Censo de população do periquito-cara-suja volta após dois anos de pandemia

Ave de penas verdes, peito acinzentado, rosto com penas rochas e detalhes vermelhos entre as asas e a barriga. A ave está pousada entre os galhos de uma árvore

A ave encontra-se classificada como “Em perigo” pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) | Foto: Fábio Nunes

Por Alice Sales
Colaboradora

Pacoti (CE). Após dois anos sem ser realizado por causa da pandemia de Covid-19, o censo de população do periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) no Maciço do Baturité está de volta e reunirá voluntários e pesquisadores neste fim de semana para a contagem de indivíduos da espécie na região. O evento funciona como um termômetro para mensurar os resultados das estratégias de conservação adotadas pela Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), que promove o censo desde 2017 e dedica esforços para salvar a ave da extinção há 12 anos.

A espécie é exclusivamente nordestina e sua ocorrência atualmente se restringe a quatro pontos do Ceará: Serra de Baturité, Quixadá, Canindé e Ibaretama. A ave encontra-se classificada como “Em perigo” pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). O censo tem o intuito de levantar dados a respeito da taxa de sobrevivência, além de mensurar tendências populacionais, assim como o impacto dos ninhos artificiais instalados na área como ferramenta aliada à conservação.

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Segundo Fábio Nunes, biólogo e coordenador do Projeto Periquito Cara-Suja,  a pandemia de Covid-19 gerou uma série de complicações para as atividades de campo dos pesquisadores que atuam no projeto, inclusive impedindo a realização da contagem coletiva dos indivíduos. Contudo, com muito esforço, foi possível confirmar ótimos resultados para a espécie no ano de 2020, com o voo de 388 filhotes, e em 2021, com 417 filhotes voando dos ninhos.

Neste ano, mais 472 filhotes voaram, somando um total de 2.439 filhotes a voarem das caixas-ninho desde 2010, quando o projeto teve início na Serra de Baturité, onde hoje há uma Unidade de Conservação (UC) na categoria de Refugio de Vida Silvestre (RVS) do periquito-cara-suja.

“Esses resultados se refletiram no tamanho populacional da espécie. De 2017 a 2019, os censos realizados confirmaram uma tendência de aumento. Infelizmente, a atividade de contagem coletiva foi interrompida em 2020 e 2021. Agora, esperamos retomar, neste ano de 2022, com a participação de mais 200 voluntários. A expectativa é que nesta 4º edição do censo consigamos confirmar uma tendência de aumento para periquito-cara-suja, mesmo com as capturas e alterações ambientais na Serra de Baturité”, destaca Fábio Nunes.

A ave, que antes era comum em áreas dos Estados do Ceará, Alagoas e Pernambuco, enfrenta como principal ameaça os efeitos da captura ilegal para o tráfico e o desmatamento das florestas de onde é nativa. Por causa do desmatamento no passado, a floresta da Serra do Baturité ainda é relativamente jovem e não possui tantas árvores com condições favoráveis para a formação de ninhos naturais. Como estratégia de conservação, a Aquasis com a colaboração de moradores locais da Serra do Baturité, instalou caixas-ninho em diferentes pontos da mata para facilitar o abrigo e reprodução desta espécie, que possui o hábito de se aninhar em ocos de árvores.

Um outro passo importante para a sobrevivência do periquito-cara-suja vem sendo dado na Serra da Aratanha, na Zona Metropolitana de Fortaleza (ZMF), onde a espécie existiu no passado e hoje está em processo de reintrodução na região com exemplares oriundos da Serra do Baturité.

Programação do Censo

Além do levantamento da população da espécie, o Censo funciona como um momento para mobilizar a comunidade local e estudantes, com dois dias de palestras, treinamentos, observação e contagem simultânea das aves.

Neste ano, a programação contará com a premiére do filme “Voltei para ficar”, realizado por Fábio Nunes e Heideger Nascimento (Aquasis), que conta a história da reintrodução da espécie na Serra da Aratanha. Além disso, também serão realizadas palestras sobre os 17 anos de trabalho realizado pela SAVE Brasil, por Alice Reisfeld; Papel do zoológico para a conservação, por Lígia Oliveira, do Parque das Aves;  Conservation Leadership Programme, por Victória Souza, da Aquasis; e a experiência do Brazil Birding Experts, por Ciro Albano.

O público presente também deverá participar das palestras sobre o principal destino para a refaunação de aves no Ceará, por Sandino Moreira, da Associação Caatinga; Lista Vermelha do Ceará, por Hugo Fernandes (Cientista-chefe); Coleção de Aves do Museu de História Natural do Ceará, por Marco Aurélio Crozariol; Censo da arara-azul-de-lear, por Emanuel Barreto, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); Conservação de Aves de Noronha, por Cecília Licarião; e Conservação Transgeracional de aves, por Weber Girão e Hipólito.

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