Pequenos agricultores do NE terão acesso a inovações para melhoria da produtividade

O foco inicial prevê o atendimento remoto a pequenos produtores, que vivem da criação de caprinos e ovinos e do cultivo de milho e feijão | Foto: Maristela Crispim

Brasília. O Brasil será o primeiro país da América Latina a receber soluções de tecnologia digital para o desenvolvimento agrícola promovido pelo Prêmio Nobel de Economia de 2019 Michael Kremer. O foco inicial será o atendimento remoto a pequenos produtores, que vivem da criação de caprinos e ovinos e do cultivo de milho e feijão.

O anúncio foi feito pela titular do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, na cerimônia virtual em que Kremer recebeu o título de Embaixador de Boa Vontade do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), parceiro na iniciativa que levará informações fundamentais por meio de telefones celulares para que pequenos produtores agrícolas do Nordeste possam aumentar a produtividade e, consequentemente, a renda e a qualidade de vida.

“O cenário atual nos leva a buscar, cada vez mais, tecnologias inovadoras e avançadas. O Ministério da Agricultura está imbuído neste tema e estamos construindo o programa de assistência técnica e extensão rural digital, para trazer novas ferramentas que possam ampliar a base de atendimento dos pequenos agricultores. O IICA, que representa cada uma das diferentes agriculturas das Américas, vem para trazer as boas vindas com essa aliança com Michael Kremer, que traz para nós esse grande instrumento de desenvolvimento”, disse a ministra.

“Hoje, o conhecimento é um dos principais insumos para o crescimento da agricultura e para o aumento da renda do agricultor. Essa é uma parceria que traz metodologias compostas por processos ágeis e mais rentáveis, com uma tecnologia já testada e avaliada por um Prêmio Nobel da Economia. É uma maneira inteligente de enfrentar os efeitos e as ameaças da pandemia sobre a segurança alimentar e de continuar inovando, o que é a marca do agronegócio brasileiro. Agradeço o apoio do diretor-geral do IICA, Manuel Otero, para essa nova parceria. Parabéns Michael”, completou a ministra.

Kremer é um dos fundadores da Agricultura de Precisão para o Desenvolvimento (PAD), organização não governamental que levou serviços digitais e assistência técnica e extensão rural para mais de 3,5 milhões de agricultores familiares em oito países na Ásia e na África. Em junho, o IICA assinou um acordo com o PAD para trazer para a América Latina e Caribe o método cujo objetivo é reduzir a pobreza rural e promover a inclusão social e produtiva, além de desenvolvimento econômico e ambiental sustentáveis.

Em um prazo de dois anos, Mapa, PAD e IICA pretendem fornecer assistência técnica e extensão rural a cerca de 200 mil pequenos agricultores do Nordeste (100 mil no primeiro ano) via mensagens de telefonia fixa e celular, inclusive utilizando a tecnologia 2G disponível em áreas remotas. Serão levadas orientações técnicas sobre pragas, colheitas, boas práticas e saúde animal a partir de uma plataforma já testada e capaz de transmitir informação por meio de SMS. “Tendo o sucesso esperado para esse programa, queremos chegar a mais de um milhão de agricultores atendidos na região”, disse a ministra.

Efeitos da pandemia

O efeito destrutivo da Covid-19 chegou também ao modelo tradicional de extensão e a crise vai acelerar o uso de tecnologias digitais personalizadas a um custo menor do que o sistema vigente há décadas. “A infraestrutura de telecomunicações disponível no campo na América Latina é a base de uma incipiente revolução agrícola digital, que vai permitir acessar informação em tempo real para a tomada de decisões e para um manejo muito mais preciso, baseado no uso de boas práticas. Essa revolução vai beneficiar os pequenos produtores, as mulheres e os jovens do meio rural, melhorando suas condições de vida”, disse Manuel Otero, diretor-geral do IICA.

