Tecnologia reúne segurança hídrica, produção de alimentos e geração de energia no NE

Foto de horta suspensa em seis canos de PVC brancos. Uma placa branca indica: ECOLUME - SISTEMA AGROVOLTAICO. Atrás da horta (lado esquerdo da foto) há uma caixa dágua azul. Ao fundo, cisterna, ruínas de uma construção antiga, vegetação e céu nublado. A área da horta está envolta por uma tela fina

A tecnologia conhecida como Ecolume, idealizada por pesquisadores pernambucanos e validada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi apresentada pelo professor da Fundação, Wilson Nobre, durante o evento que reuniu pesquisadores, autoridades e instituições de todo o Planeta para expor conteúdos relacionados ao nexo água-energia

Por Alice Sales *
Colaboradora

Um caso de sucesso no Semiárido brasileiro que agrega segurança hídrica, produção de alimentosgeração de energia em uma única tecnologia voltada para agricultores familiares foi apresentado no I Simpósio global de soluções sustentáveis sobre  água e energia, promovido pela Itaipu Binacional em parceria com o Departamento da Nações Unidas  de Assuntos Econômicos e Sociais (Undesa) e membros da  Rede de Soluções Sustentáveis para Água e Energia. A tecnologia, conhecida como Ecolume, idealizada por pesquisadores pernambucanos e validada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi abordada pelo professor da Fundação, Wilson Nobre, durante o evento que reuniu pesquisadores, autoridades e instituições de todo o planeta para expor conteúdos relacionados ao nexo água-energia.

Trata-se do primeiro sistema agrovoltaico do País. A unidade demonstrativa do Ecolume foi instalada na Escola de Agroecologia Serta, no município de Ibimirim (PE), sob coordenação do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). Com um investimento de cerca de R$ 20 mil, o sistema de produção é um modelo consorciado de alimentos e energia solar, com uso integrado de tecnologias de reuso de água e captação de água da chuva.

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A estrutura do Ecolume consiste em 10 placas fotovoltaicas instaladas a aproximadamente dois metros do solo, numa área total de 24 m². Embaixo da estrutura está instalado um sistema de aquaponia, onde são cultivadas hortaliças e peixes de modo combinado, além de um galinheiro. O sistema também trata e recicla água, e permite economizar 90% no uso desse recurso para irrigação.

Francis Lacerda, climatologista do IPA e coordenadora do Ecolume, relembra que a ideia do projeto nasceu do questionamento de como seria possível garantir a segurança hídrica, alimentar e energética frente às mudanças climáticas, no Semiárido brasileiro.  “Esse questionamento levou os pesquisadores a proporem soluções que pudessem fazer frente a esses três temas de forma sinérgica, levando em consideração as mudanças climáticas e seus impactos como a tendência à aridez, desertificação e altas taxas de evaporação devido ao aumento das temperaturas”. O grande potencial que o Nordeste brasileiro possui para a energia solar também foi um aspecto levado em consideração quando o projeto foi pensado.

A climatologista ressalta que, por meio do Ecolume, foi possível provar que é viável produzir alimentos o ano inteiro, com pouca água e nenhum agrotóxico,  independentemente do clima em um sistema que evita perdas de água por evaporação, já que a área está sombreada. Além disso, o sombreamento oferecido pela plantação refresca as placas solares e aumenta a potencialidade da geração de energia. Isso porque as placas solares geralmente tendem a superaquecer em ambientes muito quentes como no Semiárido, o que as fazem perder eficiência energética. Com a presença das plantas embaixo, as temperaturas se tornam ideais e garantem a geração de energia com mais eficiência. 

“Distribuir as placas solares em pequenos módulos também auxilia a produção de energia firme. Isso evita a variação da produção causada pela cobertura das nuvens porque, enquanto algumas áreas estão sombreadas, outras não estão”, explica. 

Apesar de ter sido pensado em um modelo pequeno, próprio para a agricultura familiar, é possível produzir uma quantidade de hortícolas considerável com o Ecolume, em uma colheita capaz de suprir as necessidades básicas de uma família de pelo menos sete pessoas.  “Com esse modelo, conseguimos produzir alimentos o ano inteiro. Na escola onde está instalada a tecnologia sobram alimentos produzidos. Se espalharmos o Ecolume em várias unidades pelo Nordeste, é possível solucionar problemas como a insegurança alimentar e pobreza energética em territórios do Semiárido”.  

A degradação de áreas da Caatinga e a desertificação também são problemas que podem ser atenuados com a tecnologia. De acordo com a coordenadora do Projeto, se pequenos conjuntos do Ecolume fossem espalhados apenas em áreas já degradadas ou em desertificação seria possível gerar energia solar para o Brasil todo, além de que o sombreamento dessas áreas permitiria a recuperação do solo.  

Intercâmbio em soluções
sustentáveis em água e energia

Palco onde há seis cadeiras em armação cromada com estofamento em couro preto e há cinco pessoas sentadas, quatro homens brancos de terno escuro e uma mulher loura com blaser verde. À direita um homem discursa em um púlpido com a logomarca da ITAIPU. Abaixo na foto, em primeiro plano, aparece uma parte da platéia sentada. Atrás do palco, há um painel projetado: GLOBAL SYPOSIUM ON SUSTAINABLE WATER AND ENERGY SOLUTIONS - 13-15 JUNE 2022 - ITAIPU BINACIONAL | PAGAGUAY/BRAZIL

I Simpósio Global em Soluções Sustentáveis em Água e Energia que ocorreu entre Foz do Iguaçu – PR (Brasil) e o distrito de Hernandarias (Paraguai), no mês de junho

Atualmente mais de 733 milhões de pessoas carecem do acesso à energia elétrica e mais de 2 bilhões são prejudicadas pela crise hídrica. Ambos os recursos enfrentam demandas e restrições crescentes em muitas regiões devido aos impactos combinados das mudanças climáticas, expansão econômica e crescimento das populações. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), até 2035, o consumo de energia deverá aumentar em 50%, o que, por sua vez, aumentará o consumo de água do setor energético em 85%.

“Precisamos urgentemente de soluções sustentáveis exequíveis para fomentar o nexo água-energia e garantir a segurança hídrica global. Para que isso aconteça, temos que trabalhar com as interligações entre ação climática, proteção ambiental e desenvolvimento socioeconômico, reconheço os impactos entre eles”, afirma Liu Zhenmin, subsecretário-geral do Departamento das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais (Undesa).

Neste cenário, pesquisadores, líderes do setor público e privado, representantes da ONU e autoridades estiveram reunidos no I Simpósio Global em Soluções Sustentáveis em Água e Energia que ocorreu entre Foz do Iguaçu – PR (Brasil) e o distrito de Hernandarias (Paraguai), no mês de junho.  

Em uma vasta programação que reuniu profissionais de diversos países, o evento contou com discussões sobre a temática e compartilhamento de informações, estudos, inovações tecnológicas e casos de sucesso que envolvem o nexo água-energia.  Além disso, esse também foi um momento de examinar finanças e investimentos, parcerias público-privadas, estruturas institucionais,  tomada de decisão e políticas para gerenciar compensações e maximizar impactos positivos.

“Para a Itaipu, é uma honra sediar um evento que apresenta as melhores práticas em água e energia, que são questões centrais no desenvolvimento sustentável. Quando esses dois elementos são geridos de forma sustentável, as comunidades e o meio ambiente se beneficiam”, disse o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Anatalicio Risden Junior.

