Seguimos cavando a nossa extinção

A imagem mostra um espaço urbano com lixo descartado de forma inadequada. No canto inferior direito e ao redor de uma estrutura de concreto, há vários sacos plásticos contendo fezes de cachorro jogados no chão, em vez de serem descartados corretamente em uma lixeira. O local possui uma calçada de piso cerâmico, parcialmente coberta por grama e folhas secas. O concreto da calçada e da estrutura aparenta desgaste, com rachaduras e pedaços quebrados. Ao fundo, há um trecho de rua asfaltada
Sacos plásticos contendo fezes de cachorro jogados no chão denunciam como estamos longe de sermos ‘civilizados’ | Foto: Maristela Crispim

Em minhas aulas, palestras e entrevistas, eu sempre costumo lembrar que a Terra existe há aproximadamente 4,5 bilhões de anos, passou por cinco extinções de espécies em massa até que os mamíferos pudessem existir e que o homo sapiens está por aqui há irrisórios 300 mil anos.

Em nosso processo “evolutivo”, enquanto seres humanos, domesticamos as plantas há aproximadamente 12 mil anos, iniciamos a Revolução Industrial há cerca de 225 anos e intensificamos a produção industrial há 75 anos, no início da década de 1950, logo após a Segunda Guerra Mundial.

Neste curto espaço de tempo, fomos capazes de iniciar o que os cientistas denominam de sexta extinção em massa de espécies, a do Antropoceno, ou seja, uma extinção não causada por fenômenos naturais, mas pelos nossos próprios atos e que segue orquestrada pela ganância. Agora você deve se perguntar o que tudo isso tem a ver com a imagem acima.

Tirei essa foto nesta semana na minha caminhada entre a academia e a minha casa, num bairro de classe média da cidade de Fortaleza. Confesso que fiquei chocada e a me perguntar o que leva uma pessoa a sair para passear com seu cachorro, recolher as fezes do animal e largar o saquinho na rua? Que educação pela metade é essa? Que “evolução” é essa? Como exigir dos nossos governantes uma boa negociação climática se não fazemos o básico?

A imagem me tocou porque sempre ando a refletir sobre quem somos e como agimos desde os gestos mais simples. Felizmente, caminhando pelo mesmo quarteirão, fiz esta segunda foto, das raízes de uma árvore que seguem crescendo e quebrando o cimento que teima em contê-las, uma prova de que a natureza vai continuar do seu jeito, a despeito da sexta extinção em massa, felizmente. Se nós sobreviveremos a isso já é outra questão.

A imagem mostra um conjunto de raízes grossas e retorcidas de uma árvore que cresceram sobre uma calçada, deslocando e quebrando os blocos de concreto que formavam o piso. As raízes apresentam uma textura rugosa e coloração escura, com tons de marrom e preto, indicando exposição ao tempo e umidade. Entre as raízes, há folhas secas espalhadas, reforçando o aspecto natural da cena. Algumas peças de concreto permanecem presas entre as raízes, enquanto outras estão soltas ao redor
Cena comum, que passa despercebida, mostra como a natureza encontra o seu caminho perante as intervenções humanas | Foto: Maristela Crispim

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