“A agricultura digital, baseada no uso intensivo de dispositivos tecnológicos, inteligência artificial e aprendizagem online, torna a informação passível de ser programada e customizada conforme as necessidades de cada pequeno agricultor. Se o setor agropecuário pode liderar a recuperação no pós-pandemia, devemos focar em estratégias para a disseminação de tecnologia e na expansão de infraestrutura de telecomunicações. Investir para melhorar a conectividade rural gera retornos em escala cada vez maior, como é possível constatar a partir de exemplos apresentados pelo PAD”, complementou Otero.

Os diferenciais da metodologia desenvolvida pelo PAD são:

  • Personalização da informação de acordo com as características da propriedade e do agricultor, como por exemplo localização geográfica, solo, clima, eventos extremos, segurança hídrica, entre outros.
  • Baixo custo: a depender da escala foram conseguidos custos a US$ 1,5 por agricultor, enquanto o modelo tradicional de extensão rural custa cerca de R$ 1.200 por agricultor por ano.
  • O acompanhamento dos impactos na produção e na renda dos agricultores.

Além disso, o método permitiu a continuidade das atividades em países como Etiópia, Índia, Paquistão, Quênia, Ruanda, Uganda e Zâmbia, onde foram conduzidas pesquisas para reunir informações sobre os desafios enfrentados pelos agricultores e ajudá-los a enfrentar os desafios da pandemia, incluindo aqueles relativos a interrupções no acesso aos mercados de insumos e abastecimento, transporte para levar as safras ao mercado, oscilações de preços, perda de renda, entre outros.

“Informações entregues com grande escala, por meio de celulares, podem mitigar os efeitos negativos da pandemia e ajudar a avançar na luta contra a pobreza. Co-fundei o PAD para capacitar agricultores com ferramentas digitais e informações para mitigar a pobreza e melhorar a produtividade agrícola. Estou entusiasmado com a escala e com a experiência que esta cooperação vai trazer para servir os agricultores pobres do Brasil”, disse Kremer.

Produtividade

Estudos do PAD mostram que os serviços remotos de extensão rural geraram aumentos de produtividades superiores a 11% e que o envio de informação por SMS aumentou em 22% as possibilidades de que os agricultores utilizem os insumos adequados.

No Brasil, cerca da metade (46,5%) dos estabelecimentos rurais possuem conexão de internet, mas apenas 13% contam com conexão de banda larga, de maior velocidade, que, portanto, permite o uso de ferramentas robustas para o desenvolvimento rural, como agricultura de precisão, que requer a transmissão de um grande volume de dados.

Ainda segundo dados oficiais de 2020, cerca de 51% das propriedades rurais no Brasil possuem acesso a serviço celular móvel para uso pessoal, o que permite ações baseadas na comunicação direta com os agricultores, como realizar chamadas telefônicas, enviar e receber mensagens SMS e correio eletrônicos, que podem ser feitas com a estrutura de comunicação existente.

O uso desta estrutura é suficiente para levar aos agricultores da região orientação técnica por meio de tecnologias simples. O conteúdo será elaborado por veterinários, agrônomos, zootécnicos, pesquisadores e especialistas em pecuária, entre outros, com aportes do IICA, do MAPA e outros parceiros estratégicos, como as respectivas unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária  (Embrapa) que contam com conhecimentos específicos para as cadeias selecionadas, além de agência estaduais e universidades.

Agricultura Familiar

A agricultura familiar responde ocupa 23% da superfície de produção do País e emprega diretamente cerca de 10 milhões de pessoas, 67% das pessoas que se dedicam à atividade agrícola, além de produzir um terço do PIB agropecuário do País.

O Nordeste é a região com maior número de agricultores familiares, com aproximadamente 2,2 milhões ou 45,8% do total. A região se destaca pela produção de pequenos ruminantes, como cabras e ovelhas, e também pela produção de grãos, principalmente milho e variedades de feijão.

Embora a produção de feijão ocupe aproximadamente 1,62 milhões de hectares, maior do que soma das áreas cultivas nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, a produtividade no Nordeste é mais baixa.

Fonte: IICA

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