Os resultados foram de uma primeira amostragem, em abril de 2024. Uma segunda coleta foi feita em junho e ainda está em análise
Cristina Rocha-Barreira, professora titular da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Laboratório de Zoobentos do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) adiantou que, por meio de um trabalho em rede, estão em análise ostras (Crassostraea brasiliana) e mariscos (Anomalocardia flexuosa) do estuário do Rio Pacoti, na Região Metropolitana de Fortaleza, a leste da capital cearense. E já foi verificada a presença de microplásticos em ambos, principalmente no marisco, em 93,46% dos organismos analisados. Segundo a pesquisadora, com a continuidade do estudo, pretende-se avaliar a ocorrência, quantidade e tipo de microplástico nestes moluscos sentinelas também nos estuários dos rios Ceará e Cocó, e considerar ainda se o aumento da vazão dos rios, durante o período chuvoso, influencia na ocorrência do microplástico nos organismos.
A professora destaca o potencial de geração de conhecimento do projeto em rede do qual faz parte o laboratório que coordena. A pesquisa “Contaminação por Microplásticos no litoral Brasileiro: avaliação dos níveis ambientais e potenciais efeitos ecotoxicológicos” começou no dia 1º de julho de 2024 e vai até 30 de junho de 2026, por meio de convênio com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A coordenação geral do projeto é do professor Ítalo Braga de Castro, do Instituto do Mar (IMar), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Campus Baixada Santista, localizado em Santos (SP).
A justificativa da pesquisa destaca que microplásticos são um dos mais graves problemas ambientais da atualidade e que causam níveis de impactos similares aos reportados para as mudanças climáticas. Ressalta ainda que avanços recentes na Europa foram conquistados por meio de amplos programas de monitoramento que viabilizaram a adoção de políticas para fazer frente ao problema.
Outro aspecto importante reportado nesta fase inicial é que, no Brasil, os poucos estudos conduzidos até o momento indicaram níveis recordes de contaminação nas proximidades de áreas urbanizadas. Entretanto, poucos estudos investigaram esse tipo de contaminação ao longo da costa brasileira, o que demonstra um baixo nível de conhecimento nacional sobre a distribuição espacial e fontes de microplásticos.
Essa lacuna de conhecimento é relevante se considerada que a poluição é um dos principais agentes contemporâneos de perda de espécies. Daí a constatação de que avaliações da distribuição espacial da contaminação por microplásticos são imprescindíveis para nortear planos que viabilizem medidas mitigadoras.
O projeto visa avaliar níveis ambientais e potenciais efeitos da contaminação por microplásticos identificados no litoral Brasileiro, com o uso de moluscos como organismos modelo. Nesta primeira fase, por meio de amostragens em regiões de zonas costeiras e estuários, estão sendo identificadas as concentrações e os tipos de microplásticos mais frequentes em condições ambientais. Depois, serão estabelecidos ensaios em condições laboratoriais com ostras (Crassostrea brasiliana) e concentrações de microplásticos identificados em níveis ambientais para analisar os efeitos toxicológicos em longo prazo.
O projeto envolve 12 instituições no Brasil e no exterior. No caso do Brasil, cobre a maior parte do litoral brasileiro e usa ostras e mariscos como sentinelas. Até agora, os níveis mais alarmantes foram encontrados no estuário de Santos, que ficaram entre os mais altos do mundo.
Conhecimento em construção
“As análises indicaram que a distribuição do lixo plástico ao longo das praias é determinada por três variáveis preditivas: a distância ao estuário mais próximo, o turismo e o número de habitantes do centro urbano mais próximo. Praias turísticas (muito visitadas) e aquelas próximas de escoamentos estuarinos ou os centros urbanos apresentaram as maiores taxas de poluição plástica”. Esta é uma das constatações de artigo publicado em março de 2023, no periódico Science of the Total Environment, “Composição de meso e microplásticos, padrões de distribuição e fatores determinantes: um retrato da poluição plástica nas praias brasileiras”.
Esta foi a primeira avaliação sistemática e padronizada da poluição plástica ao longo do extensa costa brasileira, que considera mais de 4.600 km, envolveu os pesquisadores Eurico Noleto-Filho, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Marcelo Soares, do Labomar/UFC; e outros pesquisadores ligados a instituições de ensino e pesquisa do Pará, Espírito Santo, Havaí, Alemanha e Itália.
“A maior densidade de microplásticos foi encontrada em estações costeiras perto de locais urbanizados, grandes estuários tropicais e área de pesca”, completa o artigo “Microplásticos em águas subterrâneas do Atlântico Equatorial Ocidental (Brasil)”, publicado no periódico Marine Pollution Bulletin, em 2019, por Tatiane Martins Garcia, Carolina Coelho Camposa, Erika Maria Targino Mota, Nívia Maria Oliveira Santos, Luana Catherine Gomes Prado e Marcelo de Oliveira Soares, do Labomar/UFC; Renata Pollyana de Santana Campelo, do Departamento de Oceanografia (Docean), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e Mauro Melo Junior, do Departamento de Biologia (DB), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Chamado a atuar
Hoje, 26 de julho, é o “Dia Internacional para a Conservação do Ecossistema Manguezal”, estabelecido com o objetivo de conhecer e refletir sobre a importância deste ecossistema, não só para os que vivem próximo a ele, mas para o meio ambiente como um todo. “Nesse dia, somos convidados a reconhecer o papel crucial dos manguezais na proteção costeira, na captura de carbono, na manutenção da biodiversidade e no sustento de inúmeras comunidades”, destaca Juaci Araujo de Oliveira, coordenador da Associação Brasileira de Combate ao Lixo no Mar no Ceará (ABLM-CE), mobilizador e articulador do #manguezalsemplastico.
