Morte de tartaruga-marinha no litoral de Fortaleza gera preocupação

Por Alice Sales
Colaboradora

O animal foi recolhido e examinado por membros do Grupo de Estudos e Articulações Sobre Tartarugas Marinhas (GTAR), do Instituto Verdeluz | Foto: GTAR / Instituto Verdeluz

Fortaleza – CE. Uma tartaruga-marinha foi encontrada sem vida e coberta por uma substância escura, supostamente identificada como piche, na praia da Sabiaguaba, em Fortaleza, no último domingo (1º). O animal foi recolhido e examinado por membros do Grupo de Estudos e Articulações Sobre Tartarugas Marinhas (GTAR), do Instituto Verdeluz.

“Ficamos sabendo por meio de um banhista que viu o animal e entrou em contato conosco. Ainda não podemos confirmar que a substância seja piche. O material ainda precisa passar por análise. Mas era um líquido preto, pegajoso e com muito cheiro de asfalto”, destaca Adla Farah, estudante de Medicina Veterinária e membro do GTAR, que realizou a coleta da tartaruga.

Segundo a necropsia realizada, foram encontradas amostras da substância nas narinas e no esôfago da tartaruga, que também teve os olhos cobertos pelo líquido. O material foi coletado para análise, no entanto o GTAR busca um laboratório que se disponha a realizar o exame. “Na necropsia, constatamos edema e enfisema pulmonar, além da presença de coagulo nos dois átrios. Acreditamos que a substância entupiu as vias aéreas, dificultou a alimentação, locomoção, visão, causando assim a morte da tartaruga”, ressalta Adla.

De acordo com a estudante universitária, a tartaruga provavelmente foi contaminada na costa de Fortaleza, já que no momento da coleta o animal ainda estava muito fresco, como se tivesse encalhado vivo e morrido horas depois. O Instituto Verdeluz ressalta que a região da Sabiaguaba possui grande diversidade de espécies animais. Algumas estão ameaçadas de extinção, como o boto-cinza, o peixe-boi e diferentes espécies de tartaruga-marinha, o que torna ainda mais necessário e urgente confirmar a origem e natureza dessa substância.

“O Verdeluz expõe aqui sua indignação acerca do ocorrido e destaca que irá tomar as providências cabíveis, uma denúncia formal para investigação sobre o caso e continuará pautando tais assuntos nos locais de construção de políticas públicas e cobrança por respeito e aplicação das Leis Ambientais”, ressalta o Instituto.

Possível relação com obras

Resquícios de piche foram encontrados em outro ponto da orla de Fortaleza, no fim de julho. Dessa vez, pequenos caranguejos ficaram cobertos pela substância. Na ocasião, por meio de nota, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf) afirmou que o incidente decorreu das chuvas no local, que carrearam o piche da obra de requalificação da Avenida Beira-Mar:

“A pasta realizou a aplicação do asfalto líquido na ciclovia da Avenida Beira-Mar, no trecho entre o Jardim Japonês e o Hotel Gran Marquise. O material necessita de 48 horas para fixação e posterior instalação do asfalto definitivo, mas uma pequena quantidade foi levada pelas chuvas, escorrendo pela sarjeta até a boca de lobo existente na via”, explica o comunicado.

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