Por Adriana Pimentel
Colaboradora
Arame – MA. A impunidade dos crimes contra indígenas segue deixando vítimas pelo caminho. Zezico Rodrigues Guajajara, liderança indígena da Tribo Araribóia e diretor do Centro de Educação Indígena Azuru, foi encontrado morto a tiros na Estrada da Matinha, na última terça-feira (31), próximo à Aldeia Zutiua, no município de Arame (Maranhão). No último dia 29, Zezico havia sido nomeado coordenador regional da Comissão de Caciques e Lideranças da Terra Indígena Araribóia (Cocalitia).
Zezico é o quinto membro do Povo Guajajara a ser morto nos últimos quatro meses, sendo quatro deles assassinados entre novembro e dezembro de 2019. Dentre eles, Paulo Paulino Guajajara, que era integrante do grupo de Guardiões da Floresta, que tinham como missão vigiar e proteger suas terras.
A insegurança já vem sendo denunciada por muitos membros das comunidades. Zezico era um dos que alertava. “As ameaças são quase contra todos nós, lideranças e caciques. O governo nunca tomou providências” , chegou a afirmar à imprensa.
Isso pode ser comprovado com dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Segundo eles, com este assassinato, o número de homicídios registrados contra indígenas do Povo Guajajara, desde o ano 2000, chega a 49, sendo 48 no Maranhão e um no Pará.
A Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) já acionou, por meio da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), a Força Tarefa de Proteção a Vida Indígena (FT-Vida).
Os direitos dos indígenas são violados ao longo da história do Brasil. E um dos momentos mais graves foi justo um 31 de março, em 1964, quando a ditadura militar tomou o poder e os Povos Originários sofreram muitas violações. Segundo a Comissão Nacional da Verdade (CNV) ao menos 8.350 indígenas foram mortos entre 1946 e 1988, conforme destacou a @midiaindiaoficial.
A omissão e perseguição do atual Governo Federal, coloca as vidas e terras indígenas em situação ainda mais vulneráveis, principalmente com o incentivo à ação de madeireiros, garimpeiros, grileiros e mineradores que atuam nessas regiões livres de fiscalização ou qualquer punição por seus atos criminosos.
Muitas entidades de defesa dos povos indígenas se manifestaram pedindo justiça para mais esse homicídio, entre elas o Instituto Socioambiental declarou:
“Em solidariedade aos familiares de Zezico e ao povo Guajajara, exigimos que:
1 – o Poder Público realize ações de fiscalização e proteção na Terra Indígena Arariboia, assim como nas outras terras indígenas do Maranhão, e que retire imediatamente os invasores, especialmente em meio à pandemia da Covid-19
2 – o Estado responsabilize os invasores e os responsáveis pelos assassinatos de lideranças Guajajara e de outros povos indígenas
3 – o Estado garanta medidas emergenciais de proteção aos povos isolados e à saúde dos povos indígenas
4 – que os Três Poderes, especialmente o Poder Executivo, cumpram com sua obrigação constitucional de demarcar, fiscalizar e proteger todas as terras indígenas do Brasil
E conclamamos o Ministério Público Federal (MPF), a Defensoria Pública da União (DPU) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acionem a Justiça para garantir os direitos indígenas, sobretudo à proteção e demarcação territorial.
#Sangueindigenanenhumagotaamais
#zezicoguajajarapresente
#PauloPaulinoGuajajaraPresente
#FirminoPrexedeGuajajaraPresente
#RaimundoBenícioGuajajaraPresente
#ErisvanGuajajaraPresente”
Nota da Funai
Em nota publicada nesse dia 31 de março, a Fundação Nacional do Índio (Funai) lamentou a morte da liderança indígena Zezico Rodrigues Guajajara e destacou que o Departamento de Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública do Estado já foram acionados. Por fim, declarou: “A Funai vem acompanhando o caso e se encontra à disposição para colaborar no que for possível com as investigações dos órgãos de segurança competentes para apurar a causa da morte”.