Saberes, diversidade e tradição marcam abertura do Encontro Sesc Povos do Mar 2019

 

Durante a exposição, Francisco José de Castro, pescador da praia de Bitupitá, apresenta os pescados da região | Foto: Filipe Pereira.

A abertura do Encontro Sesc Povos do Mar 2019 foi regida por regata de jangadas, música e diversas expressões de cultura e tradição. Na manhã do último domingo (22), jangadeiros da Vila do Mar hastearam suas velas e saíram da Enseada do Mucuripe em direção à Foz do Rio Ceará, anunciando o início de mais uma edição do evento, que vai até a próxima quinta-feira (26). À noite, os participantes que representam as comunidades costeiras e o público visitante se reuniram para a solenidade de abertura, no Sesc Iparana Hotel Ecológico.

Na ocasião, se apresentaram em cortejo os grupos de maracatu Vozes da África, Baobá e Az de Ouro, além do grupo de bonecos gigantes Universo Negro de Aracati e a Banda Municipal Aldenor Barbosa, do município de São Gonçalo de Amarante. A noite foi encerrada com show de Amelinha interpretando canções de Belchior.

Se apresentaram em cortejo os grupos de maracatu Vozes da África, Baobá e Az de Ouro | Foto: Filipe Pereira

O primeiro dia de evento contou com apresentações e degustações de atrações gastronômicas como a tradicional basquetada, prato típico dos pescadores cearenses, que no retorno da pesca costumam cozinhar peixes e frutos do mar com farinha de mandioca, produzindo um pirão. Os visitantes também tiveram a oportunidade de degustar peixe assado na quenga do coco e Camurupim assado na brasa.

Francisco José de Castro, pescador da praia de Bitupitá, no município de Barroquinha, conta que a pesca é uma atividade tradicional do lugar onde vive. Ele trouxe para o evento os pescados da região: “temos camurupim, xarel, cará, cavala, espada, sardinha e arraia.

Na nossa praia, nesta época, está dando muito o peixe-espada: em média conseguimos pescar mil quilos de espada por curral, ao dia. A maioria desses peixes é vendida para um comprador da China”. O pescador ressalta o quanto se sente orgulhoso em participar do Sesc Povos do Mar: “É muito gratificante estar aqui mostrando para todos o nosso trabalho e a cultura da minha praia”.

Nesta edição, mais de duzentos povos litorâneos de 24 municípios e cerca de duzentas localidades das serras e sertão estão presentes na exposição. Representando a Tribo Jenipapo-Kanindé, o líder comunitário Heraldo Alves (Preá), filho da Cacique Pequena, fala sobre a importância de expor a cultura e tradição de sua comunidade por meio de produtos artesanais feitos pelo seu povo: “trouxemos pulseiras, colares, brincos, doces, cocadas e alguns dos nossos artesãos estão pintando os visitantes com as pinturas corporais tradicionais da nossa etnia. É muito importante trazer o nosso material até aqui, divulgar nossa cultura. Na nossa aldeia trabalhamos com turismo comunitário e queremos falar sobre isso também, com a intenção de aproximar as pessoas”.

O artesanato feito a mão é uma das atividades valorizadas durante o evento. Quem visita o Sesc Povos do Mar se depara com peças artesanais feitas manualmente, frutos de tradições que passam de geração em geração e garantem o sustento de muitas famílias.

Este é o caso da rendeira Ozália da Silva, da Praia da Baleia, no município de Itapipoca. A artesã aprendeu a tecer a renda ainda criança, ensinada por sua mãe. “Quase todas as mulheres da comunidade aprendem a fazer renda desde pequenas, porque lá é tradição. Me sinto muito feliz em fazer uma peça e ver alguém vestindo o meu trabalho e aqui eu tenho essa oportunidade de dar visibilidade e ter reconhecimento pelo que fazemos”, ressalta.

