71% do desmatamento da Mata Atlântica entre 2018 e 2019 foram registrados em apenas 100 municípios. Entre os dez maiores, quatro estão na Bahia e dois no Piauí. Manoel Emídio (PI) foi o município brasileiro com o maior número de hectares desmatados no período: 879
No período entre 2018 e 2019, 71% do desmatamento na Mata Atlântica foram registrados em menos de 3% (100) dos municípios do bioma (3.429). No total, cerca de 400 cidades desmataram a floresta nativa neste período, pouco mais que 10% dos municípios do bioma. Essa também foi a média de municípios desmatadores dos últimos 10 anos, apesar de haver uma variação entre 200 e 550 cidades por ano. As informações são do Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) realizada desde 2000. O estudo teve execução técnica da Arcplan e patrocínio de Bradesco Cartões.
Para saber se o detalhamento de cada, se ela fica na Mata Atlântica, quanto ainda há de floresta nela e onde esses fragmentos se localizam, clique no Aqui Tem Mata. De forma lúdica e prática, a iniciativa apresenta os índices de desmatamento no bioma. No Nordeste, o Atlas dos Municípios traz informações de todos os remanescentes de vegetação nativa e áreas naturais do bioma acima de três hectares.
Conforme anunciado pelo Atlas da Mata Atlântica em maio, que traz os dados gerais nacionais e por Estado, foram desmatados no período 14.502 hectares – um crescimento de 27,2%, após dois períodos consecutivos de queda – comparado com o período anterior (2017-2018), que foi de 11.399 hectares. Estes dados consideraram desmatamentos acima de três hectares. Clique aqui e acesse os dados nacionais da Mata Atlântica.
“A situação nos municípios comprova o que temos alertado há anos, mas infelizmente o cenário não muda. É de conhecimento das autoridades onde ocorre o desmatamento da Mata Atlântica ano a ano. São poucas regiões, porém com altas taxas de desmatamento e impacto ao meio ambiente. Zerar o desmatamento no bioma passa por priorização do poder público e atuações estratégicas nestes locais”, afirma Marcia Hirota, diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica e coordenadora do estudo.
Clique aqui e acesse os mapas do estudo
Ranking do desmatamento
O município campeão de desmatamento entre 2018 e 2019 foi Manoel Emídio (PI), com 879 hectares suprimidos, seguido de Gameleiras (MG) e Canto do Buriti (PI), com 434 e 404 hectares de floresta nativa derrubada, respectivamente. É importante destacar que, entre os dez maiores desmatadores no período, quatro estão na Bahia e dois estão no Piauí.
“Na região, do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) existe uma pressão que vem desde o Cerrado e também atinge a Mata Atlântica, onde a floresta dá lugar para culturas de grãos, algodão e milho”, explicou Marcia Hirota em live sobre os dados realizada no fim da tarde dessa quarta-feira (19).
Desmatamento da Mata Atlântica no NE (2018-2019)
Município (UF) – Hectares desmatados
Manoel Emídio (PI) – 879
Canto do Buriti (PI) – 404
Cotegipe (BA) – 287
Porto Seguro (BA) – 240
São Félix do Coribe (BA) – 193
Santa Luzia (BA) – 188
Acesse aqui os mapas das dez cidades que mais desmataram em cada Estado
Década de degradação
Nos últimos 10 anos, dois municípios do Piauí sempre lideraram o ranking dos maiores desmatadores. São eles a cidade de Alvorada do Gurguéia – que foi a líder até o último levantamento, porém agora conseguiu reverter a situação e apresentou 22 hectares desmatados –, e Manoel Emídio, que continua no ranking, desta vez no indesejável primeiro lugar.
Vale ressaltar que, nesse intervalo de tempo, entre os dez municípios mais desmatadores, sete são do Nordeste, sendo três do Piauí, com números mais expressivos, e quatro da Bahia, conforme o ranking abaixo.
Desmatamento da Mata Atlântica no NE (2009-2019)
Município (UF) – Hectares desmatados
Alvorada do Gurguéia (PI) – 6.869
Manoel Emídio (PI) – 6.693
Eliseu Martins (PI) – 5.041
Santa Cruz Cabrália (BA) – 3.559
Belmonte (BA) – 3.303
Baianópolis (BA) – 2.841
Wanderley (BA) – 2.731
Dos 100 municípios que mais desmataram, 40 estão em Minas Gerais, 23 na Bahia, 22 no Paraná e 15 em outros estados. “Vale destacar que o histórico do ranking estadual também se repete. Estados como Bahia, Minas Gerais, Paraná e também o Piauí estão no topo da lista dos maiores desmatadores há algumas edições do Atlas com variação de colocação entre eles“, afirma Cláudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas do Inpe.
Chamou a atenção dos especialistas o fato de um município conhecido por seus atrativos turísticos e um dos destinos mais conhecidos pelos brasileiros ser um dos dez que mais perderam Mata Atlântica entre 2018-2019. Com 240 hectares desmatados, Porto Seguro (BA) ocupa o sexto lugar do ranking.
Eleições municipais
Outro dado alarmante é que nos anos de eleições municipais tem aumentado o número de municípios desmatadores, sendo cerca de 500 em 2012 e 550 em 2016, os maiores índices da década.
“As autoridades não podem se esconder no argumento de que os desmatamentos vêm de um histórico de outras gestões. É isso que dá, ano após ano, a sensação de impunidade e liberdade para os desmatadores avançarem sobre o bioma. Estamos novamente em um ano eleitoral e é importante evitar este padrão. Ferramentas e tecnologia para isso existem e nossos dados estão sendo disponibilizados para as autoridades e para a sociedade“, afirma Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.
Do lado positivo, um dado curioso é que um dos dez municípios que mais possuem Mata Atlântica está no Mato Grosso do Sul – é a cidade de Porto Murtinho, em parte dentro dos limites do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. Os demais municípios estão no Paraná, no Piauí (Guaribas) e em São Paulo.
A Mata Atlântica
A Mata Atlântica é uma das florestas mais rica em diversidade de espécies e também uma das mais ameaçadas do planeta. Presente em 15% do território nacional, é casa de aproximadamente 70% da população e o bioma mais próximo das grandes cidades e metrópoles brasileiras, incluindo 56% da área urbana do Brasil.
Os especialistas acreditam que a conservação local é uma das principais ferramentas para a manutenção do bioma, que oferece uma das poucas oportunidades de contato com a natureza para a população dos 3.429 municípios inseridos na Mata Atlântica, além de garantir água, melhoria do clima, da saúde e do bem-estar das pessoas.
O bioma está em 17 Estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), dos quais 14 são costeiros. Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente e, desses remanescentes, 80% estão em áreas privadas.
Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica
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