Tecnologia usada de forma heroica no Cariri cearense

Hoje, a Agência Eco Nordeste inicia uma série especial com histórias inspiradoras de convivência com o Semiárido, colhidas a partir do 6º Seminário Internacional de Convivência com o Semiárido, do Centro Xingó / IABS, em Piranhas (AL). A primeira história é a do herói sertanejo Ciswal Santos, que se superou as condições mais improváveis.

Por Maristela Crispim
Editora

Ciswal se inspirou no Batman, super-herói, como ele costuma ressaltar, sem nenhum poder especial, a não ser a tecnologia e a astúcia, para superar os obstáculos da vida

Piranhas – AL / Juazeiro do Norte – CE. O Centro Xingó de Convivência com o Semiárido encerrou novembro e iniciou dezembro entre o 6º Seminário e o 5º Curso Internacional de Convivência com o Semiárido. Entre as vivências, discussões, interações, aprendizados e trocas, falas inspiradoras, muito inspiradoras. Uma delas foi do professor Ciswal Santos, exemplo de superação que partiu do Cariri cearense para o mundo.

A história do menino que se inspirou no Batman, super-herói, como ele costuma ressaltar, sem nenhum poder especial, a não ser a tecnologia e a astúcia, para superar os obstáculos da vida, e conseguiu superar todas as adversidades que a vida impôs com uma enorme resiliência, hoje serve de inspiração para muitos outros jovens, de que é possível atingir objetivos aparentemente inalcançáveis com resistência e determinação, ainda que a vida insista em soprar ventos contrários.

Sem ter como pagar por insumos simples da faculdade, como fotocópias, canetas ou cadernos, ele pensou em diversas possibilidades para conseguir concluir o curso. No auge do desespero, confessa que chegou a cogitar, em pensamentos, saídas ilegais. Mas todo o esforço da mãe para criar a família sozinha veio à sua mente e passou a catar latinhas em um bar de Juazeiro do Norte, onde vive com a família. Nos intervalos, sentava no meio-fio e estudava. O dono do bar, sensibilizado com seu comportamento, se prontificou em juntar as latinhas e entregar para Ciswal durante o dia.

A recompensa pelo sacrifício veio com a formatura em Física. Mas a sede do nosso herói sertanejo por conhecimento o levou a duas outras graduações, em Mecatrônica e em Eletroeletrônica. Depois passou no concurso para o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Juazeiro do Norte, sua ocupação principal. Mas também dá aulas na Penitenciária Industrial Regional do Cariri, conhecida popularmente como Tourão.

Ciswal não ganhou espaço nos noticiários locais, nacionais e até internacionais por isso, mas por um somatório de feitos. Entre eles, ter passado para o curso de extensão em Ciências da Computação na renomada Universidade de Harvard, depois por ter desenvolvido um sistema para garantir energia e acesso à internet para comunidades isoladas do sertão. O que muita gente não sabe é que esse sonho precisou cruzar o oceano para começar a se concretizar. “Faltou apoio. Ninguém quis me ouvir, inclusive o ministro. Por isso decidi ir para uma região em que as pessoas precisem de mim”, resume.

Sem contar com qualquer apoio governamental para realizar o seu sonho e sem recursos para estudar no Estados Unidos, Ciswal contou com valiosas contribuições de pessoas conhecidas e desconhecidas para ir realizando. Por fim, já embaixador da Organizações das Nações Unidas (ONU), desde novembro 2018, fez um empréstimo de R$ 40 mil para implantar seu sistema na Aldeia Mungubu, em Moçambique, no continente africano.

“Quando eu vi aqueles estudantes, aquela escola, aquela comunidade e nenhum empecilho legal para realizar o projeto, decidi que ali valia a pena investir”, conta o nosso herói. E a vida segue, com seus desafios, principalmente para quem não desiste dos sonhos, por mais distantes e irrealizáveis que possam parecer.

Hoje, além de dar aulas e palestras inspiradoras, como a do 6º Seminário Internacional de Convivência com o Semiárido, do Centro Xingó, Ciswal realiza projetos para a melhoria de vida de comunidades desassistidas | Foto: Laís Bahamondes

Centro Xingó

O Centro Xingó de Convivência com o Semiárido tem como objetivo a geração e difusão do conhecimento, a partir do contexto histórico e cultural local. A expectativa é valorizar a troca de saberes, as práticas e experiências inovadoras para a promoção da convivência com o semiárido de forma sustentável, contribuindo com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Objetivos temáticos

INCLUSÃO PRODUTIVA – Promover a produção local e sua inclusão em cadeias de valor para geração de trabalho e renda, além de segurança alimentar para as comunidades locais.
TECNOLOGIAS SOCIAIS – Conhecer, aperfeiçoar e disseminar práticas e tecnologias sociais que aproveitem as potencialidades locais e promovam o bem-estar da população.
MEIO AMBIENTE – Gerar e disseminar técnicas e conhecimentos que promovam a adaptação às mudanças climáticas e a conservação e uso sustentável da caatinga e demais ecossistemas da região.
HISTÓRIA, CULTURA E PROTAGONISMO SOCIAL – Resgatar e valorizar a identidade sociocultural e história local, propiciando a troca de saberes e empoderamento do povo sertanejo, principalmente de mulheres e jovens.

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