Fortaleza – CE. Os dias 10 e 11 de agosto foram marcados por incêndios na Floresta Amazônica de uma forma única, até então, na nossa história, justo no momento em que o Governo Federal declarou não precisar do Fundo Amazônia para proteger uma das maiores biodiversidades do Planeta, de cujo equilíbrio depende, inclusive, a nossa regulação climática.
Diante disso, milhares de Fortalezenses se reuniram, na tarde / noite desse sábado (24), na Praça Portugal, num movimento pela preservação da Biodiversidade da Floresta Amazônica. Após o ato, os participantes seguiram pelas avenidas Desembargador Moreira e Abolição, até o Aterro da Praia de Iracema.
Segundo Gabriel Aguiar, do Greenpeace Fortaleza e Instituto Verdeluz, o ato surgiu de uma forma espontânea, por pessoas que não participam de nenhum grupo, mas que se revoltaram com o que estava acontecendo. Num segundo momento, os movimentos socioambientais de Fortaleza se articularam para apoiar e fortalecer o ato, incluindo o Ceará no Clima, Fortaleza pelas Dunas, Movimento Pró-Árvore, Repense Sustentabilidade e SOS Cocó, “uma participação ampla de todos que estão assistindo a Amazônia ser incinerada”.
Para João Alfredo, presidente a Comissão de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Ceará (OAB-CE), estamos vivendo uma das situações mais difíceis dos últimos 40 / 50 anos na história ambiental, com o desmonte da legislação ambiental, “a ponto de o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) hoje só ter representação governamental e empresarial; o Ministério do Meio Ambiente (MMA) não ser instinto, mas ser completamente desidratado; corte de recursos; proibição da fiscalização; investida contra o Fundo Amazônia. É um ataque desde o início do ano. Agora, a sociedade brasileira e o mundo está pressionando a ponto de o próprio governo recuar, diante da possibilidade de boicote ao agronegócio. Mas não temos ideia do tamanho do estrago e da capacidade de reversão disso”, declarou.
Assista vídeo com as entrevistas:
Outras cidades nordestinas que também se manifestaram pela Floresta Amazônica nesse sábado foram Aracaju (SE), Maceió (AL), Recife (PE), Natal (RN), Mossoró (RN), Jericoacoara (CE), São Luís (MA) e João Pessoa (PB).
Cidades do Nordeste que ainda realizarão suas mobilizações neste domingo (25):
- Arraial D’Ajuda (BA) – 15h – Praça da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda
- João Pessoa (PB) – 15h – Busto de Tamandaré
- Campina Grande (PB) – 10h – Praça da Bandeira
- Floresta (PE) – 5h30 – em frente ao Posto Compare
- Belém de São Francisco (PE) – 12h30 – em frente ao Batalhão da PM
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 2019 está sendo ano de recordes de queimadas, que cresceram 82% em relação a igual período do ano anterior, registrando 71.497 focos de incêndio contra 39.194 em 2018.
O método de atear fogo e incinerar a floresta para “limpar o terreno”, utilizado por ruralistas na região da BR-163, é praticado para propiciar a criação de gado e cultivo de monocultura transgênica em consórcio com agrotóxicos, produtos do agronegócio latifundiário – que não produz alimentos, pois o objetivo é produzir lucro.
Essa prática polui as águas superficiais e subterrâneas, esgota a riqueza biológica e de nutrientes da terra e os produtores saem da área destruída para outro lugar. Gera danos irreparáveis à Biodiversidade, mas também às pessoas que vivem diretamente em contato com a mata.
Os incêndios se estenderam para 68 áreas protegidas, entre Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs) ainda em processo de demarcação e cujas lideranças estão sendo ameaçadas.
Devido à falta de apoio, tanto da Polícia Militar quanto da Força Nacional, bases de fiscalização do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram desmobilizadas na região do Pará, afetadas pelo desmonte da política ambiental do País. O resultado? Os municípios de Novo Progresso (PA) e Altamira (PA) lideram o ranking com mais registros de fogo nos últimos dias.
No dia 19 de agosto, a cidade de São Paulo viu “o dia virar noite” com a chegada de um “eclipse de fumaça” advinda das queimadas no bioma amazônico. Nesse dia, a maior cidade brasileira testemunhou, ainda, uma inacreditável chuva negra.
Após cortar 95% do orçamento destinado a combater as Mudanças Climáticas e renunciar a candidatura para sediar a COP25, o atual Governo Federal ignora dados do Inpe e, diante do aumento do desmatamento da Amazônia, o maior de todos os tempos, acusa, sem fundamentação alguma, as ONGs que atuam pela conservação da Amazônia de estarem incentivando as queimadas.
A Amazônia é a maior floresta tropical do Planeta em tamanho e diversidade de espécies, cuja cobertura vegetal mantém um equilíbrio de carbono, sendo responsável pela recarga de aquíferos e boa parte da chuva que se precipita no continente. Sua queima agrava o Efeito Estufa, intensificando o Aquecimento Global e Mudanças Climáticas.
Protestos contra a destruição da nossa maior floresta estão sendo convocados em todo o país e no mundo nos próximos dias, pela preservação da Amazônia e em defesa dos povos indígenas e quilombolas.