“Celebrar a data é também um chamado à ação, para que possamos trabalhar juntos na preservação e recuperação dos manguezais, promover práticas sustentáveis e educar a população sobre a necessidade de proteger esses ecossistemas vitais para as gerações futuras”, acrescenta.
Juaci ressalta, ainda, que os manguezais são ecossistemas de extrema importância, servem como berçários naturais para diversas espécies marinhas, protegem a costa contra a erosão e contribuem significativamente para a manutenção da biodiversidade costeira e marinha. Contudo, essas áreas vitais estão sob ameaça constante devido à poluição que compromete a saúde desses ecossistemas e das comunidades que dependem deles.
“A presença de resíduos plásticos nos manguezais é um problema alarmante. Esse tipo de poluição não apenas degrada o ambiente natural, mas também afeta diretamente a fauna local, muitas vezes resultando na morte de animais que ingerem ou ficam presos nesses resíduos. Além disso, os plásticos fragmentados podem entrar na cadeia alimentar e trazer riscos para a saúde humana”, reforça.
O Movimento #manguezalsemplastico foi criado para promover a reflexão e a mobilização da sociedade quanto à necessidade de preservação e recuperação desses ecossistemas. Este movimento acredita que é possível transformar a relação da comunidade com os manguezais por meio da educação ambiental, da participação ativa em ações de limpeza e da implementação de práticas sustentáveis que reduzam a poluição plástica nos manguezais cearenses.
Para alcançar esses objetivos, uma série de ações foi pensada para diferentes espaços, como trilhas ecológicas nos manguezais de cidade e ações de educação ambiental em espaços urbanos, como exposições e palestras em comunidades, escolas e universidades. As ações de limpeza em manguezais serão realizadas, envolvendo voluntários, estudantes e organizações parceiras e serão utilizadas como instrumentos de monitoramento e reflexão dos impactos da poluição por plástico nesses ecossistemas.
Por meio das redes sociais e demais meios de comunicação, e sob a menção da #manguezalsemplastico, será realizada campanha de sensibilização para informar e destacar a importância dos manguezais e a necessidade da adoção de práticas de redução do uso de plástico e incentivo à substituição em especial de plásticos descartáveis por alternativas reutilizáveis.
O Labomar/UFC, por meio do Programa de Educação Ambiental Marinha; o Grupo Kaeko; a Associação de Stand Up Paddle do Ceará (Assup-CE), a ABLM-CE; a Aldeia Surf; o Instituto Eco Nordeste; a Kayakeria; o Top Life Adventures; o Movimento Nossa Iracema; e o Instituto EcoFaxina (Santos) reuniram-se para dar início a este movimento por um futuro mais limpo e saudável para as gerações presentes e futuras.
Para marcar o início do Movimento #manguezalsemplastico, serão realizadas mobilizações sociais para promoção de diferentes ações ao longo do litoral do Ceará neste sábado (27), em comemoração ao “Dia Internacional para a Conservação do Ecossistema Manguezal”.
A professora Cristina Rocha-Barreira lembra que o movimento foi articulado para sensibilizar e criar possibilidades de como se pode contribuir para a mudança necessária. “Precisamos criar estratégias para dar a nossa contribuição, como reciclagem e substituição do plástico. É possível adotar outros comportamentos para minimizar a importância do plástico em nossas vidas”, afirma.
Rede de parceiros participantes
Aldeia Surf (APA do Rio Cocó)
Aloha Surf
Associação Brasileira de Combate ao Lixo no Mar no Ceará (ABLM-CE)
Associação Cearense de Stand Up Paddle (Assup-CE)
Bernardo Neto (cantor e compositor)
Centro de Estudos Ambientais Costeiros (Ceac)
Ecomuseu do Mangue (Sabiaguaba)
Estação Ambiental Mangue Pequeno (Praia de Requenguela / Icapuí)
Força Jovem Atravessando Fronteiras (F.J.A.F. /Icapuí)
Grupo Ecosoy (Icapuí)
Grupo Kaeko
Instituto Caranguejo (Rio de Janeiro)
Instituto Eco Faxina (Santos)
Instituto Eco Nordeste
Júlio Silveira (artista plástico e ativista)
Marquinhos Kalungueiro (Icapuí)
Museu Orgânico Alberto de Sousa
Nossa Iracema
Pimenta Peper (Pirambu)
Ponto de Cultura Ukilombo
Programa de Educação Ambiental Marinha (Peam /UFC)
Revista 360 graus
Top Life Adventures (APA do Rio Ceará)
Programação (27 de julho de 2024)
Manguezal Rio Pacoti (Eusébio)
Centro de Estudos Ambientais Costeiros (Peam / UFC)
8h30 às 12h
Trilha no Manguezal do Rio Pacoti
Exposição do Peam Itinerante
Jogos e dinâmicas no Bosque de Nativas (caranguejobol, bambolê e Slakeline)
Ação de remoção de resíduos plásticos no bosque do manguezal
14h às 17h30
Trilha no Manguezal do Rio Pacoti
Remada náutica #manguezalsemplastico
Ação de remoção de resíduos plásticos do manguezal
Manguezal Rio Ceará (Fortaleza)
#manguezalsemplastico – Ação de remoção de resíduos plásticos do manguezal.
Manguezal Rio Cocó (Fortaleza)
Boca da Barra da Sabiaguaba / Barraca da Dona Neusa
A partir das 10h
Roda de conversas
Oficinas de tambores (África Nagô)
Passeio de Stand Up Paddle
Travessia Sabiaguaba – Caça e Pesca (Projeto Ribeira do Cocó)
Manguezal Icapuí
Praia de Requenguela
Ação de Limpeza no Manguezal e Prática de Yoga (Grupo Ecosoy)