Por Alice Sales
Colaboradora
Ceará / Piauí. Neste ano, 1,2 milhão de mudas de cajueiro-anão serão distribuídas entre pequenos produtores dos estados do Piauí e do Ceará. As cultivares, desenvolvidas pela Embrapa Agroindústria Tropical, serão ofertadas a fim de fortalecer o desenvolvimento da cadeia produtiva da cajucultura em ambos os Estados.
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Para Genésio Vasconcelos, chefe de Transferência de Tecnologias da Embrapa Agroindústria Tropical, situada em Fortaleza (CE), os programas de distribuição de mudas vão além dos benefícios da gratuidade ou subsídios financeiros.
“Um dos grandes benefícios destes programas é que os produtores estão tendo a oportunidade de iniciar novos pomares, ou renovar os já existentes, tendo como base material genético de alta qualidade. Com estes materiais, associados às boas práticas de produção agrícola, damos passos importantes para a transição da cajucultura de extrativismo, para uma cajucultura como fruticultura comercial, que traz benefícios a todos os elos da cadeia”, afirma Vasconcelos.
Cultivares clonadas
Vasconcelos destaca, ainda, que o uso de mudas clonadas é fundamental para que a cultura do caju alcance seu potencial de produção, já que as tecnologias garantem que o pomar irá apresentar as mesmas características de vigor e robustez que se deseja com os clones.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) possui 12 clones comerciais voltados para atender diferentes demandas de produção, características de castanha e pedúnculo, consumo e processamento, além de apresentarem adaptação a variadas condições de solo, clima e relevo que levam em consideração as características do Semiárido brasileiro.
Genésio Vasconcelos recomenda que deve ser evitado o plantio ou replantio de novos pomares a partir de sementes, mesmo que sejam sementes de cajueiro clonado e explica: “O plantio por sementes não fornece a garantia de que a nova planta terá as mesmas características da planta de origem. Isso gera perda das principais qualidades do material, o que põe em risco o desempenho do pomar e causa prejuízos ao produtor rural. É uma prática que deve ser extinta”, explica. Por isso, é essencial que só se utilize mudas de materiais clonados e registrados.
Distribuição no Ceará
A distribuição das mudas no Ceará é uma ação liderada pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) com o apoio da Empresa de Assistência Técnica Extensão Rural do Ceará (Ematerce) por meio do Projeto Hora de Plantar.
O programa destina ações desde 1987 para a distribuição de sementes de culturas de subsistência, como arroz, milho e feijão, por exemplo. No ano de 2007, o projeto aderiu a distribuição de mudas de cajueiros para aumentar a produção e beneficiar agricultores do Estado. De início, foram distribuídas um milhão de mudas de cajueiro-anão dos clones CCP 76 e CCP 09.
A distribuição no Estado começou com as demandas de mudas dos municípios prioritariamente zoneados, denominados de Polos da Cajucultura, que envolvm todo o litoral cearense e áreas adjacentes. O cenário quando o programa teve início contava com uma área de cajueiro no Ceará de cerca de 400 mil hectares, em que apenas 38 mil eram de cajueiro-anão.
Estimava-se que 40% dos terrenos onde era plantado o cajueiro comum eram improdutivos e com baixa população de plantas. Surgiu assim, o Projeto de Expansão e Recuperação da Cajucultura Cearense, com a função de ampliar a distribuição de mudas e recuperar, por meio da substituição de copa, os pomares improdutivos.
José de Sousa Paz, coordenador do Projeto Hora de Plantar, destaca que as mudas distribuídas são adquiridas, por meio do edital, com viveiristas cadastrados no Ministério da Agricultura. “Todos os beneficiários recebem as mudas em seus municípios e pagam o mesmo valor do contrato no quarto ano após o plantio. O valor atual é de R$ 3,10. O público prioritário são produtores de agricultura familiar. Atendemos produtores não familiares por meio da Federação de Agricultura do Estado do Ceará (Faec)”.
Como resultado, mais de 30 municípios receberam as plantas, que somam seis milhões de mudas de cajueiro dos clones CCP 76, Embrapa 51, BRS 189 e BRS 265. As plantas são oriundas dos municípios de Barroquinha e Paracuru e cultivadas por viveiristas de Pacajus, Beberibe, Fortim e Cascavel.
Para Maria Lucilânia Bezerra Almeida, técnica agrícola no município de Potiretama, “trata-se de uma ação muito importante para o produtor, haja vista que os pomares estão em fase de implantação por causa da morte dos cajueiros comuns. É um incentivo. E também tem a questão de o pagamento ser realizado somente após quatro anos”.
Anderson Chaves Mourão, agricultor de Tabuleiro do Norte, recebeu do projeto 1.150 mudas dos clones CCP 76, Embrapa 51 e BRS 226. “É uma iniciativa muito importante, porque nem todos os produtores teriam o capital suficiente para adquirir as mudas. Dessa maneira que o governo trabalha fica bom para o produtor, pois só iremos pagar daqui a três anos. Estou satisfeito sim. Agora estou aguardando as chuvas para poder plantar”, explica.
Fomento no Piauí
Já no contexto piauiense, a Secretaria da Agricultura do Estado do Piauí desenvolve uma iniciativa semelhante. Entre os clones distribuídos, destaca-se o Embrapa CCP 76. Inicialmente, o programa de distribuição de mudas foi realizado por meio da Cooperativa de Fruticultura da Região de Picos (Cofrup). Por ser produzida em uma cooperativa, as mudas tinham custo menor.
Reativada, a Associação Piauiense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apsem) passou a produzir mudas de cajueiro para o programa. A Associação conta com o apoio de produtores de grande parte do Estado. As mudas são destinadas a assentamentos, associações, cooperativas e ONGs. Mais de 100 cidades serão beneficiadas com as mudas de cajueiro, entre elas a região de Picos e de Valenciana, áreas tradicionais de produção de caju.
De acordo com Leontino do Nascimento, diretor comercial da Associação, as grandes regiões produtoras de caju recebem as mudas. Como resultado, houve um crescimento na região de Picos, onde há um parque industrial com beneficiamento para suco, castanha e cajuína, que é tida como Patrimônio do Estado do Piauí. Para o diretor, Isso se deve ao melhoramento genético do caju CCP 76, que dá um sabor adequado à cajuína.
O diretor comercial explica que a cajucultura no Piauí é constituída, em sua maioria, por pequenos produtores e que, com o apoio do programa, a produção local ganha força. Cada agricultor receberá 200 mudas de caju CCP 76. “Esta ação é gratificante, pois o agricultor familiar planta, cuida e vende o pedúnculo e a castanha para a indústria usufruir”, afirma.
Reinaldo Ferreira, produtor do município de Santo Antônio de Lisboa é um dos agricultores beneficiados pelo programa. Ele comenta que o projeto é importante para os produtores familiares que vivem da cajucultura. “Conseguimos replantar pomares dizimados pela seca e por pragas e doenças que afetaram a cajucultura nos últimos anos. As mudas dos clones CCP 76 e do clone BRS 226 são melhoradas geneticamente e adaptadas à nossa região”, finalizou.
Serviço
Para saber mais sobre como produzir mudas clonadas de cajueiro-anão por enxertia, a Embrapa Agroindústria Tropical oferece um curso on-line, gratuito, para capacitar produtores rurais, extensionistas, estudantes, professores, técnicos e demais interessados.