Nordeste vai às ruas em defesa da Floresta Amazônica

O ato reuniu desde pessoas que não fazem parte de movimentos até integrantes de diversas organizações socioambientais | Foto: Filipe Pereira

Fortaleza – CE. Os dias 10 e 11 de agosto foram marcados por incêndios na Floresta Amazônica de uma forma única, até então, na nossa história, justo no momento em que o Governo Federal declarou não precisar do Fundo Amazônia para proteger uma das maiores biodiversidades do Planeta, de cujo equilíbrio depende, inclusive, a nossa regulação climática.

Diante disso, milhares de Fortalezenses se reuniram, na tarde / noite desse sábado (24), na Praça Portugal, num movimento pela preservação da Biodiversidade da Floresta Amazônica. Após o ato, os participantes seguiram pelas avenidas Desembargador Moreira e Abolição, até o Aterro da Praia de Iracema.

Segundo Gabriel Aguiar, do Greenpeace Fortaleza e Instituto Verdeluz, o ato surgiu de uma forma espontânea, por pessoas que não participam de nenhum grupo, mas que se revoltaram com o que estava acontecendo. Num segundo momento, os movimentos socioambientais de Fortaleza se articularam para apoiar e fortalecer o ato, incluindo o Ceará no Clima, Fortaleza pelas Dunas, Movimento Pró-Árvore, Repense Sustentabilidade e SOS Cocó, “uma participação ampla de todos que estão assistindo a Amazônia ser incinerada”.

Os manifestantes se reuniram em torno de 16h, na Praça Portugal | Foto: JP Crispim

Para João Alfredo, presidente a Comissão de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Ceará (OAB-CE), estamos vivendo uma das situações mais difíceis dos últimos 40 / 50 anos na história ambiental, com o desmonte da legislação ambiental, “a ponto de o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) hoje só ter representação governamental e empresarial; o Ministério do Meio Ambiente (MMA) não ser instinto, mas ser completamente desidratado; corte de recursos; proibição da fiscalização; investida contra o Fundo Amazônia. É um ataque desde o início do ano. Agora, a sociedade brasileira e o mundo está pressionando a ponto de o próprio governo recuar, diante da possibilidade de boicote ao agronegócio. Mas não temos ideia do tamanho do estrago e da capacidade de reversão disso”, declarou.

Assista vídeo com as entrevistas:

Outras cidades nordestinas que também se manifestaram pela Floresta Amazônica nesse sábado foram Aracaju (SE), Maceió (AL), Recife (PE), Natal (RN), Mossoró (RN), Jericoacoara (CE), São Luís (MA) e João Pessoa (PB).

Cidades do Nordeste que ainda realizarão suas mobilizações neste domingo (25):

  • Arraial D’Ajuda (BA) – 15h – Praça da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda
  • João Pessoa (PB) – 15h – Busto de Tamandaré
  • Campina Grande (PB) – 10h – Praça da Bandeira
  • Floresta (PE) – 5h30 – em frente ao Posto Compare
  • Belém de São Francisco (PE) – 12h30 – em frente ao Batalhão da PM

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 2019 está sendo ano de recordes de queimadas, que cresceram 82% em relação a igual período do ano anterior, registrando 71.497 focos de incêndio contra 39.194 em 2018.

O método de atear fogo e incinerar a floresta para “limpar o terreno”, utilizado por ruralistas na região da BR-163, é praticado para propiciar a criação de gado e cultivo de monocultura transgênica em consórcio com agrotóxicos, produtos do agronegócio latifundiário – que não produz alimentos, pois o objetivo é produzir lucro.

Essa prática polui as águas superficiais e subterrâneas, esgota a riqueza biológica e de nutrientes da terra e os produtores saem da área destruída para outro lugar. Gera danos irreparáveis à Biodiversidade, mas também às pessoas que vivem diretamente em contato com a mata.

Os incêndios se estenderam para 68 áreas protegidas, entre Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs) ainda em processo de demarcação e cujas lideranças estão sendo ameaçadas.

Devido à falta de apoio, tanto da Polícia Militar quanto da Força Nacional, bases de fiscalização do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram desmobilizadas na região do Pará, afetadas pelo desmonte da política ambiental do País. O resultado? Os municípios de Novo Progresso (PA) e Altamira (PA) lideram o ranking com mais registros de fogo nos últimos dias.

No dia 19 de agosto, a cidade de São Paulo viu “o dia virar noite” com a chegada de um “eclipse de fumaça” advinda das queimadas no bioma amazônico. Nesse dia, a maior cidade brasileira testemunhou, ainda, uma inacreditável chuva negra.

Após cortar 95% do orçamento destinado a combater as Mudanças Climáticas e renunciar a candidatura para sediar a COP25, o atual Governo Federal ignora dados do Inpe e, diante do aumento do desmatamento da Amazônia, o maior de todos os tempos, acusa, sem fundamentação alguma, as ONGs que atuam pela conservação da Amazônia de estarem incentivando as queimadas.

A Amazônia é a maior floresta tropical do Planeta em tamanho e diversidade de espécies, cuja cobertura vegetal mantém um equilíbrio de carbono, sendo responsável pela recarga de aquíferos e boa parte da chuva que se precipita no continente. Sua queima agrava o Efeito Estufa, intensificando o Aquecimento Global e Mudanças Climáticas.

Protestos contra a destruição da nossa maior floresta estão sendo convocados em todo o país e no mundo nos próximos dias, pela preservação da Amazônia e em defesa dos povos indígenas e quilombolas.

Após o ato na Praça Portugal, os manifestantes saíram em passeata até o Aterro da Praia de Iracema | Foto: JP Crispim

 

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