproximadamente de 4,5 milhões cearenses. “Este é um momento histórico para o nosso Estado. A chegada das águas da Transposição do São Francisco foi uma luta de todos os cearenses”, afirmou o governador Camilo Santana.
A estimativa inicial era que o desague no Castanhão acontecesse em 30 dias, mas o prazo foi adiantado devido às chuvas que banharam a região do Cariri, aumentando o nível do Rio Salgado. Segundo o titular da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, a transferência das águas foi mais rápida pelo fato de as calhas dos rios estarem bem úmidas e com bastante fluxo natural. “A escolha do primeiro semestre para realizar a transferência foi por conta desse fluxo que, além de adiantar o processo, ainda evitou que acontecessem perdas por evaporação ou infiltração”.
Antes da chegada ao Castanhão as água do Velho Chico, misturadas com as da chuva, passaram por Jati, Missão Velha, Icó, Aurora, Lavras da Mangabeira, Jaguaribe e Jaguaribara. Técnicos da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) fizeram o monitoramento diário desde o dia 1º, quando foi aberta a comporta do CAC, e vão continuar com o monitoramento do nível do Castanhão para medir a vazão que vai entrando no reservatório.
“10 de março de 2021 é uma dada que vai ficar na história de todos os cearenses. Na tarde deste dia, as águas do Projeto de Integração do São Francisco (Pisf) alcançaram o Castanhão após percorrer 300 Km desde o município de Missão Velha, onde foi feita a liberação do CAC, que por sua vez está interligado ao Eixo Norte do Pisf. O Velho Chico finalmente ficou ligado ao maior rio do Estado do Ceará, que é o Jaguaribe e ao nosso maior reservatório que é o Castanhão. É um momento muito importante para todos nós cearenses pois aumenta a segurança hídrica, o abastecimento das populações que habitam o Vale do Jaguaribe e também a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), pois estamos interligados hoje com a maior fonte hídrica do Nordeste brasileiro”, reforçou Teixeira.
E detalhou: “As águas do São Francisco irão alcançar seis das 12 regiões hidrográficas do Ceará, as cinco regiões da Bacia do Jaguaribe (Salgado, Banabuiú, Alto, Médio e Baixo Jaguaribe) e a RMF. Essas regiões serão beneficiadas por meio da integração do Pisf com as ações estaduais, como o Projeto Malha D’água. A expectativa é que o volume acumulado nos açudes em 2020 e início de 2021, em conjunto com o processo de diversificação da matriz hídrica supra as necessidades da população durante todo o ano de 2021. Porém, mesmo com essa garantia é preciso ter cautela no uso da água”.
Cinturão das Águas – Missão Velha | Fotos: Nívea Uchoa / Governo do Ceará
O titular do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), Rogério Marinho, ressaltou que uma das prioridades do Governo Federal é levar água para as localidades que mais precisam. “Estamos chegando ao Ceará com as águas do São Francisco. Essa medida é fundamental para garantir que a população de Fortaleza e de toda a região metropolitana tenha garantido o acesso à água em qualidade e quantidade”, destaca.
Desde 2012, o Ceará enfrenta uma das piores crises hídricas da história. Antes da abertura das comportas no último dia 1º, segundo o Governo do Estado, o volume disponível do Sistema Integrado Jaguaribe estava em apenas 13,8%.
Percurso da água
Após a abertura das comportas em Jati, as águas do São Francisco percorreram, em 10 dias, 294Km até chegar ao Castanhão. Com uma vazão de 8 mil litros por segundo, passaram pelo leito do Riacho Seco e depois pelo Rio Batateiras, que desce do Crato. Na sequência, seguiram pelo Rio dos Porcos e, depois, pelos Rios Salgado e Jaguaribe até chegar ao Castanhão.
O Eixo Norte do Pisf soma 260Km de extensão, três estações de bombeamento (EBI 1, 2 e 3), 15 reservatórios, oito aquedutos e três túneis. Todas as estruturas responsáveis pela passagem de água até o Reservatório Caiçara estão concluídas, restando apenas a recuperação da tubulação em Atalho e outros serviços complementares que não comprometem a pré-operação. O total de execução física do trecho é 97,7%.
Quando todas as obras complementares estiverem concluídas e em funcionamento, a expectativa é que o Eixo Norte garanta segurança hídrica a mais de 220 cidades paraibanas, pernambucanas, cearenses e potiguares. Cerca de 6,5 milhões de pessoas contarão com abastecimento de água regular.
Projeto de Integração do Rio São Francisco
O Pisf soma 477Km de extensão e é o maior empreendimento hídrico do País. Quando todas a estruturas e sistemas complementares nos estados estiverem em operação, cerca de 12 milhões de pessoas serão beneficiadas em 390 municípios de Pernambuco, da Paraíba, do Ceará e do Rio Grande do Norte.
O Eixo Leste, com 217Km de extensão, está em funcionamento desde 2017 e abastece 1,4 milhão de pessoas em 46 cidades pernambucanas e paraibanas. Os investimentos da União em todo o Pisf já alcançaram R$ 12 bilhões.
Tomara que o “Velho Chico” suporte. E que os aquíferos que são alimentados pelo Bioma Cerrado e que alimentam a bacia do São Francisco, não sejam esgotados pela mudança do uso do solo perpetrada pelo agronegócio. Afora a contaminação causada pelos agrotóxicos. Já há indícios de problemas da perda de foça do Rio no “enfrentamento” com o mar. O salgamento do São Francisco afeta as populações de ribeirinhos. Alguns afluentes de sua bacia estão secando. Nada foi feito pela revitalização em termos da proteção das matas ciliares.
Muito bem pontuado.