A paisagem urbana tende a ser dura e fria, mas duas coisas podem amenizar e ressignificar nossas cidades: o verde e a arte. A arte urbana tem feito a diferença por onde passa, de forma a não apenas requalificar espaços públicos, mas ampliar o sentimento de pertencimento e a autoestima das pessoas. Neste sentido, Fortaleza ganhou, há dez anos, um movimento que vem impactando a cidade de diferentes formas, o Festival Concreto, que já reuniu 1.036 artistas locais, nacionais e internacionais e vem revolucionando a realidade dos artistas de rua ano a ano.
Para celebrar essa década de atividades, o Festival Concreto – Festival Internacional de Arte Urbana, firmou parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) para a realização da exposição comemorativa Festival Concreto 10 Anos no Mauc, aberta no último dia 16 e que vai até 2 de fevereiro de 2024, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc), no bairro Benfica, em Fortaleza.
“O conceito de museu a céu aberto foi a base que deu origem ao Festival Concreto. É importante destacar que, na sua trajetória, tem atuado atuar de forma colaborativa junto às comunidades e em lugares onde a arte muitas vezes tem pouco espaço. Sua abordagem proativa visa, não apenas promover expressões artísticas, mas também trabalhar pela sustentabilidade e estabelecer parcerias significativas. A busca por espaços menos explorados e o compromisso com a inclusão nas comunidades refletem a missão do Festival em transcender barreiras, promover uma interação autêntica entre a arte urbana e os locais que a recebem”, descreve o jornalista Kennedy Saldanha, que participou de diversos momentos dessa trajetória.
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Em seu trabalho social, pensa na comunidade onde o artista está inserido e de que forma as pessoas podem contribuir, abrir as portas e novas possibilidades para os artistas de um modo geral: “o Concreto se tornou um festival importante porque começou a referendar os artistas locais. Ele trouxe esses artistas do isolamento e propiciou a construção de um coletivo artístico em espaços públicos”, completa.
A Exposição Festival Concreto 10 Anos no Mauc mergulha na história do evento, destaca, em sua linha do tempo, expografias, cenografias, fotografias e obras que moldaram a memória do projeto ao longo dos anos. A exposição reúne momentos icônicos de cada edição e explora o universo das experiências visuais, com ações de acessibilidade por meio de visitas guiadas.
Durante todo o período da exposição, haverá uma concentração de eventos que caracterizam a natureza interativa do Festival, que incluem trocas de experiências entre os artistas, oficinas, workshops, masterclass, instalações artísticas, mobiliário, esculturas, pinturas murais e shows. A diversidade de ações ofertadas pretende transformar não apenas o Mauc, mas toda a Universidade e seu entorno.
A curadoria é do artista visual e criador do Festival, Narcélio Grud, e o projeto expográfico é uma idealização dos alunos do Curso de Design da UFC, com a coordenação da professora Tânia Vasconcelos.
Narcélio Grud utiliza uma metáfora para descrever essa trajetória do Festival Concreto e o momento atual: “eu tomo isso hoje como um plantio e, de certa forma, nesse momento estamos começando a colher uma parte. Sempre coletivo, pode parecer que estamos começando do zero, a arar a terra, semente, adubo, cuidar. Mas já vemos algumas coisas por aí frutificando no sentido de a cidade, já estar absorvendo uma forma melhor. Quando se fala de arte urbana já se sabe que já tem gente que vive disso, um museu como Mauc abre espaço para uma exposição. Não precisa ir embora para São Paulo e isso já é uma vitória”.
Futuro arquiteto pela UFC, Lindemberg Freitas é administrador, artista visual, produtor cultural, atua desde o início na organização do Festival Concreto e fica muito à vontade para falar sobre essa trajetória: “na verdade uma das características principais das artes urbanas, que não é só grafite, mas são várias linguagens, é que está na rua, e talvez seja a faceta mais democrática da arte que existe. A nossa proposta de trazer para dentro do Museu é exatamente para quebrar esse paradigma, para criar uma interlocução. Fazer essa ruptura também é uma característica das artes urbanas. Essa coisa transgressora é abrir esse espaço entre o que está na rua e na academia”.
Da rua para o museu
Sobre os 10 anos, ele destaca: “Fortaleza hoje é uma referência internacional. As obras que deixamos como legado, ano após ano, então aí na rua. Já existe um fluxo de pessoas que são envolvidas com as artes e que vêm para Fortaleza para poder ver esses painéis, as esculturas. Na última edição, no Parque Rachel de Queiroz, agora em julho, deixamos mais de 20 culturas. O festival, para além do momento em que ele acontece, deixa um legado. A outra questão é que é um festival de arte urbana, um trabalho resiliência, com um impacto seja gigantesco, principalmente com o artista de periferia, que muitas vezes não tem oportunidade de aparecer para o mercado de maneira geral”.
