A aposta no cultivo agroecológico é crescente entre os pequenos produtores rurais do Semiárido brasileiro e apresenta diversas vantagens
Maristela Crispim*
Nazarezinho. Que bela família a de Alcino Alves Pedrosa, 40; Vânia Maria de Lima Pedrosa, 33; e as três filhas: Érica, 17; Jéssica, 15; e Bianca,9. Eles vivem o Sítio Trapiá, zona rural de Nazarezinho, a aproximadamente 455 quilômetros da capital, João Pessoa e são os personagens centrais desta segunda reportagem no sertão paraibano.
A mais velha acaba de concluir o 3º ano (Agropecuária) no Instituto Federal da Paraíba (IFPB) – Campus Sousa, a do meio concluiu o 1º ano (Agropecuária também) e a mais nova estuda numa escola da localidade. Todas amam a tranquilidade da vida rural e, pelo menos por enquanto, dedicam-se aos estudos das coisas das terras que um dia irão herdar.
Nelas, o pai, Alcino; e a mãe, Vânia, cultivam um pouco de muitas espécies, garantindo uma produção saudável, livre de agrotóxicos, mas que exige dedicação redobrada, lembra o patriarca. Recentemente, ele precisou viajar e descuidou na plantação de goiaba. Quando retornou, a mosca branca tinha feito a festa. Mas agora já está tudo sob controle, garante.
Nas terras, além das goiabeiras, uma bela plantação de gergelim (confesso que nunca tinha visto a planta), enfeita os arredores da casa onde não falta nem o WiFi para os visitantes da cidade se conectarem e a família se manter em dia com as notícias que correm o mundo. No horizonte, também se avista uma jovem plantação de bananeiras.
Um pé de algodão, ao lado da residência dos Pedrosas, chama a atenção dos visitantes com seus tufos branquinhos contrastando com o azul do céu. O cultivo de algodão agroecológico por pequenos produtores do sertão paraibano tem sido bastante demandado por empresas que produzem roupas e calçados com uma pegada sustentável.
Aposta na diversificação
A variação de culturas é uma tendência crescente entre os pequenos agricultores do Semiárido brasileiro, que ainda mantém o hábito da agricultura de sequeiro (aquela realizada no período chuvoso), normalmente voltada à produção básica de milho e feijão consorciados. Além disso, Alcino planta cana-de-açúcar, melancia, melão e batata-doce, adotando a prática da rotação de culturas.
José Marques Furtado, técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater-PB), recorda que, na grande seca entre 1979 e 1993, viu muito caixão de anjo, não existia energia elétrica ou água gelada na zona rural. Hoje há políticas públicas, custeios e a qualidade de vida no sertão mudou muito. “O que derrubou o algodão, naquela época, não foi o bicudo, mas o preço. Há perfeitas condições de recuperação dessa cultura”, afirma.
Comercialização difícil
Segundo Vânia, no momento, a grande dificuldade está na comercialização. A feira agroecológica ainda é saída para a produção. “Mas ninguém vai deixar de comprar arroz e feijão para comprar fruta”, observa. Ela pensa agora no processamento dos frutos para evitar perdas.
De qualquer forma, o maior volume de escoamento para o pequeno produtor está nos programas de aquisição do governo, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Vânia lamenta a queda recente na demanda desses programas.
“O PAA entrou na pesca e dividiu um pouco a verba”, explica Marques. O pescador tem o Seguro-Defeso. A única saída para muitos agricultores que dependem da agricultura de sequeiro, além do Garantia-Safra, que é bem menor, ainda é migrar para o corte de cana-de-açúcar”, acrescenta.
* A jornalista viajou à Paraíba a convite da Inter Press Service – News Agency (IPS)