Reconhecimento do Geoparque Seridó vai fortalecer a sustentabilidade regional

Currais Novos (RN). O Geoparque Seridó foi reconhecido, no dia 13 de abril, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como um território de relevância geológica internacional. A decisão foi anunciada após a 214ª sessão do Conselho Executivo, em Paris, que endossou a aprovação de oito novos geoparques. A região, que abrange seis municípios do Rio Grande do Norte, entra na seleta lista de 177 Geoparques Mundiais distribuídos em 46 países, assim como o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Antes, o País só contava com o Geoparque Araripe, no Ceará, desde 2006.

O Seridó Geoparque Mundial da Unesco está a 180 km da capital potiguar, Natal e encontra-se na porção centro-sul do Estado do Rio Grande do Norte. Formado por seis municípios: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Currais Novos, Lagoa Nova e Parelhas. O território tem cerca de 2.800 quilômetros quadrados com 21 geossítios que podem ser visitados. Ele é gerido por um consórcio intermunicipal criado a cerca de 2 anos pelos seis municípios.

Considera este conteúdo relevante? Apoie a Eco Nordeste e fortaleça o jornalismo de soluções independente e colaborativo!

“O reconhecimento internacional confirma que este território potiguar tem um patrimônio geológico de relevância global, aliado a particularidades do restante do patrimônio natural e do patrimônio cultural, o que o torna um lugar único no mundo. Esta visibilidade internacional favorecerá um maior desenvolvimento territorial por meio de práticas de conservação da natureza, melhorias na educação e turismo sustentável”, afirma o coordenador científico do Geoparque Seridó, Marcos Nascimento, que é professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Segundo o professor Marcos Nascimento, um dos fatores que levou à chancela do Seridó como Geoparque Mundial da Unesco foi um conjunto de diferentes ações realizadas ao longo de 12 anos, com respeito à identidade local e benefício à população. “Essas ações envolveram as premissas básicas de todo Geoparque Mundial da Unesco que é conservação, educação e turismo, com promoção do desenvolvimento territorial sustentável”, ressalta. Essas ações coletivas contaram com a participação de gestores, população, pesquisadores, guias e condutores de turismo.

Dentre as principais ações, ele destaca o Projeto Macro Educacional “Os Cinco Sentidos do Geoparque Seridó”, que trabalha a popularização do conhecimento geológico (mas também biológico e cultural); a capacitação de guias e condutores de Turismo junto ao Curso Técnicas de Guiamento em Geoturismo; a promoção/divulgação com base no site, nas redes sociais, com diferentes ações realizadas no território.

Isso sem contar com diversos outros trabalhos realizados em parceria com diferentes entidades e órgãos, que incluem Secretaria Estadual de Turismo (Setur) e Empresa Potiguar de Promoção Turística (Emprotur), Procuradoria Geral do Estado do Rio Grande do Norte (PGE-RN), as seis prefeituras do território, UFRN, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte (Sebrae-RN), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Norte (Senac-RN), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Associação dos Municípios da Microrregião do Seridó Oriental (AMSO), entre várias outras, bem como a iniciativa privada.

A ideia é que, a partir do reconhecimento da importância da riqueza natural, a população do território desenvolva atividades voltadas ao turismo e à preservação do patrimônio, com o objetivo de promover desenvolvimento econômico de forma sustentável.

Um dos pilares é o Turismo. No site do Geoparque Seridó, os interessados têm acesso aos contatos de guias em cada um dos seis municípios. Eles, por sua vez, também possuem parcerias com pousadas da região, de forma a manter uma estrutura turística sustentável.

Aspectos únicos

Segundo o professor Marcos Nacimento, o Seridó Geoparque Mundial da Unesco contém diversos aspectos únicos no mundo, com atrações ligadas ao patrimônio natural (geológico e biológico) e cultural (material e imaterial). No caso do geológico, muitos geossítios se destacam,  incluindo as maiores minas de scheelita da América do Sul que se transformaram num parque temático. Também há evidências de um dos mais recentes vulcanismos da plataforma Sul-Americana.

“A paisagem, com montanhas, serras, planaltos e platôs, se veste da Caatinga que embeleza nossa região semiárida, com fauna e flora de encher os olhos”, cita o professor Marcos. Por fim, nas rochas deste geoparque estão registros de povos antigos que aqui viveram há 10 mil anos.

Geossítios (por município)

Cerro Corá
Serra Verde, Cruzeiro de Cerro Corá, Nascente do Rio Potengi, Vale Vulcânico

Lagoa Nova
Mirante de Santa Rita, Tanque dos Poscianos

Currais Novos
Lagoa do Santo, Pico do Tororó, Morro do Cruzeiro
Mina Brejuí
Cânions dos Apertados

Acari
Açude Gargalheiras, Poço do Arroz, Cruzeiro de Acari, Marmitas do Rio Carnaúba

Carnaúba dos Dantas
Serra da Rajada, Monte do Galo, Xiquexique (sítio arqueológico), Cachoeira dos Fundões

Parelhas
Açude Boqueirão, Mirador

Possibilidades de desenvolvimento

O coordenador científico do Geoparque Seridó afirma que, embora a Unesco não aporte recursos financeiros, o reconhecimento deve facilitar a busca de financiamentos, por meio de participação em editais nacionais e internacionais, para desenvolvimento de projetos de pesquisas, desenvolvimento social e de conservação ambiental.

O professor acrescenta que, no território dos Geoparques Mundiais da Unesco busca-se trabalhar diversas frentes ligadas às questões ambientais, como estratégias de conservação em locais de interesse geológico, os geossítios; e criação de unidades de conservação, por exemplo.

Também dá lugar a diversas pesquisas acadêmicas, em diferentes níveis e áreas. “O conhecimento científico do território passa sempre por uma base segura e confiável de dados e informações, com a finalidade de trazer benefícios à população local”, pontua.

São projetos ligados às áreas de Geologia, Geografia e Turismo, principalmente. Na Geologia, por exemplo, desde 2017, todo ano são realizados projetos de extensão, por pesquisadores da UFRN, voltados à popularização do conhecimento geocientífico. Enquanto isso, o Turismo lança mão de ações voltadas à construção de roteiros turísticos, bem como o entendimento da gestão realizada junto ao território que incluem o Geoturismo.

Ele completa que, além da divulgação do território por meio de parceria com a área de turismo do Estado, ações voltadas à infraestrutura estão sendo tratadas com a finalidade de implantar sinalização rodoviária e painéis interpretativos em todos os geossítios.

Desafios

Com o reconhecimento da Unesco e a entrada no Programa Internacional de Geociências e Geoparques, para Marcos Nascimento, o maior desafio é se manter nessa seleta lista de Geoparques Mundiais da Unesco. Isso porque o programa reavalia o território a cada quatro anos e, se não comprovar a promoção do desenvolvimento territorial sustentável, há possibilidade de sair do programa. “Outro desafio é continuar com as diversas ações que já são realizadas e ter criatividade para propor novos projetos, o que já estamos buscando nesses últimos anos, sempre trazendo novidades a cada ano”, completa.

Serviço

No Site do Geoparque Seridó há muito mais informações a serem exploradas

Quer a apoiar a Eco Nordeste?

Seja um apoiador mensal ou assine nossa newsletter abaixo: