Degenerado Tibira: mostra retoma primeiro caso de transfobia

Arte com imagem de Indígena home, de cabelos longos negros, com vestes tradicionais de sua etnia, segurando uma hóstia próximo à sua boca aberta, em frente a uma igreja

Primeira Descomunhão, obra de Indja, artista indígena da etninia Kariri, contemplado na exposição.

Fortaleza (CE). Tibira do Maranhão foi um personagem da história não oficial brasileira, pertencente ao povo originário Tubinambá. A história desse personagem foi marcada pelo que hoje entendemos como o primeiro caso documentado, na história do Brasil, do que atualmente se compreende por crime de homotransfobia. Tibira foi perseguido e assassinado de forma cruel, no séc. XVII, nas terras do que hoje é o Estado do Maranhão, a mando de frades franceses da ordem dos Capuchinhos, pelo crime de sodomia, sob a justificativa de purificar a terra de todas as maldades.  Tibira foi batizado forçadamente e depois foi amarrado à boca de um canhão, tendo o corpo estraçalhado pela explosão.

Inspirado na trajetória de Tibira do Maranhão e em toda a luta que o movimento LGBTQIAPN+. enfrenta ao longo do tempo, desde períodos mais longínquos da história, a capital cearense sedia a exposição “DEGENERADO TIBIRA: O DESBATISMO”.  Aberta ao público na Casa Barão de Camocim, a atração conta com curadoria do cearense Eduardo Bruno e do paraibano Waldirio Castro, em uma seleção com mais de 30 obras de diversos artistas locais, nacionais e internacionais que nos leva à reflexão sobre o cristianismo e a população LGBTQIAPN+ a partir da ótica do primeiro caso de morte por homotransfobia que se tem registro no Brasil.

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A partir da história do personagem, os curadores Eduardo Bruno e Waldírio Castro buscam propor uma exposição performática como exercício de romper com a morte e os silenciamentos físico, simbólico e histórico impostos aos corpos LGBTQIAPN+.

“Acredito que a expografia cria um espaço que possibilita a materialização de um ambiente que se diferencia um pouco das exposições tradicionais. Pensar em uma proposição onde as obras que compõem o ambiente remetam a ideia de “desbatismo” é uma forma de provocar um olhar crítico aos visitantes da exposição. Deste modo, ao imergir nas imagens e vídeos propostas pela curadoria, o público pode experimentar ter um outro olhar para as narrativas hegemônicas impostas pela lógica cis-hetero-cristã”, destaca Waldírio Castro, curador e artista.

Sobre o processo de seleção do material exposto, Eduardo Bruno, um dos curadores da mostra, considera o conteúdo da exposição extremamente necessária para repensar as perspectivas em torno da história da arte e da estética para a população LGBT.

“Historicamente a história da arte tem privilegiado narrativas de homens brancos, cis, classe média alta e heterossexuais. Se a gente for fazer um vasculho na história da arte a grande maioria contemplada são essas pessoas e quando é uma pessoa desviante,  suas características desviantes são apagadas o quanto possível do contexto da sua produção artística. A curadoria deste material buscou construir uma tensão também na história da arte por produzir uma exposição exclusivamente com artistas LGBTs, trazendo à vista esses artistas e a sua produção artística”, ressaltou Eduardo Bruno, um dos curadores.

E completa: “além disso essa exposição foi toda construída a partir da memória de um mártire, né? Da população LGBT que é o Tibira. Ou seja, ao mesmo tempo que a gente traz a vista a produção de artista LGBTs, a gente traz à vista a história do que foi considerado a primeira morte por homotransfobia no Brasil. Então a curadoria desse material  intenciona duplamente os aspectos das histórias oficiais do Brasil, seja a história da arte, seja a história e quanto narrativa de fatos históricos.”

Sobre o processo de seleção do material exposto, Eduardo Bruno, um dos curadores da mostra, considera o conteúdo da exposição extremamente necessária para repensar as perspectivas em torno da história da arte e da estética para a população LGBT.

“Historicamente a história da arte tem privilegiado narrativas de homens brancos, cis, classe média alta e heterossexuais. Se a gente for fazer um vasculho na história da arte a grande maioria contemplada são essas pessoas e quando é uma pessoa desviante,  suas características desviantes são apagadas o quanto possível do contexto da sua produção artística. A curadoria deste material buscou construir uma tensão também na história da arte por produzir uma exposição exclusivamente com artistas LGBTs, trazendo à vista esses artistas e a sua produção artística”, ressaltou Eduardo Bruno, um dos curadores.

E completa: “além disso essa exposição foi toda construída a partir da memória de um mártire, né? Da população LGBT que é o Tibira. Ou seja, ao mesmo tempo que a gente traz a vista a produção de artista LGBTs, a gente traz à vista a história do que foi considerado a primeira morte por homotransfobia no Brasil. Então a curadoria desse material  intenciona duplamente os aspectos das histórias oficiais do Brasil, seja a história da arte, seja a história e quanto narrativa de fatos históricos.”

A mostra se constrói enquanto uma produção de visualidades em torno da ideia de desbatismo e do tensionamento da população LGBTQIAPN+ e suas múltiplas interseccionalidades aos dogmas do cristianismo conservador que, historicamente, violentam essa população. Com isso, promove, de modo anacrônico, um exercício de reparação histórica para esse personagem da história não oficial brasileira, juntamente a um processo de investigação de (recriação das narrativas de nossas próprias histórias e vidas.

A exposição questiona a tradição cristã do batismo, ao desbatizar corpos LGBTQIAPN+ como forma de abdicar uma ideia de salvação que exclui, silencia e mata corpos desviantes e minorizados. Com isso, os idealizadores e artistas pretendem reimaginar outras possibilidades para as imposições coloniais-cristãs-europeias que atravessam os corpos das pessoas LGBTQIAPN+ de forma violenta até hoje.

Exposição

DEGENERADO TIBIRA: O DESBATISMO

A exposição segue até o dia 8 de setembro de 2023 com programação diversa de seminário, minicursos e performances, ficando aberta à visitação de terça à sexta das 10h às 17h e aos sábados, das 09h às 16h.

Local: Casarão Barão de Camocim, Centro, Fortaleza (CE)

O projeto é uma realização da Plataforma Imaginários, conta com o apoio cultural da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará) por meio do edital de Cidadania e Diversidade Cultural LGBTQIA+ (Lei nº 18.012 de 1º de abril de 2022). Conta ainda com a parceria dos equipamentos da Secult Ceará: Hub Cultural Porto Dragão e Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. O projeto também é resultado de uma parceria entre a Secretaria da Cultura de Fortaleza e do equipamento Casa Barão de Camocim; do Instituto Dragão do Mar, do Instituto Iracema, da D21, do NeuroFilms e da Coleção Amazoniana.

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