Grande quantidade de corais amarelos em forma de flores com pétalas pontiagudas em meio a estruturas cor-de-rosa arredondadas
A grande preocupação é que, em breve, a plataforma deverá ser desativada e, caso não seja removida da maneira adequada, esses corais podem se espalhar por novos ambientes | Foto: Laszlo Ilyes

Por Alice Sales
Colaboradora

Fortaleza – CE. Quem se depara com a beleza das cores e formas do coral-sol, nome atribuído às duas espécies marinhas semelhantes de corais exóticos (Tubastraea tagusensis e Tubastraea coccinea), nem imagina que por trás desse encantamento visual há sérias ameaças à biodiversidade marinha da costa brasileira e à economia do País.

A espécie é invasora e vem preocupando mergulhadores e cientistas. Isso porque o coral-sol compete com outras espécies nativas, o que afeta diretamente a sobrevivência destas, além de se alastrar facilmente no ecossistema marinho da costa brasileira.

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“É como se tivesse uma floresta formada por diversas árvores nativas e chega um único tipo de árvore de outro local e passa a dominar a paisagem. A fauna associada acaba sendo afetada também. O coral-sol é como essa árvore que chega e domina, reduz a vida marinha que tinha antes. Vários tipos de animais e algas podem ser deslocados, o que pode diminuir a biodiversidade. Já há evidência dessas mudanças com peixes”, explica Marcelo Soares,  pesquisador do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Recentemente a espécie invasora trouxe mais uma preocupação: colônias de coral-sol foram encontradas na plataforma PXA-1,  uma das nove existentes na denominada Bacia do Ceará. A estrutura está situada no Campo de Xaréu, um dos quatro campos petrolíferos da bacia cearense, localizado a 30 quilômetros da costa do município de Paracuru, no litoral oeste cearense.  Há ainda a hipótese de o coral já estar espalhado pelas plataformas dos quatro campos.

A grande preocupação é que a plataforma está no plano de descomissionamento anunciado pela Petrobras em 2019, o que prevê a sua desativação.  Caso a plataforma não seja removida da maneira adequada, esses corais podem se espalhar por novos ambientes, atingindo recifes situados na costa brasileira, inclusive, alcançando o Grande Sistema de Recifes do Amazonas, conjunto de recifes, descoberto em 2016, que se estende por uma área de cerca de 50 mil quilômetros quadrados .

Como solução, Soares sugere duas alternativas: os corais podem ser removidos manualmente da plataforma, por mergulhadores. Ou a plataforma seja colocada em cima de um navio para permitir que a estrutura entre em contato com o ar e por consequência os corais morram.

“É importante que essa plataforma não seja deslocada com a estrutura dentro da água, já que, desse modo, durante o caminho, o coral-sol pode se dispersar na água e atingir outras áreas”. De acordo com o pesquisador, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama), é o órgão responsável pela cobrança da correta remoção dessas estruturas.

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As ameaças do Coral-sol

Para além dos danos causados à biodiversidade marinha nativa da nossa costa, a presença do coral-sol afeta também aspectos como a economia e o turismo. A redução da biodiversidade causada pela espécie torna o turismo de mergulho na região menos atrativo. “O ambiente fica menos colorido e sem a diversidade de espécies que tanto atrai os mergulhadores, por exemplo”, detalha Soares.

Quanto à economia, a espécie prejudica diretamente a pesca artesanal, já que o coral reduz a quantidade de pescados na região em que se instala. “Sabemos que no Brasil há uma grande dependência da pesca artesanal, sobretudo em comunidades tradicionais costeiras. Com a redução de espécies de peixes em nossos mares, as possibilidades de quem sobrevive desta atividade são prejudicadas”, destaca.

Origem

De origem do oceano Indo-Pacífico, chegado no Brasil nos anos 1980, por meio de uma plataforma de óleo e gás, ainda não se sabe ao certo como o coral-sol chegou aos mares nordestinos. Já há registros da presença da espécie nos Estados da Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, Pernambuco e em três pontos do Ceará: Acaraú, Pecém e Paracuru.

Uma análise feita com amostra do coral coletado em Acaraú aponta que são organismos com características diferentes dos encontrados inicialmente no Rio de Janeiro, o que levanta a hipótese de uma nova invasão.

Ciência Cidadã

Uma das principais forças para o combate do coral-sol é o auxílio que mergulhadores dão ao relatarem a presença da espécie, além de contribuírem com fotografias e participarem de expedições para a remoção manual desses organismos, que se alastram no fundo do mar.

“Estamos vivendo um momento no Brasil em que há cortes em recursos para pesquisa. Contamos com o trabalho de profissionais que mergulham nessas áreas. Com essa ajuda do compartilhamento das informações, conseguimos avançar nos diagnósticos. Foi assim que conseguimos identificar a espécie nos três pontos do Ceará, daí a grande importância da ciência cidadã“, finaliza.

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