Experimento de dança exalta sagrado feminino em aldeia indígena do Ceará

O Corporificar investiga o sagrado feminino raiz a partir de uma construção e entendimento indígena no Litoral Oeste | Fotos: Luana Sousa / Luan de Castro Tremembé

Itapipoca – CE. Durante os meses de fevereiro e março o experimento em dança Corporificar, da artista Rafaela Lima, leva atividades presenciais e on-line a companhias de dança e escolas de cultura de Itapipoca. As atividades são direcionadas a integrantes da Cia Balé Baião, Escola Livre Balé Baião, Nós de Dança e Cia Rastro, convidados previamente. Além das atividades para esse público, o experimento realiza eventos na Aldeia Tremembé da Barra do Mundaú.

Devido à pandemia da Covid-19, o número de participantes é limitado e, no caso das atividades presenciais, são tomadas medidas como distanciamento social e uso de álcool em gel e máscara.

Contemplado no Arte Livre – Edital de Criação Artística Lei Adir Blanc Ceará em 2020, Corporificar investiga o empoderamento da mulher a partir de uma cosmovisão indígena do interior cearense.

Ação de resistência

O Projeto tem influência do sagrado feminino presente nos rituais Tremembé da Barra do Mundaú. Trata-se de uma ação de resistência num contexto em que os corpos femininos ainda são objetificados e violentados, problema agravado pelo contexto da pandemia. É ainda uma forma de contornar os desafios enquanto classe artística, que sofreu diretamente com o afastamento do público nesse período.

A pesquisa surgiu durante o isolamento social, quando a artista Rafaela Lima participou do laboratório corporal “Cuerpo visceral” idealizado e facilitado pela artista de dança colombiana Daniela Yara Cantillo Castrillon. A vivência resultou em um experimento corporal onde Rafaela iniciou uma investigação do movimento visceral feminino a partir do reconhecimento e afirmação de seus traços corporais ancestrais e a corporificação do elemento água.

O trabalho expõe a subjetivação dos corpos-mulheres diversos e singulares que se aglutinam nessa investigação. O experimento alimenta-se do lugar performativo e político desses corpos e conta com a participação de outras artistas da área da dança.

Rafaela Lima é artista de dança, performer, pedagoga, especialista em gestão cultural e integrante da Cia Balé Baião. Produtora cultural no Galpão da Cena e artista docente na Escola Livre Balé Baião, ambas escolas da cultura do Estado do Ceará localizadas em Itapipoca.

“A pesquisa do Corporficar parte de uma etnografia e cenografia do corpo na cena da dança cearense numa perspectiva indígena interiorana a partir do momento que percebo minha experiência de mulher-corpo-ancestral soterrado pela europeização que nega sua responsabilidade histórica no enraizamento do patriarcado sobre nosso corpos”, afirma Rafaela.

E detalha: “O projeto Corporificar parte do entendimento que o corpo da mulher é tão sagrado quanto a natureza que nos rodeia e que toda nossa força e cura esta nela. Há uma grande emergência de nós mulheres resgatarmos nossas práticas ritualísticas de cura, cuidado e afirmação das nossas identidades ancestrais, na mesma perspectiva que temos que olhar para a natureza, para o mundo com esse entendimento de sagrado e que também emergentemente nos pede uma ação de cura e cuidado, assim como é o corpo das mulheres em sua diversidade”.

Acessibilidade

As ações terão uma profissional intérprete de Libras durante a fala de abertura das apresentações, nas oficinas e roda de conversa. Além disso, todas as publicações virtuais terão legenda para a população surda.

Toda a programação do projeto é gratuita e os links das atividades on-line serão disponibilizados somente para os inscritos. As datas das atividades em março ainda serão confirmadas.

Serviço

O quê: Oficina Corporeidades do Sagrado Feminino
Quem: Rafaela Lima e Breu da Selva
Quando: 26 de fevereiro – 9h
Onde: Galpão da Cena

O quê: Apresentação Obra Corporificar
Quem: Rafaela Lima e Breu da Selva
Quando: 26 de fevereiro – 19h
Onde: Galpão da Cena

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