Intoxicação por veneno de escorpião aumenta 14 vezes no CE em 11 anos

Por Adriano Queiroz
Colaborador

O Tityus stigmurus, conhecido como escorpião-do-nordeste, é a espécie mais comum no Estado do Ceará | Foto: Hjalmar Turesson / Wikipedia

Fortaleza – CE. Embora não estejam entre os animais peçonhentos mais letais, os escorpiões são os que mais causam acidentes por envenenamento no Ceará. Só no ano de 2019, foram nada menos que 6.529 registros de intoxicação pelo veneno desse artrópode. O número representa um aumento de 1310% (mais de 14 vezes) em relação aos 463 casos verificados em 2008.

É o que revela pesquisa da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) em parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Universidade Federal do Ceará (UFC), que teve a pesquisadora Jacqueline Ramos Machado Braga como principal autora do estudo, publicado nesta quarta-feira (10) na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

Os escorpiões surgiram há cerca de 430 milhões de anos, estando entre os primeiros animais a ocupar o ambiente terrestre. Hoje, eles estão distribuídos por todos os continentes à exceção da Antártida e se dividem em cerca de 2 mil espécies, das quais cerca de 12 têm ocorrência no Ceará. A mais comum delas é a Tityus stigmurus, conhecido popularmente como escorpião-do-nordeste.

Bem adaptados aos mais diversos habitats naturais, os escorpiões também encontraram terreno fértil para prosperar no ambiente urbano, notadamente em locais onde se acumula lixo e insetos que lhes servem de alimentos, tais como as baratas. Essa característica ajuda a explicar por que os registros de envenenamento por picadas de escorpião representam 83,1% dos casos de acidentes com animais peçonhentos em zonas urbanas, no período pesquisado, e são dez vezes mais verificados nesse tipo de ambiente em relação ao rural. Considerando tanto áreas urbanas como rurais, o índice de casos de intoxicação pelo veneno escorpiônico é de 67,2%.

Apesar do grande crescimento no registro de picadas de escorpião, a bióloga Jacqueline Ramos Machado Braga, que é também pós-doutora em Farmacologia Clínica pela UFC, lembra que a notificação de acidentes causados por animais peçonhentos só passou a ser compulsória em 2010. Nesse sentido, a análise das informações sobre outros grupos (cobras, aranhas, abelhas, lagartas etc) registrou crescimento médio de seis vezes, em um espaço de 12 anos.

No período foram registrados 88 óbitos por intoxicação de origem animal, sendo 50 causados por ferroadas de abelhas, 29 por picadas de cobras, sete por picadas de aranhas e outros dois não especificados. Todos os dados foram coletados por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

No caso específico dos escorpiões, ela ressalta que “o crescimento urbano desorganizado e o desequilíbrio ecológico, podem explicar esse aumento”.

Tratamento

Com toxicidade relativamente baixa quando comparado ao dos venenos de cobras, aranhas e abelhas, as toxinas produzidas por escorpiões podem ser tratadas com soro específico, distribuídos gratuitamente na rede pública, via Sistema Único de Saúde (SUS).

Entre as principais referências na produção de antídotos contra peçonha de animais, está o Instituto Butantan, em São Paulo, onde também estão sendo desenvolvidas doses da vacina Coronavac para a imunização contra a Covid-19, além do Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro.

Contudo, apesar de o tratamento contra tal tipo de envenenamento ser gratuito no Brasil e o País ter bagagem na produção de soros contra peçonha animal, segundo a pesquisa realizada no Ceará, em apenas 5,3% dos casos registrados entre 2007 e 2019, houve aplicação de antídoto específico. “O acesso a este medicamento ainda é difícil, especialmente em regiões longínquas do Brasil”, afirma Jacqueline.

Na capital cearense, Fortaleza, a principal referência hospitalar para o tratamento de picadas de escorpião e de outros animais, bem como intoxicações por plantas, medicamentos e outras substâncias química, é o Instituto Dr. José Frota (IJF). A farmacêutica do Núcleo de Assistência Toxicológica do IJF, Karla Magalhães, confirma que “as ocorrências com escorpiões são a principal causa de procura por assistência toxicológica especializada no IJF”.

Segundo a profissional, “todos os escorpiões são venenosos, mas alguns têm maior importância clínica, podendo levar a uma intoxicação grave. Especialmente os casos com crianças, por conta da relação de alta dose para baixo peso, podem ser mais complicados”.

Prevenção

Em sua página na internet, o IJF destaca ainda algumas dicas para evitar acidentes e para agilizar o socorro a eventuais vítimas. Entre as principais orientações estão: a manutenção de ambientes limpos, especialmente os ralos de banheiros, quintais e depósitos; e a verificação de roupas, toalhas, lençóis e calçados, antes do uso, com sacudidas e batidas nesses itens para retirar eventuais escorpiões escondidos.

No caso de acidente com escorpião ou outro animal peçonhento, é fundamental levar a vítima para receber atendimento médico o mais rapidamente possível, já que as duas primeiras horas de intoxicação são decisivas para um atendimento mais eficaz.

Serviço

Núcleo de Assistência Toxicológica do IJF (24h): (85) 3255-5012, (85) 3255-5050 e (85) 98439-7494 (WhatsApp).

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