Mais colônias estão branqueadas em 2019 em comparação aos mesmos pontos em 2016
Diferentes áreas do Parque Natural Municipal do Recife de Fora, em Porto Seguro (BA), estão apresentando maior número de colônias branqueadas do que em fevereiro de 2016, ano que ocorreu o mais recente El Niño. A avaliação foi realizada pelo pesquisador do Projeto Coral Vivo, Emiliano Calderon: “Apesar de parecido, há um número maior de colônias da espécie Millepora alcicornis (coral-de-fogo) em processo de branqueamento, o que sugere que está mais intenso”.
O auge desse fenômeno climático ocorreu no fim de março, quando foi realizado o Concurso Coral Vivo de Foto Sub. Realizado entre os dias 21 e 23, ele teve como categoria temática as colônias branqueadas. Segundo a plataforma Coral ReefWatch, da Agência Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA), a região onde fica o Recife de Fora está em Alerta Nível 2 para branqueamento.
“Em fevereiro de 2019, no ponto do Recife de Fora conhecido como Labirinto Mourão, do total de colônias de Millepora alcicornis monitoradas, 60% apresentaram branqueamento mais severo que em fevereiro de 2016″, informou o biólogo marinho que é membro do Comitê de Pesquisas do Projeto Coral Vivo, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
No mesmo ponto, o coral Mussismilia harttii apresenta padrão parecido com 20% das colônias mais branqueadas que em fevereiro de 2016. Outras áreas também foram avaliadas e quantificadas, fazendo parte de estudo científico da Rede de Pesquisas Coral Vivo, que será publicado em breve.
O pesquisador Emiliano Calderon acaba de visitar os mesmos pontos estudados no El Niño de 2015-2016, usando a escala de cor internacional chamada de “Coral Watch”. Ela foi desenvolvida pela Universidade de Queensland, na Austrália, para avaliar o estado de saúde dos corais.
O que é o branqueamento de corais?
O branqueamento é um fenômeno ecológico, sendo uma resposta ao estresse decorrente de perturbações ambientais, geralmente associadas a temperaturas elevadas combinadas com alta incidência de luz. Eles ficam brancos porque as microalgas simbiontes (zooxantelas) são expelidas do tecido do coral, ficando à mostra o esqueleto calcário através do tecido quase transparente.
Esses pontos da pesquisa estão sendo monitorados em todo o período de El Niño em 2019. Para se ter uma ideia de como as águas ficam mais aquecidas no ciclo desse fenômeno climático, em janeiro de 2019 a temperatura média no Recife de Fora foi de 28,88ºC. Já em janeiro de 2018, a média estava 26,33ºC.
“Esse aumento de quase 2,5ºC acima dos valores médios é significativo para desencadear o processo de branqueamento em algumas espécies de corais, como já vem sendo observado”, avaliou o coordenador regional de Pesquisas do Coral Vivo, o zootecnista Carlos Henrique Lacerda.
Ele informou que a incidência de luz no Recife de Fora foi em média 30047,72 lux em janeiro de 2018, e em janeiro de 2019 foi de 38604,92 lux. Esses dados foram coletados nos sensores instalados pelo Projeto Coral Vivo para os monitoramentos ambientais. Em época de El Niño, as águas quentes do Pacífico central avançam para as Américas Central e do Sul.
Monitoramento ambiental
“Incluímos no atual patrocínio da Petrobras a realização de monitoramentos ambientais para a criação de um banco de dados com informações dos recifes de coral da Costa do Descobrimento”, explica a coordenadora geral do Projeto Coral Vivo, a oceanógrafa Flávia Guebert.
Desde janeiro de 2018, todos os meses, a equipe coleta uma série de dados em três recifes:
- Recife do Araripe (Parque da Coroa Alta)
- Recife de Fora (Porto Seguro)
- Recife do Mucugê (Arraial d’Ajuda)
Além disso, a equipe do Projeto Coral Vivo e parceiros realizam diferentes monitoramentos no Recife de Fora, que é o recife modelo da Rede de Pesquisas Coral Vivo. O Projeto faz parte também da realização do monitoramento anual ReefCheck Brasil, junto a diferentes instituições na Costa do Descobrimento.
Numa das áreas de maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul, o Recife de Fora, foi realizado o Concurso Coral Vivo de Foto Sub. Trata-se de uma das áreas prioritárias do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos (PAN Corais). O Concurso contou com a parceria da Associação Brasileira de Imagens Subaquáticas (Abisub), do Projeto Meros do Brasil e da Secretaria de Meio Ambiente de Porto Seguro, além do patrocínio da Petrobras.
Projeto Coral Vivo
Voltado para a conservação e a sustentabilidade socioambiental dos ambientes recifais e coralíneos do Brasil, o Projeto Coral Vivo trabalha com pesquisa, educação, políticas públicas, comunicação e sensibilização da sociedade. Ele foi concebido no Museu Nacional / Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sendo realizado hoje por 14 universidades e institutos de pesquisa.
Está vinculado ao Instituto Coral Vivo, que é o coordenador executivo do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos (PAN Corais). Esse documento de pactuação está sendo realizado com a coordenação geral do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul (Cepsul) / Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Além disso, o Coral Vivo integra a Rede Biomar, junto com os projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Tamar. Todos patrocinados pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. As ações do Projeto Coral Vivo são viabilizadas também pelo copatrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque.
Mais informações: www.coralvivo.org.br.