Saberes são partilhados com africanos na comunidade Muxintató

Seu Francisco Linhares, mais conhecido como seu Chico Leite; e dona Antônia do Carmo receberam, em seu quintal produtivo, representantes de quatro países do continente africano: Senegal, Níger, Chade e Burkina Faso | Foto: IAC

 

Por João Marcos Nunes – Instituto Antônio Conselheiro (IAC)*

Senador Pompeu. O Semiárido brasileiro é uma trama de saberes, bordada pela fé, amor, diversidade e alegria das pessoas que aqui vivem. Todos os dias, brotam e amadurecem sonhos e experiências de convivência com a terra e em comunidade. Experimentar é partilhar e entrelaçar saberes, vivências e sentimentos. Essa troca só é possível quando estamos com os pés na terra dos quintais.

Na manhã o último dia 12, foi realizado um intercâmbio de experiências de convivência na residência da família do seu Francisco Linhares, mais conhecido como seu Chico Leite, e dona Antônia do Carmo, com representantes de quatro países do continente africano: Senegal, Níger, Chade e Burkina Faso.

Enquanto o ônibus com a comitiva se aproximava, seu Chico Leite e dona Antônia já estavam na porta de casa, esperando a chegada dos visitantes, para partilhar suas experiências de convivência com o Semiárido.

No quintal da família, não demorou muito para iniciar a conversa. Seu Chico, afirmou que aquele momento era muito especial para sua família e comunidade partilharem seus conhecimentos e demonstrarem o grande potencial de produção agroecológica de alimentos que ele e sua família fortalecem todos dias e enche seu coração de alegria e esperança.

A realização de momentos como estes, dentro dos quintais produtivos, possibilitam não só uma partilha de conhecimentos e saberes para os representantes destes países, mas também é um momento que contribui para o fortalecimento da família que constrói outra relação com a natureza e sabe que precisa ser partilhada.

O intercâmbio é uma ação da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), por meio do Fórum Regional pela Vida no Semiárido (FCVSA), e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

A família visitada mora na comunidade Muxintató, no município de Senador Pompeu, Sertão Central do Ceará, e seu Chico partilhou com os visitantes um retalho da sua história. Ele afirmou que, somente a partir do ano de 2006, a sua família conquistou uma cisterna de placas, mais um sonho transformado em realidade.

Com a água para consumo garantida, só faltava garantir a produção de alimentos para vida no campo ficar ainda melhor. E foi em 2013 que eles foram contemplados com uma cisterna de segunda água. Essas duas tecnologias foram apresentadas pela família para os visitantes.

Seu Chico destacou que, após a implementação das tecnologias, a vivência agroecológica permitiu que eles produzissem com mais saúde e afeto, “a gente é parceiro da terra e ela é também da gente”, comentou.

Reúso de águas

Além de mostrar como usa as águas das cisternas, seu Chico Leite apresentou a tecnologia social para o reaproveitamento da água já utilizada | Foto: IAC

Nesse momento de grande partilha de saberes, também foi apresentada a tecnologia social para o reaproveitamento da água já utilizada. Chamado “Reúso de Águas Cinzas”, o projeto é executado pelo Instituto Antônio Conselheiro (IAC) e nasceu por meio da articulação com o FCVSA e a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA). O Fórum representa a ASA no Ceará.

O anfitrião comentou que o reúso se faz com a coleta das águas do banho, da lavagem de roupa e de louça, as chamadas águas cinzas, que são direcionadas a um filtro com camadas de materiais físicos e biológicos. Ele explicou que, após essa água passar pelo filtro, é armazenada no tanque de reúso e está apta a ser utilizada para irrigação.

Desta forma, o líquido antes desperdiçado, agora é tratado e utilizado para irrigação de fruteiras, hortaliças e plantas medicinais nos arredores das residências, os chamados quintais agroecológicos que fornecem alimentos diversos para o preparo das refeições diárias.

Essa água reforça o sistema produtivo das famílias que garante a sua segurança alimentar e nutricional e ainda gera renda a partir da venda dos alimentos excedentes que são comercializados em vários espaços, como as Feiras Agroecológicas realizadas pelo IAC. A família de seu Chico e dona Antônia participa de uma delas.

O trabalho produtivo desta família serviu de inspiração para os visitantes africanos. Em uma só propriedade, foi possível perceber que a Convivência com o Semiárido é o conjunto de ações e conhecimentos que se complementam e se reforçam. E tudo isto é construído por meio de relações afetivas na família e com a terra, alimentadas pela Agroecologia.

* Matéria editada originalmente publicada pela ASA Brasil

Quer a apoiar a Eco Nordeste?

Seja um apoiador mensal ou assine nossa newsletter abaixo: