Por Maristela Crispim
Editora geral
Fortaleza – CE. O Réveillon de 2019 para 2020 no mundo ocidental foi celebrado como se fosse a virada da década, o que, de fato, só ocorrerá entre 31 de dezembro e 1º de janeiro próximos. Uma virada de ano cheia de simbolismos, propósitos, planos. Eu mesma planejei algumas coisas para o ano em que completo 50 e meu primogênito, 20.
Mas a realidade ensina que nem sempre conseguimos controlar os nossos destinos. Neste terceiro dia de isolamento social a minha sensação é a de estar em um daqueles filmes de ficção científica que a gente prende a respiração esperando que o herói descubra uma forma de interromper o ciclo de contaminação ou a cura para a doença que se espalha pela humanidade.
Não sabemos por quanto tempo prenderemos a respiração na vida real. Mas aproveito, por falar em humanidade, para lembrar como nos relacionamos com a natureza desde os nossos primeiros passos neste planeta, sempre extraindo, alterando o seu equilíbrio, sem nos preocuparmos com as consequências. Os vírus que nos fazem adoecer estavam lá, quietinhos, convivendo harmonicamente em seu ambiente até a nossa interferência.
Abro aqui um parêntese para lembrar que é em momentos de crise que costumamos refletir sobre a vida, sobre o que fizemos e onde podemos melhorar, assim como naquelas resoluções de Ano-Novo que nem sempre conseguimos cumprir. Mas é também tempo de descobrir o melhor e o pior das pessoas, no degradê que vai da empatia e solidariedade ao egoísmo e desprezo pelo outro.
Ao mesmo tempo em que profissionais de saúde se desdobram para salvar vidas, há quem insista em consumir além do necessário, estocar sem se preocupar com o outro, especular em cima da necessidade alheia. Neste momento, a preocupação central é o isolamento social como forma de interromper a curva crescente de contaminação já iniciada. O sofrimento do distanciamento das pessoas queridas é grande. Os danos psicológicos são inevitáveis.
Se no Brasil o ano começa depois do Carnaval, em 2020 ele nem começou. Do ponto de vista econômico, pequenos empreendedores provavelmente serão os mais impactados, assim como os mais pobres, que não têm as condições básicas de habitação e higiene para se proteger. O ano escolar / acadêmico terá grande impacto, se for concluído. Mas há uma esperança de quem sobreviver a tudo isso será mais forte e até mais consciente de tudo que está acontecendo.
O fato de a poluição diminuir pela desaceleração industrial, é algo a se refletir. Antes da pandemia do coronavírus, a maioria de nós vinha consumindo como se não houvesse amanhã, enquanto a produção aumentava num ciclo insustentável que já fazia o Planeta reagir com mudanças no clima. Pesquisas, reuniões de cúpula, nada disso funcionava para que a maioria enxergasse que era preciso desacelerar. Mas o vírus provocou um recuo involuntário e esse recuo produziu efeitos em pouco tempo.
Desejo, sinceramente, que passe rápido e que os efeitos não sejam tão catastróficos quanto se espera. Mas que tudo sirva como aprendizado para sermos melhores, conosco, com o outro, com o nosso Planeta. A vida está exigindo isso de nós. Que, na virada da década, olhemos para esse ano “perdido” como um momento até necessário para a nossa real e necessária mudança interna.
Parabéns a autora! palavras muito bem colocadas. Que crescamos enquanto humanos empaticos e inteligentes e ouçamos o planeta chorar bem debaixo de nossos olhos.
Obrigada, Edilene!
A esperança de mudanças positivas existe.
Acredito que as respostas da natureza contra o atentado a ela inflingido constantemente pela mão do homem vêm por ciclos. Estamos em mais um deles. Aprenderemos algo com isso? Certamente. Mudaremos nossos hábitos? Duvido. A degradação, assim como todas as ações humanas, tem consequências. Nada feito pelo homem é bom ao planeta. É bom para si mesmo, para seu ego. A formiga não está preocupada com a queda da bolsa, da alta do dólar, das exigência do mercado, ou quantos morrerão em mais uma pandemia por vírus. E o mundo segue.
Marcelino,
Está certíssimo! Felizmente e infelizmente. Mas, se alguém mudar (claro que sabemos que a maioria só pensa em si), já é algo. A esperança é que o sofrimento abra algumas mentes para o curso (sem retorno) que estamos dando à vida.