Por Alice Sales
Colaboradora
Desde o ano de 2017, a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) promove o Censo de População do Periquito Cara-Suja, na Serra de Baturité, onde há uma Unidade de Conservação (UC) na categoria de Refúgio de Vida Silvestre (RVS) desta ave atualmente ameaçada de extinção, endêmica do Nordeste, e que hoje em dia é avistada somente no Estado do Ceará. A edição de 2019 do Censo do Periquito Cara-Suja ocorrerá neste fim de semana e mobiliza voluntários e pesquisadores para a contagem de exemplares desta espécie na região.
O Censo tem como intuito elucidar a dinâmica da taxa de sobrevivência, além de mensurar tendências populacionais, assim como o impacto dos ninhos artificiais instalados na área como ferramenta aliada à conservação. Além disso, o evento funciona como uma estratégia para engajar a comunidade local e estudantes. No último ano, mais de 120 pessoas estiveram envolvidas nos três dias de atividades que contam com palestras, treinamentos, observação e contagem simultânea das aves.
“O trabalho com o Censo na Serra de Baturité começa em agosto, quando diariamente a equipe do Projeto Periquito Cara-Suja faz checagem e buscas de dormidas da ave por toda a serra. Eles dormem em ocos de árvores, em folhas de palmeiras e também nas caixas-ninho. Todos as áreas de dormidas são dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra de Baturité, apesar de a espécie já ter sido registrada se alimentando fora da Unidade de Conservação”, destaca Fábio Nunes, biólogo e coordenador do Projeto Periquito Cara-Suja, liderado pela Aquasis.
Segundo o biólogo, qualquer aumento de população será comemorado, uma vez que a espécie estava em pleno declínio e à beira da extinção no início deste século. Nos últimos dois anos, os resultados do Censo demonstraram um aumento populacional de 314 para 456 indivíduos, o que corresponde a um aumento de 45% da população.
De acordo com ele, o número possivelmente reflete também em uma taxa de sobrevivência de novos indivíduos nascidos em ninhos artificiais. Em 2017 voaram 165 jovens periquitos cara-sujas dos ninhos e em 2018, 234 indivíduos. Já neste ano, 324 filhotes voaram dos ninhos artificiais na Serra de Baturité. No total dos últimos dez anos, 1.165 exemplares voaram dos ninhos artificiais.
A expectativa para este ano é que o número do censo ultrapasse a faixa dos 500 indivíduos, levando em consideração que existem perdas, já que a taxa de sobrevivência de filhotes nos primeiros anos de vida é relativamente mais baixa do que dos indivíduos adultos. “De ano em ano estamos construindo uma base forte para a espécie voltar a ocupar toda a serra e diminuir seu grau de ameaça de extinção. Esse aumento populacional já é visível, muitas áreas da serra onde a espécie não era vista agora estão um pouco mais coloridas com a presença dessa ave,” comemora Fábio.
Voluntariado e cooperação
Neste ano, o número de voluntários que irão auxiliar na contagem da população do periquito cara-suja deverá ultrapassar a marca de 150 pessoas. O perfil dos voluntários é na maioria estudantes universitários, principalmente de Biologia, mas também estudantes de Zootecnia, Medicina Veterinária, além de profissionais biólogos, veterinários, observadores de aves, empresários, donos de sítios, moradores da serra, funcionários públicos, dentre muitos outros.
Além disso, em 2019 o Censo do Periquito Cara-Suja estará completo, uma vez que contará com o auxílio dos resultados dos estudos de Werlyson Pinheiro, que durante o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Universidade Estadual do Ceará (Uece) realizou o Censo nas outras áreas onde a espécie ocorre: Serra do Mel, em Quixadá; Serra Azul, em Ibaretama; e Serra do Parafuso, em Canindé. O total nessas três áreas resultou na contagem de 114 indivíduos.
O Censo do Periquito Cara-Suja conta com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Uece, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Parque das Aves, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Museu de História Natural do Ceará, Prefeitura de Guaramiranga, Loro Parque Fundación e Zoologischen Gesellschaft für Arten und Populationsschutz (ZGAP).