A Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel), que atua em todo o Nordeste e encontra-se em fase de expansão para outras regiões do País, tem incentivado jovens, agricultoras e agricultores de comunidades em vulnerabilidade social, a criarem e desenvolverem empreendimentos em cadeias produtivas da alimentação, para aumentar a produtividade e a rentabilidade dos estabelecimentos rurais dos quais fazem parte.
Por meio de acesso ao conhecimento, a crédito e apoio técnico e gerencial, os beneficiados são assessorados para cooperar e colaborar entre si, formando arranjos produtivos locais (APL) e se incorporando às cadeias produtivas de alimentação onde vivem, buscando aprimorar a produção e a comercialização.
Em tempos de crise, como a que enfrentamos, manter a capacidade produtiva da agricultura familiar contribui com a segurança alimentar, ou seja, o combate à fome. A insegurança alimentar cresceu em todo o País em 2020 por conta da pandemia.
Cerca de 55,2% dos domicílios brasileiros enfrentaram, no ano passado, dificuldade para ter acesso a comida. Um aumento de 54% desde 2018. Já a insegurança alimentar grave (a fome), esteve presente em 13,8% das famílias do Nordeste, região historicamente já afetada por esse problema. Os dados são de uma pesquisa conduzida pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PenSSAN).
A segurança alimentar no Semiárido passa necessariamente pelo ganho de produtividade na agricultura familiar e por sua capacidade de gerar renda para os jovens e os produtores locais. “Em um momento crítico, que exige adaptabilidade por todos os empreendedores, os jovens precisam mais do que nunca de uma rede de proteção social, econômica e técnica para que possam desenvolver seus negócios e seus projetos – muitos deles nas pequenas propriedades de Agricultura Familiar produzindo comida para suas famílias e para mercados locais – por preços mais acessíveis a quem vive nos territórios”, explica o diretor de desenvolvimento da Adel, Gláucio Gomes.
Iniciativas apoiadas pela Adel no Nordeste
Associação Nossa Senhora de Fátima
Na comunidade Arribão, que fica no município de Touros, Rio Grande do Norte, um grupo de nove mulheres se organizou, em 2017 e, a partir de bingos e rifas, constituiu a Associação. Hoje, aproximadamente 40 famílias fazem parte e vivem da agricultura, atividade mais expressiva devido ao cultivo do milho, feijão e mandioca, destinados ao consumo próprio.
Por lá, a Adel tem colaborado com a execução de Programas Socioambientais com foco na segurança alimentar. Um deles é a implantação de um Centro Comunitário com a CPFL Energias Renováveis, por meio do Programa Raízes.
Uma parte da produção é vendida, outra é destinada à alimentação da família até chegar a safra do ano seguinte. Além disso, elas produzem bolos e um tipo de biscoito muito característico da região à base de goma e coco. Os produtos são vendidos porta a porta em Arribão, nas comunidades vizinhas e em um pequeno comércio na própria comunidade.
Com a construção do Centro Comunitário, a ideia é ampliar as atividades e fazer refeições (quentinha, prato feito), pois já perceberam que existe a demanda. Também pretendem fazer polpa de fruta para aproveitar a safra de manga e de umbu (cajá). Além da infraestrutura, as mulheres são capacitadas e recebem acompanhamento para o desenvolvimento e consolidação do empreendimento.
O Centro Comunitário será um espaço para gestão da Associação, reuniões comunitárias, recepção, cozinha, atividades de educação informal e para abrigar pequenos empreendimentos locais da comunidade.
“Esperamos muito pela construção do Centro Comunitário. Pra gente é a realização de um sonho muito antigo. Não estamos nem acreditando. É uma alegria muito grande ter esse espaço para que possamos nos reunir e realizar nossas atividades. Nossa expectativa é que fortaleça ainda mais o nosso grupo”, comemora Flaíze de Oliveira, líder da Associação Comunitária.
Cooperativa Caroá
É a primeira cooperativa de jovens na região do Vale do Curu, no Ceará. Filhos/as de agricultores e agricultoras, pescadores e pequenos comerciantes, todos jovens beneficiados pelo Programa Jovem Empreendedor Rural (PJER), da Adel, uniram as forças e os desafios e começaram a pensar meios para comercializarem seus produtos orgânicos, provenientes da agricultura familiar.
Vitor Esteves, por exemplo, é um dos integrantes do Conselho Gestor da Cooperativa Caroá e beneficiário do PJER. Ele decidiu empreender a partir de um sonho da infância. Vivia no meio urbano, mas seus planos eram o de tornar o sítio da sua família produtivo e com muitas variedades de hortifrúti. Em 2014, deixou a cidade e passou a dedicar-se ao sítio do pai, na localidade Boca da Picada, em São Gonçalo do Amarante.
“No início, quando eu dizia que era agricultor, ninguém acreditava porque as pessoas têm uma visão estigmatizada da profissão. Hoje, eu tenho plantação de mamão, maracujás, bananeiras, macaxeiras, uma produção bem diversificada. Minha realidade é viver da agricultura e ter qualidade de vida”, comemora.
Grupo das Mulheres de Zabelê
Denominado “Sabores e Resistência”, o grupo é formado por mulheres que residem no Projeto de Assentamento Quilombo dos Palmares (antiga fazenda Zabelê), no município de Touros, no Rio Grande do Norte. Elas começaram a trabalhar juntas com a produção artesanal de bolos em 2012, ideia que surgiu da busca por uma atividade que gerasse ocupação, renda e autonomia. Atualmente, o grupo é apoiado pela Adel e pelo Programa EDP Renováveis Rural, que busca fortalecer a inclusão socioprodutiva das mulheres na comunidade.
Os produtos são vendidos para programas de compras governamentais, gerando renda e trabalho para outras mulheres. Além da produção de bolos, elas participam ativamente da Associação do Assentamento Quilombo dos Palmares, realizam reuniões, debates e discussões sobre os espaços de atuação da mulher na comunidade, planejam como ampliar a produção e a inserção de outras integrantes.
Em 2019, com o apoio da Adel e do Programa EDP Renováveis Rural, as mulheres realizaram o sonho de ter a cozinha do grupo reformada para funcionar de forma adequada, de acordo com a legislação. Ainda com o incentivo do Programa, as mulheres do “Sabores e Resistência” receberam equipamentos para melhorar a qualidade e quantidade da produção.
A cozinha passou a ter pisos e paredes com cerâmica, pia em aço inox, novas instalações hidráulicas e sanitárias, esquadrias adequadas em alumínio, o que permitirá o aumento e diversificação dos produtos, assim como o armazenamento de forma adequada. “Hoje em dia nossa cozinha tá uma benção. Nós vamos fazer por onde valorizar e não perder mais nosso trabalho, procurando sempre melhorias, investindo nos nossos bolos e desenvolvimento do grupo”, reforça Maria de Lourdes, integrante do grupo.
Inicialmente, o trabalho teve o apoio do Instituto Potiguar de Desenvolvimento de Comunidades (Idec), que além de estimular a organização das mulheres, viabilizou a comercialização dos produtos (compra com doação simultânea) em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Fonte: Adel