Professora do Curso do Departamento de Arquitetura e Design da UFC (Daud) e coordenadora do projeto expográfico da Exposição, Tânia Vasconcelos, lembra que, ainda em 1999, defendeu sua dissertação de mestrado sobre arte pública de Fortaleza, sobre esculturas e painéis de artistas consagrados. “Não me detive muito na arte de rua em termos de murais com pinturas e grafites. Mas eu tinha muita vontade de me aprofundar nesse assunto. Quando eu fui apresentada ao Festival Concreto, não tive como não me apaixonar. É grandioso e muito rico em todos os aspectos. Quando soube que nosso aluno da Arquitetura, Lindemberg, era o braço direito do Festival, solicitei que ele apresentasse no curso porque nós nos deparávamos com algumas obras na rua, mas não sabíamos quem pintou, de onde veio, como surgiu, se era uma obra única ou um conjunto de obras, se era um projeto ou um festival. Realmente a cidade e o País precisam conhecer e entender o Festival. A demanda se tornou dar uma aula interativa sobre o Festival Concreto”.
Aluno do Curso de Design da UFC e responsável pelo projeto expográfico, João Crispim, explica que o mais interessante foi fugir um pouco da estrutura de outras exposições mais tradicionais: “foi um processo mais experimental, no qual tivemos que nos virar de uma forma diferenciada, usar diferentes tipos de matrizes para expor os objetos, já que não teria muitas obras, mas muito material das edições do Festival, como lambe-lambe, colagem de adesivos, criou-se uma cenografia, enfim, procuramos de diversas formas trazer a sensação do urbano para dentro do Museu”.
Parcerias
A Exposição “Festival Concreto 10 Anos no MAUC” é uma realização do Festival Internacional de Arte Urbana (Festival Concreto) por meio da Amplitude – Escola de Arte Urbana, Flexos Artes e Instituto Ambiente Cultural e Inclusão Social (IACIS). Conta com o apoio institucional da UFC, Wad World Destinations e do Instituto Italiano Di Cultura San Paolo. E também parceria com a Associação dos Amigos Guaramiranga (AGUA), por meio do Festival Nordestino de Teatro, e o Porto Iracema das Artes.
A programação de pré-lançamento da Exposição teve início ainda em novembro, em Guaramiranga, numa parceria com a Associação dos Amigos de Guaramiranga, com pinturas murais realizadas pelos artistas do Concreto Team, Amanda Nunes e Frank Stein; e pelos mexicanos Liz Raschell, artista muralista e diretora da WAD – World Art Destination, uma agência de gestão e representação de arte e artistas no México; e o artista visual Charbel Abuxapqui.
O ilustrador e pintor muralista italiano Luca Ledda também integrou a programação preparatória em Fortaleza, por meio de uma parceria do Festival com o Instituto Italiano Di Cultura San Paolo. Nesta passagem, também deixaram sua marca no mural colaborativo que o Festival está produzindo na Avenida 13 de maio, entre as Avenidas da Universidade e Carapinima.
A equipe mexicana veio a Fortaleza como participantes de um intercâmbio cultural entre Brasil e México via Festival que ocorre desde 2015. De acordo com Narcélio Grud, este intercâmbio marca o início de uma colaboração mais ampla. “Em oito anos de intercâmbio, nós temos construído uma ponte sólida entre os artistas dos dois países. Em 2024 não será diferente, cinco artistas do Concreto Team participarão de uma residência artística no México, levando consigo não apenas suas habilidades, mas também a experiência de atuação e troca promovida pelo Festival Concreto”, afirma.
Festival Concreto
O Festival Concreto é um evento anual dedicado à promoção da arte urbana contemporânea. Desde o ano de 2013, tem desempenhado um papel vital na cena artística, ao proporcionar uma plataforma para artistas emergentes e estabelecidos, além de envolver a comunidade em experiências únicas de arte pública. Ao longo desta década, o Festival vem consolidando-se como um dos maiores festivais de arte urbana da América Latina.
Em janeiro deste ano, o Festival foi agraciado com o Prêmio Brasil Criativo, uma chancela do Ministério da Cultura, na categoria arte urbana, por fomentar a ocupação dos espaços urbanos, a apreciação artística e o consumo da arte em seus espaços de convivência.
Acompanhe a programação do Festival Concreto 10 anos MAUC pelo endereço: www.festivalconcreto.com.br ou pelo Instagram @festivalconcreto.
Serviço
O que: Exposição Festival Concreto 10 Anos Mauc
Quando: Até 2 de fevereiro de 2024
Onde: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc)
Av. da Universidade, 2854 – Benfica, Fortaleza – CE