Por Alessandra Castro
Colaboradora
Há exatos sete dias, a barragem da Mina do Córrego Feijão, da mineradora Vale, rompia em Brumadinho, Minas Gerais, destruindo os locais por onde passava. Imagens de câmeras de segurança da própria empresa repassadas às autoridades, e obtidas com exclusividade pela TV Globo, mostram três ângulos diferentes do momento do rompimento e a lama de rejeitos se espalhando a uma velocidade impressionante.
A Defesa Civil de Minas Gerais informou, nesta sexta-feira (1º), que aumentou o número de mortos e desaparecidos. O balanço revelou 115 mortos, 248 desaparecidos e 395 localizados. Dos mortos, 71 foram identificados. As buscas continuam sem data para acabar.
Os danos causados ao meio ambiente são incalculáveis. Nos primeiros dias após o rompimento da barragem, animais agonizavam presos na lama contaminada. Agentes do exército executaram a tiros os animais que não tinham mais condições de serem resgatados.
Ao todo, a Justiça bloqueou R$ 11,8 bilhões da Vale. Desse valor, R$ 800 milhões serão destinados para assegurar indenizações trabalhistas a familiares de funcionários da empresa. Além disso, a Vale anunciou que iria “doar” R$ 80 milhões para o município de Brumadinho como forma de compensar a perda de arrecadação com o rompimento da barragem. O valor será pago em dois anos.
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Rio São Francisco
A lama de minério de ferro já chegou ao Rio Paraopeba, que deságua no São Francisco. Com o risco iminente de a contaminação atingir a bacia do Velho Chico, a Vale e o Governo Federal vão tentar reter os rejeitos na barragem da Usina Hidrelétrica Retiro Baixo, distante cerca de 300 Km do local do rompimento. Eles devem chegar entre os dia 5 e 10 de fevereiro. No entanto, especialistas divergem sobre o plano de contenção dos rejeitos e afirmam que uma hora a lama chegará ao Velho Chico.
Propostas de Melhorias
Na manhã desta sexta-feira (1º), gestores públicos, engenheiros, professores e alunos de Engenharia se reuniram na Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC) para propor melhorias na segurança de barragens. A UFC e a Academia Cearense de Engenharia (ACE) irão encaminhar um documento aos órgãos fiscalizadores apontando sugestões de melhorias.
O engenheiro civil da Agência Nacional de Águas (ANA), Rogério de Abreu Menescal, que é formado pela UFC, disse que, nos últimos 19 anos, mais de 800 “acidentes e incidentes” envolvendo barragens ocorreram no País.
Ele afirmou que muitos questionamentos precisam ser feitos para melhorar a segurança nas barragens, a começar pela academia. Indagou se as escolas de Engenharia estão dando a devida “importância para as fases pós-construtivas” de um projeto, não apenas o planejamento e execução. Além disso, perguntou o que cada profissional pode fazer para melhorar padrões ético e técnico da Engenharia nacional.
Inspeção
Ainda nesta sexta (1º), o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) informou que 3.386 barragens que apresentam risco devem ser fiscalizadas até o fim deste ano. Deste número, 205 barramentos de mineradoras terão a inspeção feita até junho, pelo elevado grau de risco. Instituições federais e estaduais serão as executoras da ação.
Além disso, servidores da União podem ser designados para a fiscalização e passarão por treinamentos, que serão ministrados pela Agência Nacional de Águas (ANA), Agência Nacional de Mineração (ANM), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Funcionários estaduais também poderão ser convocados para a inspeção, por meio de cooperações técnicas estabelecidas entre estados e União.