Nasce o primeiro filhote de peixe-boi devolvido ao mar na Paraíba

Mamífero aquático de médio porte de couro acinzentado só com a cabeça para fora da água escura. Atrás do animal há uma boia de monitoramento amarela

A peixe-boi Mel foi avistada com o filhote por técnicos do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho e da APA da Barra do Rio Mamanguape, na Praia do Poço, em Cabedelo (PB) | Foto: Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho

Por Alice Sales
Colaboradora

Cabedelo (PB). O litoral paraibano comemora o primeiro nascimento de um peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) nascido de uma fêmea que no passado foi resgatada, recebeu cuidados e foi reintroduzida no ambiente marinho. A chegada do pequeno peixe-boi é um importante indicador que evidencia o sucesso do programa de reintrodução da espécie no Brasil pelo Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho,  iniciativa que lida com animais feridos e os reabilitam para que sejam devolvidos à natureza.

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Mãe e filhote foram avistados por técnicos do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho e da Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape, na Praia do Poço, em Cabedelo (PB). Em uma primeira avaliação, os técnicos observaram que o filhote está saudável e sendo amamentado pela fêmea. Mel, a mamãe peixe-boi, foi reintroduzida ao mar no ano de 2021.

Encontrada em 2004, ainda filhote, encalhada na Praia de Ponta Grossa, em Icapuí (CE), a peixe-boi Mel foi transferida para o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), na Ilha de Itamaracá (PE). Ali permaneceu em reabilitação por cinco anos. Em 2008, o mamífero marinho foi transferido para o cativeiro de readaptação em ambiente natural da APA da Barra do Rio Mamanguape (PB). Em março de 2009, foi solta no estuário da região, onde permaneceu por muitos anos. Em 2019, Mel se deslocou para o litoral de Cabedelo, onde vive até hoje.

“Durante o processo de reabilitação, ela reaprendeu a lidar com as amplitudes das marés, a conviver com outros organismos aquáticos, até ser solta. E, desde então, ela tem utilizado tanto praias do litoral norte da Paraíba como também essas praias mais urbanas no entorno de João Pessoa e Cabedelo.  Para a nossa felicidade, esse processo culminou com o nascimento desse filhote”, comemora João Carlos Gomes Borges, diretor de Pesquisa e Manejo da Fundação Mamíferos Aquáticos, instituição responsável pelo Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.

O pesquisador relembra que, durante as atividades de monitoramento, no ano passado, a equipe percebeu indícios de que Mel estaria à espera de um filhote. Para ele, essa notícia animadora reforça a importância de anos de pesquisa e trabalho pela conservação da espécie no Brasil, além de que representa muito para os esforços que estão sendo realizados junto ao apoio da Petrobras: “Um filhote evidencia, não só que o animal se adaptou a essas condições de vida livre, como também passou a interagir com outros peixes-boi. Outro aspecto importante é que isso traz um reforço populacional a essas populações remanescentes da espécie ”

João Gomes alerta para o fato de que filhotes são mais vulneráveis por estarem ainda aprendendo a lidar com as marés e outras condições e que um dos desafios desta época do ano é o risco de acidentes com embarcações motorizadas utilizadas por turistas.

Para se certificar sobre a segurança de Mel e seu filhote, a  equipe do projeto os monitora diariamente. O litoral da Paraíba é um dos poucos lugares no Brasil onde é possível avistar em ambiente natural peixes-bois-marinhos, nativos e reintroduzidos. Isso pode levar a interações que prejudicam os animais.

“O melhor a fazer é manter distância, respeitar a área de uso dos animais”, recomenda João Gomes. Ele instrui que se deve admirar os peixes-bois de longe, sem tocá-los ou fornecer-lhes bebida ou alimentos. Os condutores de embarcações motorizadas, como barcos, lanchas e jet skis, devem verificar antes de acionar o motor se há algum peixe-boi-marinho próximo, porque a hélice pode machucar o animal. Já durante a navegação, o condutor deve reduzir a velocidade ou desligar o motor caso aviste algum animal perto.

O diretor de Pesquisa e Manejo destaca o importante papel da sociedade neste trabalho de conservação das espécies. A exemplo da Mel, um filhote que, quando encalhou, recebeu os primeiros cuidados de pescadores e colaboradores. No processo de monitoramento, o projeto também conta com a participação de colaboradores, turistas e da sociedade em geral.

“Esse esforço integrado é que traz para nós uma esperança de dias melhores. É muito importante destacar ainda que é um trabalho colaborativo que envolve várias instituições governamentais e não governamentais. A partir de todos esses esforços  integrados é que a conservação dos peixes-bois-marinhos tem se tornado possível aqui no Brasil”, finaliza.

Avistou um peixe-boi em perigo?

Ao perceber que um peixe-boi está em perigo, machucado ou encalhado, pode entrar em contato com o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho pelos telefones: (83) 99961-1338/ (83) 99961-1352 (WhatsApp).

Viva o Peixe-boi-Marinho

O Viva o Peixe-Boi-Marinho é um dos 17 projetos que o Programa Petrobras Socioambiental apoia na linha de Oceano. O investimento voluntário apenas nessa linha chegará a R$ 96,6 milhões no período de 2020 a 2025. Esses projetos atuam para conservar espécies e ecossistemas costeiros e marinhos, de forma a contribuir para a conservação da biodiversidade e a saúde do oceano. Além da produção de conhecimento técnico-científico, o Viva o Peixe-Boi-Marinho protege e cuida dos animais ao mesmo tempo em que tem iniciativas de preservação do habitat do peixe-boi, como evitar o descarte irregular de resíduos no mar, reduzir as pressões externas como circulação de embarcações e transformar vidas por meio da educação ambiental e da cultura oceânica.

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