No País, cada latinha de bebida, quando descartada, leva de 28 a 60 dias para retornar às prateleiras dos supermercados
A reciclagem de alumínio é um negócio sempre em alta no Brasil e ainda deve crescer mais. As maiores empresas do País no segmento, a Novelis e Latasa, sediadas em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, revelam planos para expandir as suas atividades. Em 2019, a Latasa pretende abrir 15 novos centros de coleta de sucata em diversas regiões do País (atualmente são 24); e, até o primeiro trimestre, inaugurar uma fábrica de refusão de alumínio em Minas Gerais, que se somará às unidades que já possui na Capital e no Interior de São Paulo, e no Mato Grosso do Sul.
“Temos uma meta de crescimento contínuo, baseada na capacitação dos nossos colaboradores e no investimento em tecnologia”, explica Antonio Carlos Assis, diretor de Marketing e Novos Negócios do Grupo Recicla BR, holding à qual a Latasa pertence.
Na Novelis, o objetivo é aumentar o índice de alumínio reciclado em sua produção. A empresa é a maior recicladora de latas do metal do País (mais de 15 milhões de unidades/ano) e a única que produz chapas para a confecção de latas de bebida. No mais recente ano fiscal (abril de 2017 a março 2018), a Novelis produziu 523 mil toneladas de alumínio laminado (66% desse com material pós-consumo). Esse percentual, crescente ano após ano, é maior do que a média mundial da Novelis: 57%.
“A Novelis e a Latasa são ótimos exemplos de empresas nacionais que respondem a uma tendência no mundo: a demanda cada vez maior por produtos sustentáveis, de baixa pegada de carbono”, explica Milton Rego, presidente-executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). “Nesse sentido, a reciclagem de latas de alumínio no Brasil é um case de economia circular”, completa.
Além de um centro de coleta de latas, da planta de refusão da Latasa e da fábrica da Novelis, em Pindamonhangaba, considerada a capital da reciclagem de alumínio, não muito distante dali, na vizinha Jacareí, está instalada fábrica da Ball, a maior produtora do mundo de latas de alumínio, fechando o ciclo que leva a lata de bebida do lixo de volta às mãos dos consumidores.
Sobre a reciclagem, Milton Rego destaca que cerca de 70% de todo o alumínio produzido desde da Segunda Guerra Mundial no Planeta ainda é utilizado e que este é o material que garante mais renda aos catadores, tendo um valor 33 vezes maior que o plástico, por exemplo.
Destaque Mundial
O Brasil detém, há mais de dez anos consecutivos, o recorde mundial de reciclagem de latas de alumínio, com 97,7% de aproveitamento em 2016. “A cadeia de reciclagem de latas está consolidada no País e é um exemplo para os demais setores da nossa indústria”, explica Milton Rego. O País deixa para trás Japão (92,4%), Europa (71,3%) e Estados Unidos (63,9%).
O alumínio pode ser infinitamente reciclado, pois não perde as suas características. A produção de alumínio secundário, ou seja, oriundo da reciclagem, consome 95% menos de energia elétrica do que o que se gasta para produzir o chamado alumínio primário, aquele originado a partir do processo de transformação da bauxita. Adicionalmente, emite 95% menos dos Gases de Efeito Estufa (GEE).
No Brasil, em 2017, foram consumidas 1.263 mil toneladas de alumínio, um volume considerável, sendo a maior parte no setor de embalagens (37,2%), seguido por transportes (16,5%), construção civil (12,2%) e eletricidade (11,6%). Somente na etapa da coleta das latinhas, R$ 947 milhões foram injetados na economia do País em 2016. A Abal faz a seguinte analogia: “se fosse uma empresa, ‘Coleta S.A.’, estaria entre as 600 maiores do Brasil”.
Vale destacar que, em 2017, a produção de alumínio primário foi de 802 mil toneladas. Já a produção a partir da sucata recuperada foi de 683 mil toneladas. Ou seja, quase a metade do que foi consumido veio da reciclagem e não diretamente da natureza, com redução significativa na Pegada Ecológica.
O que faz do Brasil esse fenômeno em reciclagem de latas de alumínio? A Abal enumera, em primeiro lugar, tratar-se de um material de fácil coleta, transporte e reciclagem; depois, a existência de um sistema estruturado que garante a demanda regular e a remuneração da cadeia produtiva; por fim, o crescimento dos programas municipais de coleta seletiva e a conscientização da sociedade fecham este ciclo.
Estrutura nacional
Criado em 2013, o Grupo Recicla BR administra várias empresas do segmento de metais e é o maior grupo de reciclagem de metais não ferrosos do Brasil. Entre estas empresas, está a Latasa Reciclagem, pioneira na implantação do sistema integrado de coleta e fundição de latas de alumínio, a partir de 1991. Líder do mercado, possui três plantas no Estado de São Paulo e processa mais de 200 mil toneladas de alumínio por ano. São 24 centros de coleta em 13 estados, incluindo Ceará e Pernambuco, no Nordeste.
Uma curiosidade: possui logística integrada, especialmente projetada para entrega de alumínio líquido. Para isso, são utilizadas panelas especiais para o transporte, com capacidade e três a sete toneladas. O material fica acondicionado a uma temperatura aproximada de 780ºC e chega ao cliente pronto para ser usado para os mais diversos fins.
Da Índia para o Brasil
A planta da Novelis de Pindamonhangaba não fica muito distante da Latasa Reciclagem. Quando o alumínio líquido chega lá entra direto na linha de produção. A empresa é líder mundial em laminados de alumínio e também é a maior recicladora do metal no mundo. Ele é utilizado nos setores de transportes, embalagens, latas para bebidas e construção civil, entre outros.
A empresa atua em 24 unidades, distribuídas por dez países, nas Américas do Norte e do Sul, Ásia e Europa. Com cerca de 11 mil profissionais, é subsidiária da Hindalco Aditya Birla Group, um conglomerado multinacional sediado em Mumbai, na Índia. Com sede em Atlanta, no Estado da Geórgia (EUA).
No Brasil, no Interior de São Paulo, possui atividades de laminação em Pinda, como a cidade é carinhosamente chamada por seus habitantes; e em Santo André, sendo esta primeira a maior da América do Sul, com capacidade instalada para a produção de 600 mil toneladas de chapas de alumínio por ano, utilizadas principalmente para a fabricação de latas de bebidas. Possui nove centros de coleta de sucata de alumínio em seis Estados, sendo uma no Nordeste, em Recife.
Líder mundial na fabricação de latas
Fundada em 1880 por cinco irmãos, nos Estados Unidos, a Ball Corporation está presente em mais de 30 países. Opera dois negócios diferentes: embalagens e aeroespacial, em três setores: para bebidas; alimentos e aerossol; e aeroespacial. A sede fica em Broomfield, no Colorado (EUA).
Em 2016, adquiriu globalmente as operações da inglesa Rexam PLC, tornando-se se a maior fabricante do mundo de latas para bebidas. Possui mais de 17.500 funcionários. Cerca de 12 mil trabalham nas plantas embalagens de alumínio para bebidas, maior frente da Companhia, que representa mais de 75% do negócio.
A Ball conta com 120 unidades de produção no mundo, das quais 70 fabricam mais de 110 bilhões de latas alumínio para bebidas por ano. Na América do Sul são 13 plantas, com 2.311 funcionários. O Brasil é o terceiro maior produtor de latas alumínio para bebidas, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. São oito fábricas em seis Estados, sendo uma no Nordeste, em Recife (PE); e três para fabricação de tampas, sendo duas no Nordeste: em Recife e em Simão Filho (BA).
No ano passado, a Ball Embalagens para Bebidas América do Sul (BPSA) vendeu 13,2 bilhões de latas no Brasil, o que corresponde a 56% do total mercado brasileiro (23,7 bilhões). Já no Chile, foram cerca de 1,6 de latas vendidas em 2017, enquanto, na Argentina, esse número foi de 1,2 bilhões.
Vá de lata
O movimento foi criado pela Ball para despertar para as vantagens do uso das latas de alumínio sobre outros tipos de embalagens, como: proteger contra raios UV para manter o sabor da bebida; gelar de forma rápida e uniforme; e ser inviolável, impossibilitando a adulteração da bebida. Além disso, é 100% reciclável e, no Brasil, leva de 28 a 60 dias após o consumo para voltar às prateleiras, fortalecendo a cadeia da reciclagem, devido ao seu alto valor agregado como matéria-prima.
*A jornalista viajou a Pindamonhangaba a convite da Abal