Cearense Yakecan Potyguara fala sobre literatura lésbica indígena na mostra Todos os Gêneros, em SP

Nona edição da mostra dá destaque à cultura lésbica com shows, performances, teatro, poesia e debates

Mulher indígena, vestida com roupa de fios de palha de sisal segura um arco e uma flecha na horizontal na altura da boca. Ela tem cabelos crespos, usa cocar de penas nas cores branca, preta e azul e está numa trilha em meio à vegetação seca da caatinga que tem a mesma coloração palha das suas vestimentas. No alto, céu azul

Foi por meio da escrita e da arte que Yakecan Potyguara encontrou refúgio para fortalecer a própria identidade e se conectar a outros indígenas que passem por questões semelhantes

Por Rose Serafim
Colaboradora

A ativista cearense Jéssica Yakecan Potyguara foi uma das convidadas da mostra Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade, realizada pelo Itaú Cultural. Nesta edição, o evento se propõe a discutir a presença de lésbicas nas diferentes linguagens artísticas. A programação começou no dia 27 e segue até domingo, 31, com atividades on-line e presenciais. Yakecan participou, nesta quinta-feira (28), da mesa “Criando melhores mundos: sapas, suas literaturas e os afetos”. Se reuniram com a cearense a pesquisadora, tradutora e premiada escritora gaúcha Natália Polesso e a doutora em Teoria Literária Renata Pimentel, que mediou a conversa.

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Fundadora do Coletivo Caboclas LGBTI+ Indígena, Yakecan trata da presença lésbica na literatura. À Eco Nordeste, ela fala da satisfação em representar o Nordeste no evento: “Levo a literatura indígena para as pessoas também lerem um pouco sobre a nossa gente. Pois, quem pode estar falando sobre nós, somos nós mesmos, não é? Estou muito feliz de representar principalmente o Nordeste, onde estão os povos mais apagados porque foram os primeiros a serem colonizados”.

A indígena potiguara vem do Território Nazário-Mambira, do Sertão de Crateús, região habitada por diversas populações indígenas. A ativista aponta que a discussão sobre sexualidade e orientação sexual são pautas que estão sendo discutidas pelos povos indígenas aos poucos, mas isso varia entre cada cultura e, principalmente, sofre grande impacto do cristianismo imposto aos indígenas ao longo dos séculos.

“A gente sente uma dificuldade ainda para falar em nome de algumas comunidades indígenas. Têm povos que não aceitam, porque a influência da religião é muito grande”, afirma. Além de falar sobre o movimento de lésbicas indígenas, a ativista também faz parte das organizações que lutam contra a violência de gênero dentro das comunidades.

Foi no toré, uma dança ritualística tradicional indígena, que Yakecan levantou questões sobre a comunidade LGBTQIAPN+ pela primeira vez, lembra. Mas, por meio da escrita e da arte, ela encontrou refúgio para fortalecer a própria identidade e se conectar a outros indígenas que passem por questões semelhantes. Atualmente, ela é uma das administradoras do perfil no Instagram Literatura Indígena do Ceará, destinado a divulgar os trabalhos de parentes do Estado.

“Eu sempre escutava uma frase que era assim: já não basta ser indígena, agora tem que ser sapatão”, afirmou. “Tive muita dificuldade. E eu acho que não só do Ceará, mas vejo outros parentes indígenas também que sofrem com isso dentro das comunidades, tentando ter voz, e eu acho que a literatura, a escrita, veio trazendo isso. Trazendo a minha resistência”, completou.

Uma das inspirações da ativista é a cordelista indígena Auritha Tabajara, também cearense e lésbica, autora de obras como “Magistério Indígena em versos e poesia” e o cordel “Toda luta, a história e a tradição de um povo”.

Todos os Gêneros

Toda a programação da 9ª edição de Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade é gratuita. Para as atividades presenciais, é necessário reservar ingresso pela plataforma INTI (acesso pelo site www.itaucultural.org.br).

No formato on-line, uma série de debates será transmitida pela plataforma Zoom e as pessoas interessadas em acompanhar devem se inscrever pela Sympla, também com acesso pelo site do IC.

Ainda, o portal da instituição abriga mostra audiovisual disponibilizada até 28 de agosto. Na plataforma Itaú Cultural Play foram adicionados ao catálogo sete novas produções audiovisuais com a temática desta edição.

No presencial, teve, ainda nessa quinta-feira, o show da rapper, cantora, compositora e atriz paulista Katú Mirim. Descendente do povo Bororo e ativista da causa indígena, ela também fez uma apresentação autoral.

Ainda há palestra-performance TRAVED, nesta sexta-feira (29), que propõe uma reflexão sobre uso das biotecnologias aliada a uma reflexão sobre transição de gênero.
No domingo (31), a cantora Zélia Duncan faz show intimista, com a sua voz e o violão.

Yakecan participou da conversa de abertura da programação on-line, no Zoom.

Serviço

O que: Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade – 9ª edição
Quando: De 27 a 31 de julho (quinta-feira a domingo)
Onde: Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro
Mais informações: Site – www.itaucultural.org.br / Telefone – (11) 2168-1777

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