Fortaleza – CE. Uma das comunidades mais vulneráveis de Fortaleza, que teve sua situação agravada durante a pandemia da Covid-19, enfim, vai receber socorro. No próximo dia 11, a Cruz Vermelha Brasileira no Ceará (CVB-CE) vai iniciar um trabalho de desinfecção nos bairros que abrigam ciganos. O primeiro a receber o controle sanitário será o Barroso, onde residem 30 famílias.
A escolha não foi aleatória. O primeiro cigano a falecer no Ceará, no dia 2 de junho último, pela Covid-19, foi Antônio Ferreira dos Santos, o cigano Barroso, 63, que residia no bairro Sumaré, em Sobral, no Norte do Estado. Como o apelido sugere, Antônio Ferreira era natural de Fortaleza e a maior parte da sua família reside no Barroso.
O seu irmão, Ataliba Ferreira dos Santos, foi contaminado aqui em Fortaleza – possivelmente no contato com familiar – e passou 22 dias internado na UTI do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), causando grande apreensão aos demais ciganos que residem no Barroso. Ataliba já se encontra em casa, ainda em recuperação, embora bastante fragilizado.
“É da tradição do nosso povo o contato diário. Para vocês terem uma ideia da situação, pela precariedade e necessidade, temos menos de 20 casas que abrigam ciganos. Somente numa delas moram cinco famílias. Eles estão espalhados nas sete ruas que serão desinfectadas”, revela Rogério Ribeiro, presidente do Instituto Cigano Brasil (ICB).
A Cruz Vermelha também realizará o mesmo trabalho na Granja Portugal e em Catuana, Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), na Comunidade dos Trilhos, onde também temos uma grande presença de ciganos. No Ceará, moram cerca de 20 mil ciganos. No Nordeste, eles são aproximadamente 600 mil. No Brasil, três milhões.
Rogério explicou que também solicitou ajuda da Cruz Vermelha para a realização da prevenção em Sobral e Crateús, onde casos da Covid-19 já foram registrados entre ciganos. “Nesse primeiro momento, não foi possível, mas espero que a ajuda possa chegar até eles o mais breve possível. Temo que aconteça o pior, já que a epidemia agora é que está se alastrando pelo interior”, firma Rogério.
Essa não é a primeira ação de desinfecção realizada pela Cruz Vermelha no Ceará. As ações vêm sendo realizadas desde o dia 9 de abril na Capital e no Interior do Estado. O objetivo é reduzir o risco de contaminação da população por vírus e bactérias neste período de pandemia e tem privilegiado locais de grande movimentação. Os voluntários que participam da desinfecção usam bombas costais para pulverizar dicloroisocianurato de sódio nas superfícies e partes internas e externas. A solução tem eficácia comprovada cientificamente no combate à Covid-19 e é utilizada em países de todo o mundo para higienização de locais públicos.
A CVB-CE já realizou ações de desinfecção em diversos espaços públicos municipais e estaduais em Fortaleza, na Catedral Metropolitana, na Praça do Ferreira, na Centrais de Abastecimentos do Ceará S. A. (Ceasa), hospitais públicos. A instituição também tem atendido as solicitações de diversos municípios, como Itapajé, Tejuçuoca, Tamboril, Acopiara, Iguatu, Ipaumirim, Lavras da Mangabeira e Várzea Alegre.
Memorial
Os ciganos que morreram no Brasil pela Covid-19 estão tendo suas histórias preservadas no Memorial Virtual criado pelo ICB. Nessa quinta-feira (2), mais duas vítimas, uma na Bahia e outra em Cuiabá, se juntaram aos 11 ciganos que haviam morrido. O instrumento digital pode ser acessado clicando aqui.
Das 13 vítimas – até a publicação desta matéria-, duas faziam parte das comunidades ciganas que residem no Ceará. Além de Antônio Ferreira dos Santos, o Barroso, 63, que era músico; a segunda foi Solimar Melo, que ficou quase um mês entubado num hospital em Crateús, onde residia e faleceu no dia 11 de junho. Ele deixou um filho de 14 anos e esposa.
“O Memorial é uma grande iniciativa, é muito valioso. Muito bonito mesmo. Estamos ainda muitos tristes com a morte do nosso ente querido, mas estou feliz em saber que a memória dele permanecerá”, diz emocionado Joaquim Ferreira, irmão de Barroso.