Por Alice Sales / Maristela Crispim
Colaboradora / Editora
Itarema – CE. O Projeto Tamar celebra, neste fim de semana, a vida de 40 milhões de tartarugas marinhas nascidas e salvas no litoral brasileiro. As comemorações tiveram início na manhã desta sexta (13), com a soltura de tartarugas que simbolizam o marco histórico de 40 milhões de espécimes salvos em 40 anos. A ação ocorreu nas sedes do projeto da Praia de Almofala (CE), Praia de Forte (BA), Aracaju (SE) e Ubatuba (SP) e também conta com atividades ambientais e apresentações musicais que devem ocorrer até este sábado (14).
Na Praia de Almofala, no município de Itarema, no Litoral Oeste do Ceará, onde há uma base do Tamar, a manhã foi marcada por diversas pessoas da comunidade local que se reuniram para presenciar a comemoração. Na ocasião, duas tartarugas representaram o número de 40 milhões salvas no retorno ao mar. As duas, ainda jovens, eram das espécies de Pente (Eretmochelys imbricata) e Verde ou Aruanã (Chelonia mydas) foram resgatadas quando estavam presas e debilitadas em currais de pesca da região.
Das cinco espécies de tartarugas marinhas existentes do Planeta, todas frequentam o litoral de Almofala. Segundo o Projeto Tamar, a tartaruga- de- pente e a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriácea) são atualmente as espécies mais ameaçadas. Além disso, ainda hoje é possível encontrar registros de pessoas que consomem ilegalmente a carne da Tartaruga-Verde ou Aruanã, espécie mais frequente nos mares do Ceará.
Segundo Eduardo Lima, coordenador do Projeto Tamar no Ceará, as praias de Itarema e Acaraú são consideradas uma das áreas de alimentação mais importantes do mundo para as tartarugas marinhas, que não se reproduzem onde se alimentam. De acordo com ele, uma média de 400 tartarugas por ano é retirada dos currais de pesca da região.
Gardênia Luzo, estudante de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceará (UFC) e atuante no Projeto Interpesca, esteve presente na ocasião. O Projeto há quatro anos estuda a relação da pesca com os encalhes de tartarugas marinhas. O projeto Interpesca tem abrangência na Região Metropolitana de Fortaleza e, de acordo com os estudos, a maioria dos encalhes na região está relacionada à poluição, em geral, por desnutrição e obstrução das vias aéreas pela ingestão de plástico.
“É muito gratificante presenciar um momento como este de hoje. Sempre acompanhamos encalhes, tartarugas agonizantes e realizamos necropsia. Ver agora tartarugas saudáveis retornando ao mar está sendo uma experiência singular”, destaca.
De acordo com os fundadores do Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar, Guy e Neca Marcovaldi, o marco histórico só foi atingido em razão do engajamento das comunidades costeiras | Foto: Maristela CrispimPara Eduardo Lima, o Tamar é um projeto vitorioso porque existe para que as pessoas se aproximem desses animais, vejam e interajam com as tartarugas, criando assim uma nova relação com essas espécies. “Me sinto muito feliz e realizado profissionalmente. Quando cheguei aqui, em 1992, via caminhões de tartarugas para serem mortas. Hoje temos um projeto de conservação como este e vemos a comunidade engajada, estudantes das escolas locais testemunhando este trabalho. Tudo isso é muito gratificante”, comemora.
De acordo com os fundadores do Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar, Guy e Neca Marcovaldi, o marco histórico só foi atingido em razão do engajamento das comunidades costeiras. “Esses animais deixaram de ser utilizados para consumo e passaram a ser queridos e admirados, graças à conscientização das pessoas sobre a importância de preservá-los”, destaca Guy Marcovaldi.
O trabalho do Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar trouxe informações que contribuíram para fortalecer a consciência socioambiental das comunidades locais e contagiou todo o Brasil. O apoio da sociedade, dos governos que passaram durante essas quatro décadas, de diversas instituições parceiras e da Petrobras, que patrocina o Projeto desde 1982, também é fundamental para o alcance desses resultados.
Esse resultado de preservação das cinco espécies de tartarugas está associado à recuperação de importantes áreas de desova. Algumas praias da Bahia que ainda não tinham sido associadas à preferência das tartarugas-oliva, por exemplo, hoje também registram grande aumento do número de ninhos e a expansão do período de reprodução. Os nascimentos de filhotes que antigamente eram registrados apenas entre quatro e seis meses já são observados ao longo de todo o ano.
Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar
Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar começou em 1980 a proteger as tartarugas marinhas no Brasil. Ele executa a maior parte das ações descritas no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Tartarugas Marinhas no Brasil, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)/Ministério do Meio Ambiente (MMA). A Petrobras é a patrocinadora oficial do Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Trabalha na pesquisa científica, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no país, todas ameaçadas de extinção:
- tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta)
- tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata)
- tartaruga-verde (Chelonia mydas)
- tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea)
- tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea)
As ações do projeto também contribuem para proteger cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 26 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio
de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
O Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar integra a Rede de Biodiversidade Marinha (Rede Biomar) junto com os projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Coral Vivo, Golfinho Rotador e Meros do Brasil. Todos esses projetos patrocinados pela Petrobras atuam de forma complementar na conservação da biodiversidade marinha no Brasil integrando pesquisa cientifica sobre espécies e ambientes a elas associados, relacionamento com comunidades e educação ambiental.