Árvores frutíferas oferecem sombra, colheita no quintal e atraem aves

Em primeiro plano, fruto vermelho, cheio de gomos, ao fundo, desfocados, galhos e folhas

Pitanga, fruto nativo da Mata Atlântica brasileira, pode ser cultivado em jardins e quintais | Foto: Alice Sales

Por Alice Sales
Colaboradora

Fortaleza – CE. As árvores frutíferas tropicais que podem ser cultivadas em jardins ou quintais, além de oferecerem sombra e refrescarem os ambientes, servem de alimentação e refúgio para pequenos animais, como pássaros e borboletas. Essas árvores embelezam os espaços urbanos, e são escolhidas, muitas vezes, para compor projetos de paisagismo. Além disso, nos oferecem seus frutos de sabores e propriedades nutricionais das mais diversas. 

Os cuidados para o cultivo de fruteiras em espaços menores, como quintais e jardins, podem variar de acordo com as condições de clima, tipo de solo, disponibilidade de água, dentre outros aspectos. Esses cuidados variam também de acordo com as espécies escolhidas para o cultivo. Em geral, essas plantas exigem temperaturas na média entre 22 a 30 graus durante todo o ano, com poucas variações.

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Dentre as fruteiras tropicais mais comuns no Nordeste, destacam-se abacaxizeiro, bananeira, coqueiro, goiabeira, gravioleira, jaqueira, mamoeiro, mangueira, maracujazeiro, sapotizeiro e cajueiro. Para o cultivo em quintais e jardins, Rita Pereira, pesquisadora e engenheira agrônoma da Embrapa Agroindústria Tropical, recomenda o plantio de pés de limão, acerola, romã, amora, pitanga e laranja.

“Os frutos dessas plantas, além de servirem  para a alimentação, possuem propriedades medicinais”, explica. A pesquisadora atenta para a necessidade de água dessas fruteiras e explica que a irrigação é usada apenas como suplementação no caso de veranico em período chuvoso e no estresse hídrico ao término desse período. 

“Geralmente, as plantas sofrem estresse hídrico a partir do sexto ao sétimo mês depois do plantio pois as raízes da maioria das fruteiras ainda não se encontram totalmente desenvolvidas e não conseguem absorver água das partes mais profundas do solo.  A irrigação nessa fase dá continuidade ao desenvolvimento do sistema radicular e torna a planta mais resistente ao déficit hídrico, facilitando a produção de frutos durante quase todo o ano”.  

Paisagismo

Unir o útil ao agradável é uma das razões que justificam a escolha de fruteiras em projetos paisagísticos. De acordo com Bruno Ary, paisagista engajado em projetos que priorizam a sustentabilidade e a relação com a natureza, essas plantas têm sido cada vez mais demandadas em projetos paisagísticos. “Em maior ou menor quantidade, todos querem ter algo para colher no jardim”, ressalta.

Segundo o paisagista,  é totalmente possível harmonizar a composição dos projetos com plantas produtivas. As mais procuradas são jabuticaba, que pode ser cultivada até em vasos em varandas; e também pitanga, banana, coco, goiaba e jambo. 

Bruno Ary alerta que é preciso atentar para alguns inconvenientes de fruteiras em áreas de circulação de pedestres e veículos, pois frutas muito abundantes e suculentas podem deixar o solo escorregadio, ou até provocar acidentes com a queda dos frutos. “Existem diversos sites que vendem on-line, mudas de frutíferas raras, como o bacupari, e inúmeras e surpreendentes Mirtáceas, família da pitanga e jabuticaba. Eu mesmo estou incrementando meu jardim com algumas dessas espécies como pitangatuba, cambucá, cambuci, pitanga preta e ubaia”, completa. 

Atração de aves

Pássaro cinza de cabeça para baixo, seguro pelas patas num galho de sapotizeiro saboreando o fruto

Sanhaço-cinzento (Thraupis sayaca) alimentando-se de Sapoti | Foto: Alice Sales

Bruno Ary também destaca que o plantio de frutíferas se torna interessante na atração da avifauna, que passa a habitar o jardim em busca de alimento e habitat. Esses espaços se convertem em refúgios para aves e borboletas, um verdadeiro oásis, em meio à urbanização, para esses animais. 

“Ter árvores frutíferas do interesse das aves é atrativo a elas principalmente nos locais onde houve muita alteração ambiental, como desmatamentos, e também durante os períodos de estiagem ou inverno, duas situações que em geral levam à menor disponibilidade de alimento para as aves que se alimentam de frutos, de néctar ou dos insetos associados”, reforça a bióloga Thaís Camboim. 

Contudo, a bióloga alerta para a escolha dessas fruteiras. Ela explica que a maioria das espécies de árvores frutíferas atrativas às aves que temos conhecimento não é nativa do Nordeste ou até mesmo do Brasil. “Pode ser perigoso plantar espécies não nativas sem a devida supervisão, já que sua chegada em áreas de vegetação nativa pode alterar toda a dinâmica de propagação das espécies locais. Isso, em longo prazo, pode levar ao desequilíbrio do ecossistema em questão, necessário para seu funcionamento ecologicamente adequado que beneficia as outras espécies da fauna e também nossa própria espécie”. Por esse motivo, a bióloga recomenda o plantio de árvores frutíferas nativas da própria região de interesse do novo plantio.

Sobre as frutíferas nativas mais procuradas pelas aves, Thaís detalha que faltam estudos mais aprofundados sobre quais são os alimentos preferidos de cada espécie de ave e nos locais em que cada uma delas ocorre. De acordo com a pesquisadora, isso varia muito a depender da diversidade de plantas nativas de um determinado local e da dieta de cada espécie de ave, o que torna mais difícil a obtenção dessas informações detalhadas.

“Para isso, podemos fazer uma atividade bastante divertida: observar com nossos próprios olhos as aves na nossa vizinhança e proximidades para descobrir de que plantas se alimentam ao longo das estações. Após isso, podemos consultar algum profissional da região que lide e saiba identificar as plantas nativas locais para saber se a planta da interação observada é nativa ou não da região. Mas é importante ter cuidado. Também não podemos cortar as espécies não nativas de uma vez. É preciso fazer um estudo para permitir que haja uma nova fonte de alimento adequada para suportar à biodiversidade dali antes da retirada da fonte de alimento anterior”, sugere. 

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