Mulheres denunciam megaprojetos eólicos

A imagem mostra uma mulher de cabelo longo e cacheado, vestindo uma camiseta roxa, falando ao microfone em um evento ao ar livre. Ela segura um celular na mão esquerda e parece engajada, com uma expressão determinada e confiante. Ao fundo, há uma multidão de pessoas, muitas delas usando roupas em tons de rosa e roxo, segurando bandeiras e cartazes, sugerindo um evento de mobilização social ou protesto. Algumas pessoas na plateia estão usando chapéus e segurando guarda-chuvas coloridos. Tendas brancas e árvores estão visíveis ao fundo, indicando que o evento acontece em um espaço público ou praça
A 16ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia mobilizou cerca de 6 mil pessoas, durante 5 horas, em Esperança na Paraíba | Foto: Túlio Martins

Quem esteve na 16ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que ocupou as ruas de Esperança (PB) na última quinta-feira (13), se deparou com uma diversidade de representações de outros estados nordestinos que reforçaram a reivindicação pela regulamentação dos projetos eólicos instalados na região. Cerca de 6 mil pessoas estiveram no ato, que teve concentração e encerramento na Praça da Cultura e duração de quase 5 horas ininterruptas.

A mobilização costuma atrair um público de outros estados por ser a segunda maior marcha de mulheres do Brasil, mas a presença do povo indígena Kapinawá, de comunidades pescadoras e agricultoras impactadas pelas eólicas em seus territórios, reafirma a urgência de um modelo de geração de energia renovável que não devaste a Caatinga e os modos de vida tradicionais.

“O que nós queremos é afirmar a importância que tem o território da Borborema na produção de alimentos, na construção da Agroecologia e da Convivência com o Semiárido. O Brasil precisa de uma legislação que regule como as empresas chegam aos territórios, que tem sido em forma de agressão e violação de direitos”, explica Roselita Victor, coordenadora do Polo da Borborema e integrante da coordenação da marcha.

Essas agressões e violações são descritas com detalhes na carta política da 16ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia: “hoje ocupamos e compartilhamos as ruas com dezenas de famílias do nosso território que vivem ao lado do Parque Eólico Serra da Borborema. Essas famílias camponesas já vivem, há quase um ano, os assombros das explosões, das cisternas e casas rachadas, da mudança das estradas, do aumento do tráfego de pessoas e carros, do cercamento das áreas comuns, do arrendamento dos reservatórios de água, da fuga e a invasão dos animais silvestres”.

O cacique Robério Francisco Maia, do povo indígena Kapinawá (PE), conta que decidiu se somar à marcha “em defesa da vida”. Ele diz que, se for necessário, os Kapinawá vão “andar o Brasil todo para juntar forças” para resistir contra a implementação de parques eólicos. “Viemos aqui pedir encarecidamente que os governantes se sensibilizem e vão até os territórios, sintam na pele o que as comunidades estão sentindo. É uma luta pela vida, pela vida das nossas matas, da mãe terra, para garantir o futuro dos nossos curumins”, acrescenta.

Agricultora, sindicalista e representante do Rio Grande do Norte no Movimento dos Atingidos pelas Renováveis (MAR), Francisca Barbosa, faz questão de garantir que os impactos dos aerogeradores “não acontecem só no meu Estado”. “Quando eles chegaram lá, eu já vivia, mas eles não querem saber disso. Eles chegam aonde tem criança e idoso e simplesmente implantam aquilo ali. Não dizem qual é o malefício, todo tipo de doença. A gente está pedindo socorro. É para isso que a gente está aqui marcha, nos fortalecer e sair pronto para resolver”.

A marcha é uma realização das mulheres do Polo da Borborema, um coletivo de sindicatos rurais de 13 municípios do território da região paraibana, cerca de 150 associações comunitárias, uma associação de agricultores e agricultoras agroecológicos, a EcoBorborema, e uma cooperativa, a CoopBorborema.

Junto a elas, estão as mulheres da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA) – Paraíba, da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), Rede Feminismo e Agroecologia, Rede Ater Nordeste, do GT de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), do Movimento de Atingidos pelas Renováveis (MAR), do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado da Paraíba (Fetag-PB) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).

Foto de mulher segurando buque de flores brancas e amarelas. Ela usa camiseta rosa choque, lenço roxo no pescoço, chapéu de palha e óculos e estampa um grande sorriso. Atrás dela aparecem outras três mulheres, uma delas também com chapéu de palha
As mulheres participaram em peso da marcha, que reuniu outros grupos, entre eles indígenas da etnia Kapinawá, de Pernambuco | foto: Flávio Costa

Território de produção de alimentos

A região da Borborema (PB) é responsável pelo abastecimento de muitos produtos que chegam à mesa dos consumidores. Corresponde a 100% da produção de tangerina e de mudas de frutas cítricas do Estado, além de 70% da produção de laranja, 45% de limão, 16% de banana. Também a 51% da produção de abacate, 58% de jaca e 81% de jabuticaba. É responsável por 52% da produção de folhosas, além de 68% de abobrinha, 56% de berinjela e 71% do pepino.

Além dessas, são cultivadas lavouras importantes: 36% da batata inglesa, 28% da fava, 63% do feijão preto e 59% dos feijões carioquinha e mulatinho e 12% do feijão macassar. A Borborema é a maior produtora de sementes de feijão da Paraíba. Com relação ao milho, é responsável por 8,5% da produção do Estado e se destaca pelo trabalho de resgate e conservação das sementes crioulas e o beneficiamento de milho livres de transgênicos.

Apesar da irregularidade das chuvas no ano de 2024, foram beneficiados com a marca agroecológica “Da Paixão”, cerca de 20 toneladas de produtos derivados de milho, dentre flocão, xerém, fubá e mungunzá. Esses produtos são destinados ao abastecimento das feiras agroecológicas, as feiras livres, as Quitandas da Borborema, o grande mercado consumidor de Campina Grande, e também de João Pessoa, Natal, Recife e até São Paulo.

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