Dentre os temas abordados durante o Simpósio, tiveram destaques: Estudos de caso de água e energiaInterligações ambientais e mudanças climáticas; Cooperação transfronteiriça de água e energia e interligações ambientais; Interligações sociais e econômicas; e recomendações prioritárias para um futuro  sustentável. As ideias compartilhadas durante o evento estiveram interligadas às discussões relacionadas ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como ressalta o  diretor-geral paraguaio da Itaipu, Manuel María Cáceres Cardozo:

“Itaipu é fruto de uma parceria internacional. E acreditamos que os ODS nos estimulam – governos, empresas e organizações de todo o mundo – a agir de forma cooperativa. Portanto, este Simpósio Global é uma oportunidade de unir esforços, compartilhando conhecimentos e lições aprendidas sobre soluções sustentáveis de água e energia”.

As mudanças climáticas e os caminhos para frear seus efeitos foi uma das maiores preocupações e desafios citados pelas autoridades e pesquisadores presentes.  Para o líder da equipe de energia sustentável do Undesa, Minoru Takada, a sociedade de maneira geral precisa se comprometer em zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2050, de forma que se consiga frear o aquecimento global, dentro das metas estabelecidas pelo acordo de Paris:

“Essa meta climática só será atingida por meio de energias renováveis e é por isso que estamos aqui. Para entender como a Itaipu trabalha com essa questão. Até 2030 nós temos que triplicar os investimentos em energia renovável no mundo. Então por isso nós também estamos aqui pra ver como fazer essas parcerias, inclusive do ponto de vista de finanças, como viabilizar recursos para esses investimentos”.

As preocupações com o Meio Ambiente sempre estiveram na pauta da Itaipu, desde a época em que a Usina, considerada uma das maiores hidrelétricas do mundo, começou a ser planejada, o que a tornou, ao longo dos anos, uma produtora não só de energia, mas também de água, é o que relata Ariel Scheffer, superintendente de Gestão Ambiental da Itaipu Binacional: “Viramos produtores de água na região ao recuperar bacias hidrográficas e nascentes. Um exemplo é o Rio Maracaju, onde a gente colocou floresta e a água voltou”.  

Para tanto, o General Luiz Felipe Carbonell,  diretor de coordenação da Itaipu destacou que é fundamental olhar para o território onde está inserido o reservatório e voltar esforços para a recuperação e conservação das florestas do entorno do lago, recuperação de nascentes e trabalhos socioambientais dedicados às comunidades do entorno das áreas da Itaipu

Como prova disso, em um esforço de 42 anos de trabalho, o reflorestamento das áreas do entorno do reservatório da usina teve início em 1979, quando uma primeira linha de árvores foi plantada na faixa de proteção da margem esquerda da área inundada. A ideia do reflorestamento partiu também do princípio de garantir os serviços ecossistêmicos prestados pela floresta e solo, a fim de proteger o reservatório dos danos causados pela sedimentação e assim garantir a vida útil do lago.  

Ao todo,  são 100 mil hectares de florestas preservadas nas margens Paraguaias e Brasileiras do reservatório, totalizando 1.400 km de extensão da mata ciliar do lago apenas no Brasil. Além disso, 400 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica são produzidas anualmente no viveiro da Itaipu, que conta com um importante e diversificado banco de germoplasmas do bioma.  

Itaipu Binacional

Localizada no Rio Paraná, entre Brasil e Paraguai, a usina hidrelétrica de Itaipu Binacional é uma das maiores geradoras de energia limpa e renovável do mundo. Os projetos da empresa nas áreas de conservação da biodiversidade e manutenção de serviços ecossistêmicos e de culturas locais são um forte exemplo de esforços conjuntos entre dois países com trabalho para alcançar o desenvolvimento sustentável e a liderança na ação climática

Undesa

Principal departamento de desenvolvimento do Secretariado das Nações Unidas, o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (Desa) trabalha em uma ampla gama de questões econômicas, sociais e ambientais, com a missão central de promover o desenvolvimento sustentável para todos.

* A jornalista viajou a Foz do Iguaçu  a convite da Itaipu Binacional

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