Maceió – AL. Você já comeu ou ouviu falar em araçá-do-mato, aroeira, cambuí, coco-piaçava ou jenipapo? Não? Pois a pernambucana Patrícia Muniz de Medeiros, 33, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), coordenadora de um projeto de pesquisa para a popularização das plantas alimentícias não convencionais (Pancs), foi a única brasileira contemplada no prêmio For Women in Science International Awards, neste ano, entre 15 pesquisadoras no mundo, promovido pela empresa francesa L’Oréal em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Em 2019, o projeto foi ganhador do prêmio nacional Para Mulheres na Ciência, promovido pela L’Óréal Brasil, Unesco e Academia Brasileira de Ciências (ABC), que todo ano seleciona sete cientistas. A partir desse prêmio, Patrícia foi selecionada para representar o Brasil na edição internacional do premio, na categorial International Rising Talents (Talentos em ascensão internacionais).
Primeira de Instituição Nordestina
“Fiquei muito feliz, especialmente porque fui a primeira pesquisadora de uma instituição nordestina (Ufal) a receber o prêmio internacional. Além disso, a repercussão da minha pesquisa tem aberto muitas portas para parcerias e para por as Pancs em evidência. Eu ganhei uma bolsa de 50 mil reais da edição nacional e 15 mil euros da edição internacional do prêmio, o que certamente ajudará a alavancar as pesquisas”, declara Patrícia de Medeiros.
Formada em Biologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 2008, Patrícia concluiu o mestrado em Botânica pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) em 2010 e o doutorado no mesmo programa em 2012. Entre 2011 e 2015 foi professora efetiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), campus de Barreiras,
que depois tornou-se Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob). Desde dezembro de 2015, é professora adjunta da Ufal, lotada no Campus de Engenharias e Ciências Agrárias, onde dá aula nos cursos de Agroecologia e Engenharia Florestal.
Desde a graduação, atua no campo científico da Etnobotânica. Estuda as relações entre pessoas e plantas, focando em temas como o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais, alimentícias e madeireiras, entre outras. “Nos meus trabalhos, as plantas são modelos para entender certos aspectos do comportamento humano, por exemplo, o que faz com que as pessoas escolham um grupo de plantas para alimentar-se dentre todas as que lhes estão disponíveis”, revela.
Popularização das Pancs
Especificamente sobre o trabalho que foi premiado, a pesquisadora explicou à Agência Eco Nordeste que a ideia é promover uma abordagem interdisciplinar para ajudar a popularizar as Pancs. “Estas plantas servem de alimento, mas são desconhecidas pela maioria das pessoas, especialmente em áreas urbanas. Escolhemos trabalhar com as plantas frutíferas silvestres em comunidades de agricultores e extrativistas do município de Piaçabuçu (litoral sul de Alagoas). Essas comunidades comercializam as frutas silvestres e a popularização destas plantas poderia contribuir para a renda das pessoas”, detalha.
Segundo Patrícia, a ideia é, primeiro, identificar as frutas conhecidas pelas comunidades e, posteriormente identificar aquelas com maior potencial para popularização, por meio de avaliações sensoriais (quando as pessoas provam a fruta ou suco e atribuem uma nota).
“Também estamos avaliando o quanto de cada fruta pode ser extraída das áreas de vegetação nativa, para indicar formas de uso sustentável delas. Além disso, queremos saber se o fato de as pessoas saberem que a fruta é considerada ‘não convencional‘ influencia na aceitação desta. Isso porque as pessoas possuem, em maior ou menor grau, uma aversão a consumir coisas novas ou desconhecidas (neofobia alimentar). Sendo assim, é importante saber se o nome Panc influencia de forma positiva, negativa, ou não influencia na aceitação da fruta. Por fim, vamos investigar qual o perfil socioeconômico mais propenso a consumir as Pancs”, afirma.
Resumindo, a ideia é ter informações sobre as espécies mais promissoras, o público alvo (potenciais consumidores), as melhores formas de divulgar os produtos (se é vantajoso ou não usar o nome Panc) e o quanto pode ser extraído de cada espécie para que o uso seja sustentável.
O trabalho está sendo realizado com um grupo de estudantes de graduação e doutorado do Laboratório de Ecologia, Conservação e Evolução Biocultural (Leceb), coordenado pela professora Patrícia e pelo professor Rafael Silva.
Mulheres na ciência
O objetivo do International Rising Talents é impulsionar o percurso de excelência de jovens e promissoras cientistas até se tornarem pesquisadoras internacionalmente reconhecidas por meio de uma bolsa-auxílio de 15 mil euros. Essa premiação é concedida a 15 jovens cientistas por ano, das diferentes regiões do mundo: África e Estados Árabes, Ásia e Pacífico, Europa, América Latina e América do Norte.
A pesquisadora pernambucana foi uma das selecionadas por um júri internacional de especialistas, entre mais de 250 doutoradas e pós-doutoradas. Três brasileiras já foram reconhecidas anteriormente no International Rising Talents: a farmacêutica Carolina Horta, em 2015; a química Elisa Orth, em 2016; e a bióloga Fernanda Werneck, em 2017.
Inscrições abertas
Já estão abertas as inscrições para o programa Para Mulheres na Ciência 2020, que neste ano comemora 15 anos no Brasil. O prêmio tem como objetivo promover e reconhecer a participação da mulher na ciência, favorecendo o equilíbrio dos gêneros no cenário brasileiro. Todo ano, na edição local, sete jovens pesquisadoras das áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Químicas e Matemática são contempladas com uma bolsa-auxílio de R$ 50 mil cada, para dar prosseguimento aos seus estudos.
As inscrições vão até o dia 8 de maio e as vencedoras serão conhecidas a partir de agosto. Para participar, é necessário que a candidata tenha concluído o doutorado a partir de 1º de janeiro de 2013, tenha residência estável no Brasil, desenvolva projetos de pesquisa em instituições nacionais, entre outros requisitos. O regulamento completo e mais informações sobre o programa estão disponíveis neste link.
Ao longo destes 15 anos, o prêmio Para Mulheres na Ciência já reconheceu e incentivou 96 cientistas brasileiras, premiando a relevância dos seus trabalhos, com a distribuição mais de R$ 4,2 milhões em bolsas-auxílio.