A artesã Ozália da Silva aprendeu a tecer a renda ainda criança, ensinada por sua mãe | Foto: Filipe Pereira

Expor vivências, diversidades, respeitar as peculiaridades de cada comunidade e combater o preconceito é uma das grandes motivações do Encontro. A exemplo disso, o Instituto Cigano do Brasil conta com um estande onde apresenta suas práticas culturais e busca pelo reconhecimento, visibilidade e redução do preconceito que ainda hoje há contra os ciganos.

Segundo Rogério Ribeiro, presidente do Instituto e representante da etnia Calon, esta é a primeira vez que o povo cigano se faz presente com estande no Encontro Sesc Povos do Mar. “Este é um evento que agrega cultura, história, saberes e o pertencimento. Queremos aqui nos conectar e mostrar para as pessoas que nós ciganos podemos viver em comunidade e que somos pessoas do bem. Às vezes não podemos sequer dizer que somos ciganos, por causa do preconceito e perseguição que sofremos. Queremos oportunidade de mostrar quem somos e este é um ótimo momento”, enfatiza.

Sobre o evento

O Encontro Sesc Povos do Mar é um dos maiores eventos culturais do Brasil dedicado aos grupos nativos das comunidades costeiras. Em sua 9° edição, durante cinco dias, cerca de 400 representantes ficam hospedados no Sesc Iparana Hotel Ecológico. São mestres de cultura, rendeiras, pescadores, indígenas das 14 etnias do Ceará, grupos de tradição que se encontram para apresentar o que apenas os nativos conhecem: a sabedoria de quem tem a vida ligada ao mar.

Durante o Encontro, a programação se divide em cinco eixos, que contemplam diversos aspectos das relações comunitárias:

Sabores, Saberes e Saúde ensina a culinária tradicional e inovadora, criada pelas famílias de pescadores, assim como a medicina popular

Feito à Mão é dedicado ao artesanato, com a feira “Onde há rede, há renda”, que expõe peças de bilro, labirinto, crochê, louças de barro, entre outros

Meio Ambiente e Sustentabilidade, com as experiências de preservação ambiental nos mangues e praias em destaque

Cantos, Danças e Brincadeiras mostram folguedos como Castelos, Reisados, Bois, Pastoris, Coco, Caninha Verde, Maracatu, Calungas, Cassimiros e Mamulengos ainda existentes no Ceará

Dragões do Mar homenageia os conhecimentos e habilidades dos mestres jangadeiros em suas embarcações

“Os temas são escolhidos para conhecer, valorizar e difundir práticas comunitárias de associativismo, assim como as relações colaborativas e de reciprocidade entre as pessoas, os coletivos e comunidades. Queremos evidenciar as relações de afetividade, de circunvizinhança, fortalecimento de processos identitários e identificação de memórias”, explica Paulo Leitão, consultor do Sesc para projetos especiais e um dos idealizadores do Encontro.

V Encontro Herança Nativa

Após o encerramento do Povos do Mar, no dia 26 é iniciado o V Encontro Herança Nativa, projeto do Sesc destinado aos povos originários vindos de 35 cidades do Ceará: indígenas, quilombolas, ciganos, sertanejos, povos de terreiro, dentre outros. Todos os anos, jovens e anciãos realizam as Oficinas Saberes e Artesanias, guiam vivências, dialogam nos Círculos de Cultura e mostram tradições em apresentações socioculturais abertas ao público no Sesc Iparana Hotel Ecológico.

Serviço

O quê: IX Encontro Sesc Povos do Mar
Quando: 22 a 26 de setembro – das 7h30 às 20h30
Onde: Sesc Iparana Hotel Ecológico (Av. José de Alencar, 150 – Caucaia)
Programação completa no site
Aberto ao público
Conheça o projeto: https://www.sesc-ce.com.br/povos-do-mar-heranca-nativa/

O quê: V Encontro Sesc Herança Nativa
Quando: 26 a 29 de setembro – das 7h30 às 20h30
Onde: Sesc Iparana Hotel Ecológico (Av. José de Alencar, 150 – Caucaia)
Programação completa no site
Aberto ao público

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