Por Andréia Vitório
Colaboradora
Amargosa / Mutuípe (BA). O chão da Bahia vem tremendo, mais precisamente nas regiões do Recôncavo e do Baixo Sul. Segundo dados do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN), os episódios de maiores magnitudes foram os de 4,2, 3,7 e 3,5 na Escala Richter nos dias 30 e 31 de agosto na região das cidades de Mutuípe, no Vale do Jiquiriçá, e Amargosa, no Recôncavo Baiano. De lá para cá, outros sismos menores foram registrados e sentidos pela população, a exemplo do ocorrido no dia 27 de setembro em São Miguel das Matas, também no Vale do Jiquiriçá.
Para entender melhor o fenômeno, é importante saber que a região de Amargosa, uma das mais afetadas pelos eventos recentes, está na proximidade de fragmentos de placas antigas continentais, com rochas de idades de formação iguais ou mais antigas a 2 bilhões de anos. “Essas rochas são o embasamento de bacias sedimentares, como Camamu e Recôncavo, que foram construídas quando o Supercontinente Pangea quebrou e originou os continentes Sul-Americano e Africano, separados pelo Oceano Atlântico. Durante esse quebramento, foram formadas estruturas profundas (falhas geológicas) que podem ser usadas para dissipar a energia acumulada na crosta sob a forma de terremotos”, explica Jailma de Souza de Oliveira, professora do curso de Geologia do Instituto de Geociências (Igea) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Ela conta também que os novos dados que estão sendo capturados podem mostrar se os tremores de baixa magnitude registrados são relacionados à dissipação da energia residual do tremor principal, do dia 30 de agosto, ou não. Sobre o que vem pela frente, a pesquisadora diz que não é possível prever e que é necessário entender se o aumento de registros está relacionado a fatores naturais, associados à dinâmica interna do planeta Terra; ao fato de que nesses últimos anos houve um aumento de investimento na Rede Sismográfica Brasileira, permitindo uma melhor qualidade dos dados; ou, ainda, com o aumento populacional nas cidades e na zona rural, o que pode ter contribuído para aumentar a percepção desses fenômenos por parte da população.
Engana-se quem pensa que esses tremores são novidade por lá. Os últimos sismos registrados na região de Amargosa e o histórico obtido por meio da Rede Sismográfica Brasileira para o Estado da Bahia demonstram que há sismicidade recorrente, com registros de terremotos desde o início do século XVIII.
Pesquisa no Nordeste
Para que seja possível um maior detalhamento desses episódios recentes, foram instalados nove sismógrafos em sete cidades baianas: Amargosa, Brejões, Elísio Medrado, Laje, Mutuípe, São Miguel das Matas e Ubaíra. Apesar dos esforços, seis das estações estão sem conexão com a internet, por estarem em áreas remotas, de acordo com informações do LabSis.
Neste mês de outubro, uma equipe de pesquisadores irá fazer a manutenção e coletar dados registrados pelos equipamentos, que conseguem detectar eventos de pequenas proporções que não são sentidos pela população, mas que são importantes para acompanhar a evolução da sismicidade ao longo do tempo.
O coordenador do LabSis e professor titular do Departamento de Geofísica da UFRN, Aderson Nascimento, comenta que chamou a atenção a magnitude dos eventos ocorridos em agosto e que na região do Recôncavo Baiano sismos com magnitude perto de 1 já podem ser sentidos pelos moradores, porque a área central é muito próxima de onde as pessoas residem.
Atualmente, o Brasil possui uma rede sismográfica com cerca de 90 estações, com cerca de 20 delas no Nordeste do Brasil: “A gente conhece a sismicidade no Rio Grande do Norte, no Ceará, em Pernambuco e na região entre Alagoas e Sergipe. Esse tipo de sismicidade é comum no Nordeste do Brasil”, explica o pesquisador. Ele lembra, ainda, dos maiores tremores da região: um no Ceará, de magnitude 5.2 em 1980 e outros dois no Rio Grande do Norte, também com magnitudes acima de 5 – que são os mais preocupantes – em 1986 e 1989.
A Ciência a favor da sociedade
Geofísico e professor do Departamento de Geofísica da UFBA, Joelson da Conceição Batista explica como o estudo na área pode ser revertido em melhorias para a população: “a partir de equipamentos altamente sensíveis e profissionais capacitados, conseguimos, por meio da pesquisa sismográfica, disponibilizar um aparato de informações para órgãos públicos e população sobre como deve-se agir em casos de tremores e de que forma se comportar na eminência desses sismos, além de direcionar estudos sobre edificações, orientando onde é recomendado construir ou não, por exemplo. É nossa missão também instruir governantes e autoridades. É importante o poder público se preparar com foco em reduzir o impacto na população”, detalha.
Questionado se há uma relação entre a degradação ambiental e os eventos da Bahia, ele frisa que ação do homem não pode promover tremores do tipo que estão sendo registrados por lá e na Costa Nordestina – como o de magnitude 6.9 na escala Richter nas proximidades do Arquipélago São Pedro e São Paulo, em Pernambuco. Também, vale destacar, não foram registrados impactos ambientais oriundos dos sismos. Ocorreram, no entanto, pequenas avarias nas construções civis no caso da Bahia.
Genericamente, estão entre os principais impactos ambientais oriundos de um terremoto de intensidade maior eventos como derrame de produtos químicos e combustíveis de tanques de estocagem contaminando solo e águas subterrâneas e perturbação dos ecossistemas costeiros e marinhos advinda da turbidez originada pela agitação das águas (tsunamis) e dos sedimentos do fundo do mar.
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