Informações precisas sobre solo cearense devem melhorar planejamento e gestão

Por Andréia Vitório
Colaboradora

Com a proposta de conhecer de forma mais detalhada o solo do Ceará e melhor planejar a atividade agrária, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em convênio com Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), tem investido em um levantamento de solos do Estado que promete beneficiar o setor agrícola de uma ponta a outra.

Ao revelar informações mais precisas e atuais, a ideia é contribuir para equilibrar a balança entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade, numa região cheia de potencialidades, mas que também convive com a desertificação (11,45% do território) e outras dificuldades inerentes à região semiárida.

O levantamento está na reta final. Já são 88% de todo o solo cearense mapeados, o que representa 92.600 quilômetros quadrados, em uma escala de 1:100.000 (1 para 100 mil), ou seja, 1 centímetro no mapa representa 1 quilômetro no terreno.

A Funceme contou com recursos do Governo do Ceará e Banco do Nordeste (BNB), totalizando cerca de R$ 12 milhões, numa empreitada que mobilizou, durante dois anos, cerca de 20 profissionais de forma direta. Já está em negociação o levantamento dos 12% restantes do solo do Estado, referentes, principalmente, à área mais próxima do litoral cearense.

O levantamento é de Reconhecimento de Média Intensidade e revela, a partir de um olhar mais próximo, características morfológicas, físicas e químicas dos diferentes tipos de solos, bem como suas classificações taxonômicas, potencialidades, limitações e, claro, distribuição geográfica.

O levantamento vai contribuir para processos decisórios acerca do tipo de cultura, manejo, irrigação e tecnologia mais adequados, a partir das características do solo – dentre os principais tipos, há 10 diferentes classes de solo mapeados – clima e seu entorno, levando-se em conta o componente social.

Em meio a tantas demandas, foi definido que uma das primeiras atividades a serem realizadas assim que todo o estudo for concluído será um zoneamento agroecológico, importante instrumento para impulsionar a agricultura no estado.

Uso sustentável

Com esse zoom – o solo do território cearense era, até então, mapeado na escala 1:600.000, ou seja, 1 centímetro representava 6 quilômetros – aumenta a probabilidade de tomar uma decisão acertada quanto ao solo e seus usos e à eficácia de políticas de conservação e recuperação, por exemplo.

“Saímos de uma escala generalizada que nos permitia acessar informações mais amplas, para um levantamento mais detalhado, com informações precisas que contribuem para que o governo faça seus planejamentos de forma mais assertiva”, explica a pesquisadora da Funceme, envolvida com a pesquisa, Sônia Perdigão.

Ela defende que o novo estudo – o anterior havia sido concluído em 1973 – é um passo importante para a sustentabilidade, permitindo aliar aptidão agrícola e conservação. E mais: reforçou que os dados que emergem são fundamentais para o desenvolvimento da agricultura no Estado e deve impactar do pequeno ao grande agricultor. Entre as novidades, conta que foi uma surpresa encontrar novas áreas propícias para irrigação. “Não temos ainda o quantitativo, mas fica, principalmente, na região Oeste”, diz.

Novo paradigma

Nizomar Falcão Bezerra, engenheiro agrônomo e Coordenador Estadual de Irrigação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), acredita que o levantamento vai contribuir para a construção de um novo paradigma para a agricultura no Estado do Ceará.

“Para a extensão rural, a importância do mapa de solos é indiscutível, uma vez que ele traz um elevado número de dados que podem subsidiar decisões e contribuir para o planejamento de uso da terra para fins de uso agrícola, de recuperação de áreas degradadas, de construção de estradas e demarcação de corredores ecológicos, servindo, também, para apoiar a definição de práticas conservacionistas, indicando áreas com maior risco de erosão e compactação”, afirma.

O estudo pode auxiliar, ainda, na escolha de áreas mais viáveis para práticas agrícolas e para a implantação de assentamentos fundiários, bem como para a promoção de serviços ambientais, construção de caminhos para provocar menos impactos na terra e implementação mais assertiva de tecnologias de convivência com o Semiárido.
Para o especialista, o estudo está alinhado à nova tendência de agricultura de precisão e contribuirá para ajustar as áreas de fertilidade, definindo critérios para aplicação de fertilizantes, assim como para a escolha do método de avaliação e monitoramento de terras.

Próximos passos

A pesquisadora Sônia Perdigão destaca que é um estudo muito puxado, pegando a estrada, abrindo trincheira, entrando em buraco para ver o solo de perto | Foto: Funceme

Ainda tem trabalho pela frente para que o mapa seja aproveitado em todas as suas potencialidades. O próximo passo, segundo a Funceme, é concluir o que está faltando.

“O mapeamento em si, creio que em dois anos, no máximo, está finalizado. Depois, a gente tem que levar um tempo para unificar a legenda. É um estudo muito puxado. A gente sai andando pela estrada, abrindo trincheira, entrando em buraco para ver o solo de perto. Estamos trabalhando muito com imagem de satélite, dedicando tempo para a interpretação da imagem, vendo padrões de relevo, textura e delimitando as áreas – a partir daí, a gente vai para campo, para cutucar o solo, coletar amostra e analisá-lo”, afirma Sônia.

Se tudo isso vale a pena? A resposta vem em forma de constatação: “o solo é a base de sustentação da vida”, finaliza.

Quer a apoiar a Eco Nordeste?

Seja um apoiador mensal ou assine nossa newsletter abaixo: