Pesquisa mostra que elevação da temperatura pode beneficiar abelha sem ferrão do NE

Por Líliam Cunha
Colaboradora

É esperado um ganho de áreas climaticamente adequadas para espécies como a abelha mosquito | Fotos: Ulysses Maia

Muito se fala sobre o alto risco de desertificação na Caatinga, decorrente de diversos fatores, incluindo atividades antrópicas – aquelas causadas pelo ser humano – e as variações climáticas. De acordo com o 5º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (AR5 IPCC 2014), os cenários climáticos sugerem que a principal ameaça à região semiárida é o aumento da aridez, o que pode levar a uma intensificação e prolongamento das estações secas.

Os cenários futuros prevêem um aumento da temperatura e diminuição da precipitação na região. No entanto, para uma grande parte de animais, como aves e répteis que ocorrem exclusivamente na região (chamados endêmicos), é esperado um ganho de áreas climaticamente adequadas.

Isso também foi observado em um estudo realizado recentemente por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal Rural do Pernambuco (UFRPE), Universidade de São Paulo (USP) e Instituto Tecnológico Vale, para uma espécie de abelha sem ferrão bastante conhecida na região, popularmente conhecida como abelha mosquito (Plebeia flavocincta).

Como o próprio nome sugere, a abelha possui um tamanho diminuto, mas isso não reduz sua importância, já que ela é considerada como um importante agente polinizador de plantas locais e é bastante criada em caixas de madeira para produção de mel. É o que explica o pesquisador Ulysses Maia, doutorando da UFPA e bolsista da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). Segundo ele, a espécie costuma fazer seus ninhos em oco de árvores vivas e, por isso, era fundamental conhecer a sua atual distribuição potencial a fim de desenvolver planos visando sua conservação e manejo.

Os pesquisadores buscaram “estimar a distribuição potencial atual e conhecer onde estas abelhas se encontravam no passado e como o aquecimento global poderá influenciar a distribuição futura da espécie”, diz Maia. Para isso, a equipe, que é composta por Maia e outros cinco pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa, entre eles Leonardo Miranda (Museu Emilio Goeldi), Airton Carvalho (UFRPE), Vera Lucia Imperatriz‐Fonseca (USP), Guilherme Oliveira (Instituto Tecnológico Vale/ UFPA) e Tereza Cristina Giannini (Instituto Tecnológico Vale/ UFPA), utilizaram técnicas modernas de modelagem para projetar áreas climaticamente adequadas de ocorrência no passado, no presente e no futuro.

“Devido à sua grande capacidade de adaptação, tanto em áreas quentes e secas do interior do Nordeste quanto em áreas de litoral, a espécie tende a ganhar ainda mais áreas no futuro sob uma perspectiva de aquecimento global”, afirma o pesquisador. A pesquisa revelou ainda áreas que pouco mudaram climaticamente ao longo dos anos, que no caso poderiam ser prioritárias para a conservação da espécie.

“Mas, embora os resultados indiquem que a espécie será favorecida, outros fatores podem afetá-la negativamente, como altos níveis de perda de habitat comuns na Caatinga”, avalia Maia. Os autores ressaltam que o plantio e a preservação de plantas (imburana, catingueira, cajazeira, juazeiro) utilizadas por essas abelhas são de extrema importância para conservação da espécie.

As informações desse estudo podem ser utilizadas por tomadores de decisão para apoiar ações de proteção e gestão sustentável da espécie. O estudo foi publicado na revista científica internacional Ecology and Evolution Journal, onde o texto completo está disponível e com acesso livre.

Quer a apoiar a Eco Nordeste?

Seja um apoiador mensal ou assine nossa newsletter abaixo: