Por Conselho da Ajor
O juiz Air Marin Junior, do 2º Juizado Cível de Boa Vista (RR), determinou, na segunda-feira, 19.jul.2021, que a Repórter Brasil retirasse do ar trechos da reportagem “‘Compro tudo’: ouro Yanomami é vendido livremente na rua do Ouro, em Boa Vista”. A decisão, em caráter liminar, atendeu ao pedido de uma pessoa citada na reportagem, fruto da cooperação entre a Repórter Brasil e a Amazônia Real. Ambas as organizações são associadas da Ajor, Associação de Jornalismo Digital.
Na decisão, o juiz afirma que “a documentação e as alegações apresentadas pela defesa indicam ‘a alta probabilidade’ de que a autora tenha razão”. Por isso, o magistrado assinou o despacho ordenando a censura antes mesmo de ouvir os autores da reportagem.
De acordo com a Repórter Brasil, os jornalistas da Amazônia Real flagraram a autora da ação perguntando a um negociante se ele comprava ouro do garimpo. A resposta foi “compramos tudo”. Procurada, ela não quis responder às perguntas e indicou que poderia processar os repórteres.
“Ações de censura como a imposta neste caso são uma grave violação da liberdade de imprensa inscrita no inciso IX do artigo 5º da Constituição Brasileira”, afirma Natalia Viana, presidente da Ajor. “O trabalho premiado e reconhecido das duas organizações revela há décadas ilegalidades que acontecem em cantos pouco cobertos do Brasil. O dano é ainda maior porque afeta organizações independentes que fazem jornalismo justamente onde há ausência do Estado”.
Após a publicação do texto que hoje está censurado, o Ministério Público Federal abriu investigação para apurar a possível ligação da autora do processo com o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.
A Ajor repudia a decisão do juiz Air Marin Júnior e espera que a liminar seja rapidamente cassada por decisão superior.