Tucaninho-da-serra-de-baturité (Selenidera gouldii), resgatado após colidir em vidraça | Foto: Aquasis
Por Alice Sales
Colaboradora
Guaramiranga / Pacoti – CE. Um dos maiores enclaves de Mata Atlântica do Ceará, o Maciço de Baturité, situado no Sertão Central do Estado, é reduto de uma rica diversidade de aves, sendo algumas endêmicas e ameaçadas de extinção. A colisão desses animais em vidraças de casas e prédios, na região, tem sido motivo de preocupação com relação à preservação dessas espécies. O problema é também comum aos centros urbanos e ameaça populações de aves de todo o mundo.
Os acidentes com aves em janelas se dão porque, durante o voo, elas não conseguem enxergar os vidros que geralmente são transparentes, ou são confundidas pelo reflexo espelhado das vidraças, que podem ser de árvores. Por precisarem de velocidade para voar, quando percebem a barreira, não conseguem parar a tempo de evitar a colisão e acabam morrendo.
Fábio Nunes, biólogo e gerente do Programa de Aves desenvolvido pela Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), instituição que lida com a proteção de espécies ameaçadas na Serra de Baturité, considera que essa ameaça à avifauna é muitas vezes subestimada. Ele detalha que os casos desses acidentes na região são frequentes:
“É comum recebermos fotos e vídeos de aves mortas ou chamados para resgate de espécimes debilitados por causa de colisão em vidraças. Mesmo assim, a quantidade deve ser muito maior do que observamos. Estamos falando de muitas vidas, inclusive de espécies ameaçadas de extinção, morrendo de forma banal por causa desse problema”.
Um estudo sobre a temática está sendo desenvolvido por Thais Pereira, pesquisadora voluntária do Museu de História Natural do Ceará Professor Dias da Rocha (MHNC), da Universidade Estadual do Ceará (Uece), situado em Pacoti, município do Maciço de Baturité. A iniciativa busca mensurar os impactos e levantar dados mais detalhados sobre essa questão, ainda pouco explorada no Brasil.
A bióloga destaca que o alerta para essa ameaça, na região, se deu quando foi observado que chega ao Museu uma quantidade significativa de aves tidas como mortas por colisões em vidros, além das já existentes no acervo que foram etiquetadas pela mesma causa.
“Isso nos despertou para a importância de trabalhar com a sociedade, pedindo para que nos tragam os exemplares que morrem dessa forma e, ao mesmo tempo, que utilizem métodos como colagem de adesivos nas vidraças para evitar que novas mortes venham a acontecer”.
Adesivos podem ajudar
De acordo com dados da American Bird Conservancy e National Audubon Society, cerca de 1 bilhão de aves morrem todos os anos nos Estados Unidos por colidirem em vidraças. No Brasil, ainda não há dados suficientes para mensurar esse impacto, mas cientistas já empreendem esforços para obter essas informações e desenvolver métodos que minimizem o problema.
Como solução eficaz, os pesquisadores indicam a colagem de adesivos nas vidraças, a fim de criar barreiras visuais que orientem as aves. O ideal é que as etiquetas sejam em formato circulares ou de listras verticais. Objetos pendurados em frente as vidraças também podem ajudar a evitar as colisões. A confecção desses adesivos pode ser feita conforme as orientações encontradas no vídeo disponibilizado no YouTube, pela coluna Momento Eco, da TV Senado.
No Maciço do Baturité, um grupo de trabalho integrado por cientistas do Museu de História Natural do Ceará e da Aquasis, por meio do Projeto Cara-Suja, vem reunindo esforços para colar esses adesivos em vidraças de propriedades da região.
Fábio Nunes, ressalta que, com essa medida, é possível reduzir as mortes das aves em até 99%. Além disso, a equipe elaborou uma cartilha informativa com o intuito de conscientizar e engajar a população sobre como proceder para ajudar a salvar as vidas desses animais e colaborar com as pesquisas a respeito.
“Conseguimos doações de adesivos especiais da American Bird Conservancy. Já colamos em algumas casas, hotéis e escolas da Serra de Baturité que vinham tendo um histórico de colisões e os resultados foram imediatos. Ainda temos um estoque de adesivos. É só entrar em contato conosco para que possamos fornecê-los “, destaca.
A orientação é que animais mortos por colisão em janelas, sejam encaminhados para museus. No Ceará, o Museu de História Natural recebe esses exemplares. Isso possibilita a criação de um acervo que documenta espécies, datas e localidades dos acidentes. Além disso, esses animais passam a compor a coleção da instituição, onde serão preparados para serem objetos de estudos sobre o tema.
Serviço
Para obter os adesivos e/ou informações sobre como proceder com aves feridas ou mortas por colisão em vidraças:
Telefone: (85) 9 8915-7700
E-mail: fabio@aquasis.org
Excelente e vital iniciativa. Vamos nos engajar neste projeto.
Baltazar Neto
Urubu Ecoparque