Dagoberto e Grace estão morando na Austrália desde um tempo. Com mil argumentos de fuga foram-se e o importante é que estão felizes por lá. Polêmicas sobre a prosperidade da Austrália à parte, trabalham na profissão, já compraram casa de cidade, casa de férias, as crianças crescem com ar livre, sem medo e com alegria. Parece o paraíso e evito falar dos povos originários assassinados, violados em sua cultura, seus direitos, sua humanidade.
Afinal há anos que não vinham para o Natal. Aqui estão e estamos reunidos na casa de um dos casais, o grupo que se formou numa campanha eleitoral e consolidou amizade para sempre. Isso aconteceu comigo algumas vezes e é engraçado, uma vez que o ambiente de campanha é de competição e cancelamento real, a cada minuto. Tenho tido a sorte de, quase sempre, ter vencido a solidariedade e a compaixão.
O anfitrião está atrasado, preso numa reunião de condomínio. A companheira adianta as coisas na cozinha, serve drinques, com a participação de todos. Não somos muitos. A conversa é numa roda só, em torno de atualizar as novidades de cada qual. Uns mais sofridos que outros, umas mais animadas que outras. No saldo vamos bem. Não tem faltado trabalho, vamos escapando da violência urbana, temos amor e dor pra rimar e chamar de nossos.
Finalmente Ademir sobe, com cara de chateado. A reunião não foi bem. Sua proposta de colocação de um teto verde sobre a cobertura da área de sombra da piscina não foi aceita. – Gente ignorante, cabeça dura! – pragueja. Dália, a esposa, contemporiza – Meu bem, não conseguem uma ação básica de separar o lixo, tinha graça entenderem as virtudes de um teto ecológico! – pondera, rindo. Pois não acho nadinha engraçado, – devolve Ademir, sinceramente zangado.
A ideia é simples e óbvia, – explica-nos ele, recuperando o entusiasmo. – Aliás, cabe em qualquer casa, qualquer bairro, qualquer classe – detalha. Só não evolui por pura falta de vontade política, estupidez, mesmo – enfatiza. Evito me meter porque sou a chata que só puxa assunto sério. Concordo muito com Ademir. São medidas viáveis, possíveis num prazo curto, a custos baixíssimos. O que falta para aderirmos a um mundo de práticas mais aprazíveis. Que estão ao alcance de todos.
Onde está o nosso coração?