Por Rose Serafim
Colaboradora

Gravado em Esperantina, no Piauí, o longa conta com elenco formado por pessoas de etnias ciganas.

Esperantina – PI. Na manhã do dia 11 de novembro de 1913, um grupo de quase 200 ciganos foi perseguido pela Polícia e vários deles foram mortos, após acusação de terem cometido delitos. Dentre as vítimas, uma criança de 7 anos que havia se refugiado em uma árvore após cair de um cavalo, mas, ainda assim, foi alvejada e morta pelos policiais que, conta-se, ainda chegaram a degolar o menino.

Tudo aconteceu no antigo povoado Retiro da Boa Esperança, atual Esperantina, município do Piauí. Em 2021, o longa “O Massacre Cigano e o Ciganinho Milagroso” busca reconstituir esses acontecimentos. O filme já teve pré-lançamento no último dia 3 e deve ser lançado oficialmente em janeiro de 2021.

Segundo Rogério Ribeiro, presidente do Instituto Cigano Brasil (ICB), a obra, além de registrar uma tragédia que afetou a vida de centenas de ciganos, também desmistifica preconceitos sobre essas populações. “Mostra para as pessoas que nós não somos bichos-papões, não somos bandidos. Muitos ainda acham que nós roubamos crianças. O sistema impregnou essa imagem e nós estamos desconstruindo”, explica.

Cigano da etnia Calon, Rogério lembra que as comunidades étnicas passam por uma série de dificuldades pela falta desse reconhecimento e cuidado enquanto povos tradicionais. De acordo com o presidente do ICB, até 80% dos remanescentes da etnia Calon são analfabetos. Essa é uma das três etnias presentes no Brasil que conta ainda com os Sinti e Rons.

O CadÚnico, sistema de cadastro do Governo Federal, é o único registro oficial que ainda tem um espaço reservado à identificação desses povos, mas a cobrança do ICB é de que todas as populações tradicionais tenham registro de grupo étnico garantido, para título de quantificação das populações e fortalecimento de políticas públicas.

As informações sobre os povos ciganos no Nordeste são desencontradas e escassas, lembra Rogério. Por isso, o ICB contribuiu para a execução deste filme, inclusive, levando ciganos para compor o elenco, e fazer esse registro histórico após 106 anos do massacre de Esperantina.

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