Chapada do Araripe conquista título de primeira Paisagem Cultural do Ceará

Vista de uma parte de uma floresta elevada meio verde e meio seca com um vale abaixo e céu nublado

A chancela é exigida como uma das etapas necessárias para a conquista de um título ainda maior: o de Patrimônio Natural da Humanidade, junto à Unesco | Foto: Alice Sales

Por Alice Sales
Colaboradora

Fortaleza – CE. A Chapada do Araripe, situada na divisa entre os Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, acaba de se tornar a primeira Paisagem Cultural do Estado do Ceará. A chancela é exigida como uma das etapas necessárias para a conquista de um título ainda maior: o de Patrimônio Natural da Humanidade, junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)

O título foi aprovado na última semana pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Ceará (Coepa), sob  avaliação de estudos necessários a respeito das riquezas culturais da região. Segundo o Secretário de Cultura do Estado, Fabiano Piúba, o título é importante por oferecer desenvolvimento humano, social, econômico e sustentável, não só para Chapada do Araripe e região do Cariri, mas para todo o Estado, para o Nordeste e para o País.

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O próximo passo é aprimorar um plano de gestão e de proteção apresentado pelo professor Patrício Melo, da  Universidade Regional do Cariri (Urca) e pela pesquisadora Maria da Conceição Lopes, da Universidade de Coimbra, em Portugal.  Mas a corrida para o reconhecimento em nível internacional junto à Unesco não para por aí.

Há pela frente um processo administrativo e jurídico para a publicação do decreto que deverá ser assinado pelo governador Camilo Santana, ainda em sua gestão. Além disso, é necessário ainda que seja realizado todo um trabalho em cima do dossiê de patrimônios naturais e culturais da região, exigido pela Unesco para a candidatura,  por meio de oficinas, seminários e articulações para apresentar na lista nacional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no intuito de que antes a região seja reconhecida nacionalmente. 

Quanto ao impacto que a chancela trará para a região, Alemberg Quindins, gestor cultural caririense, destaca que “o maior benefício não é o recebido e sim o ofertado. A Chapada do Araripe oferece aos biomas do Ceará o olhar cultural sob um território geográfico. Uma dessas ofertas está no curso de pós-graduação em Arqueologia Social Inclusiva da Urca,  uma oportunidade a quem queira, interagir com essa  imersão como vivência laboratorial científica e humana”.

O esforço para o reconhecimento da Chapada do Araripe tem articulado diversas instituições, dentre elas estão a Urca, Geopark Araripe, Fundação Casa Grande, Instituto Cultural do Cariri, Fecomércio, Secretaria da Cultura do Estado do Ceará  (Secult Ceará). Serão iniciados debates para a consolidação do Plano de Gestão e Proteção da Chapada do Araripe, por meio da pactuação dos entes da sociedade civil, da iniciativa privada e do 3º Setor, que farão a gestão compartilhada. 

Primeira Paisagem Cultural do CE 

A Chapada do Araripe é conhecida por abrigar características naturais, históricas e culturais peculiares, que requerem mais reconhecimento e preservação. Berço de diversas manifestações culturais do País, a região transborda arte e memória, um lugar onde a ancestralidade se expande e se conserva.

O lugar registra os mais antigos sinais da existência da humanidade no Ceará, sendo território dos Povos Originários Kariri. Além disso, sua localização geográfica é privilegiada, já que o Cariri cearense fica no entorno da Bacia Sedimentar do Araripe, que faz divisa com outros dois estados, Pernambuco e Piauí.

Importantes atributos físicos, biológicos e antropológicos do território merecem destaque. Dentre eles, uma geologia fantástica e diversificada; solos classificados como extraordinariamente interessantes em função das espécies; a possibilidade de os jovens locais não precisarem abandonar a região para estudar e seguir carreiras profissionais; e a ocorrência do  Soldadinho-do-Araripe, ave ameaçada de extinção endêmica da Chapada do Araripe.

A apresentação do Território da Chapada e a proposta de salvaguarda em nível estadual e nacional, para que posteriormente seja encaminhada e solicitada a chancela para Patrimônio Mundial da Unesco, foram realizadas pelo professor Patrício Melo. Ele ressaltou os povos, os valores históricos/ antiguidade, valores de uso social, espirituais e religiosos, as manifestações entre outros que já são salvaguardados pelo Conselho, como é o caso dos sítios arqueológicos, dos mestres da cultura, festas e romarias. Além disso, foram ressaltados outros aspectos mitológicos, de irmandade de penitentes, folguedos, artesanato, sítios geológicos, vegetação da Caatinga e vegetação de Cerrado.

Os trabalhos para a chancela da região, tiveram início em 2019, com o Seminário Internacional Patrimônio da Humanidade, seguido pelo lançamento oficial do Comitê Intersetorial e início dos trabalhos do Comitê Técnico.  “Em 2020, foi feita visita ao Iphan e a primeira solicitação da inclusão na lista nacional de patrimônios, assim como o início do Projeto Dossiê Chapada do Araripe. 2021 contou com a elaboração do relatório técnico que subsidiou o pedido de Chancela Estadual Paisagem Cultural do dossiê”, destacou o professor Patrício.

A estimativa é que entre os anos de 2024 e 2025 seja oficializada a candidatura a Patrimônio da Humanidade junto à Unesco. “Destaco aqui o pioneirismo do Ceará, ao ter uma lei própria que institucionaliza a Paisagem Cultural. Assim abrimos o caminho para que novas paisagens culturais possam se candidatar. Agora, estamos dando um passo à frente para inserir a Chancela de Paisagem ao processo de pedido de chancela nacional, junto ao Iphan”, enfatiza o secretário Fabiano Piúba. 

A pesquisadora Maria da Conceição ressalta que esses esforços  pretendem, antes de tudo, que façamos da Paisagem uma estratégia de contribuição de melhor qualidade de vida. ”Uma estratégia baseada na sustentabilidade e na autenticidade. Valorizar a paisagem local como fator identitário e estratégias para a competitividade territorial e a sua inclusão nos instrumentos de gestão territorial, adquire relevância acrescida pelas funções ambientais, de conservação da natureza e de turismo”.  

Humanização no pedido  

A apresentação sobre a humanização no pedido da Chancela como Patrimônio da Humanidade ficou a cargo do gestor Alemberg Quindins:

“Trazemos um processo de humanização com a aplicação dos museus orgânicos, dos Cursos de Arqueologia Inclusiva, que trazem estudos de processos de territorialização, da hospedagem em casas de moradores, processos como a gestão do teleférico do Horto, em que as ações se dão de forma integrada, conjunta com inúmeros locais, com os mestres, com as instituições regionais e estaduais. Estamos falando de uma aplicabilidade do que a Paisagem Cultural dá à humanidade. É uma beleza o que está sendo construído neste dossiê, já sabendo que ele faz hoje parte de disciplinas do curso de Turismo e Sociologia”, finaliza o gestor cultural.

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