‘Sertão em Mim’ é o tema do Festival de Fotografia QXAS

Por Adriana Pimentel
Colaboradora

O tema “Sertão em Mim” e convida os artistas a um mergulho na própria existência | Foto: Beto Skeff

Quixadá / Quixeramobim – CE. Palestras, workshops, rodas de conversa e leituras de portfólios, uma programação com foco na fotografia e nas artes visuais que começa nesta terça-feira (11) e vai até sexta (14) é o que traz o QXASFestival de Fotografia do Sertão Central, que celebra sua terceira edição em formato on-line, devido à pandemia de Covid-19 e para seguir a orientação de restringir o convívio social para evitar a propagação do novo coronavírus.

Para o fotógrafo e um dos idealizadores do Qxas, Beto Skeff, no entanto, as expectativas para essa terceira edição são as melhores possíveis: “A gente sabe que os festivais são grandes festas de encontros, de troca de experiências. Não vai ter essa faceta da festa, mas, por outro lado, ganhamos com a quebra das barreiras geográficas. A internet vai nos possibilitar ir mais longe. A gente não vai ficar restrito ao lugar físico, geográfico de Quixeramobim e Quixadá. Assim, a expectativa é expandir cada vez mais as fronteiras do festival”.

O sertão é dentro da gente

Neste ano com curadoria de Iana Soares e Rosely Nakagawa, o QXAS on-line 2020 traz o tema “Sertão em Mim” e convida os artistas a um mergulho na própria existência, pois “o sertão é dentro da gente”, como bem define Guimarães Rosa. Iana Soares destaca que acaba sendo um advérbio de intensidade SerTão: “O nome Qxas é porque abrange Quixadá e Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará. E ainda traz o imaginário de terra de extraterrestres, que com frequência pousam suas naves e interagem com a população e o imaginário locais, o que é muito explorado no cinema, no jornalismo e na própria fotografia. E também imaginar o que é Sertão para quem não habita esse território”.

Rosely Nakagawa, também curadora, destaca que, dentro do Brasil, a paisagem do Sertão vai se alterando e, num reconstituir dessa ideia de território, é feito de um exercício de olhar para dentro, externar o que se pensa, um exercício de fazer uma reflexão mais forte do ser em reação ao outro, do ser em relação ao ambiente que ele vive.

Relação com outros continentes

“A gente convidou algumas pessoas que podem contribuir com esse modo de ver o Brasil, a relação do Brasil com outros continentes. Convidamos, por exemplo, Solange Farkas, fundadora do Videobrasil, que já integrou comitês, júris e curadorias de importantes prêmios, festivais de arte e bienais ao redor do mundo, além de ela ter todo um trabalho ligado à África do Sul, que é a origem do homem. A escolha de Solange foi muito pautada nessa questão de discutir o homem brasileiro e como é que a cultura africana entra na nossa cultura e se mistura a ela”, pontua.

A palestra de Solange Farkas tem a mediação de Rosely Nakagawa, e é a que abre a programação das palestras que acontecerão todos os dias do Festival, sempre às 20h, com acesso gratuito no canal do YouTube do Qxas e em todos os canais do QXAS Festival.

Na quarta (12) é a vez de Paula Sampaio, que desde 1990 realiza projetos e ensaios de fotografia sobre as migrações na região amazônica, com trabalhos premiados no Brasil e no exterior. A mediação é de Glícia Gadelha.

Na quinta (13), a conversa é sobre “Processos Criativos”, com Rosana Paulino, que traz contundentes trabalhos enfocando questões sociais, como as de raça, de gênero e, mais especificamente, das mulheres negras na sociedade brasileira. Além de artista visual, é pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), atuando ainda como educadora e curadora. A mediação é de Iana Soares.

Fecha o ciclo de palestras, na sexta (14), o projeto Severinas Mulheres do Sertão, que desenvolve exposições rurais, rodas de conversa em assentamentos e comunidades, além de oficinas em escolas públicas com mulheres que vivem nos sertões do Ceará. As convidadas são Maria Oliveira e Mayara Albuquerque, fundadoras do coletivo feminista Severinas. Com mediação de Beto Skeff, a conversa aborda memórias fotográficas, afetivas e de resistência do Severinas Mulheres do Sertão.

Os workshops tiveram inscrições prévias e vagas limitadas, para garantir a qualidade do aprendizado e das trocas entre os participantes, que puderam escolher a temática que mais interessava: Percepção e a Fala das Imagens, com Pablo Pinheiro; Narrativas Possíveis: Uma Reflexão Sobre Fotografia Digital, com Rafael da Luz; Pandemia: Maneiras de Fotografar Sem Sair de Casa, com Fernando Banzi; Produção de Notícias Para Veiculação em Redes Sociais, com Gustavo Costa.

Leitura de Portfólios

Visando promover a troca de saberes, o Festival mantém a Leitura de Portfólios em sua terceira edição. De terça a sexta-feira, das 15 às 17h, os coletivos de fotografia cearenses Tentaliza, GispImagem, Trindade, Motim, Perigrafia, Zóio, Quatro Telas e Dois Vetim vão apresentar sua produção para análise e diálogo com outros artistas visuais e pesquisadores de reconhecida atuação local e nacional.

Participam dessa ação a fotógrafa cearense, membro da Rede de Produtores Culturais da Fotografia do Brasil, Paula Geórgia Fernandes, que enfoca questões sociais e culturais no sertão, sob um viés antropológico e atemporal, carregadas de um forte senso estético; Ratão Diniz, formado pela Escola de Fotógrafos Populares, realiza trabalho permanente de documentação das favelas do Rio de Janeiro, que se estende às periferias do Brasil, com ênfase em festas populares, o povo que vive no interior do País e no movimento graffiti, movido pelo desejo de revelar imagens que traduzam a beleza e a resistência desses espaços afetivos.

Outros participantes: o fotógrafo e professor com pós-doutorado em Cinema e Arte Contemporânea pela Universidade Sorbonne-Nouvelle (Paris III), Omar Gonçalves, ganhador do prêmio Funarte de Produção em Artes Visuais (2013), do Universal CNPq (2016) e do PrixPhoto Aliança Francesa (2019); e Lia de Paula, formada em cinema, fotógrafa com passagem pela Agência Senado, ministérios da Cultura e Desenvolvimento Social, jornal O Povo e Museu da Fotografia Fortaleza. É autora do projeto “Todo filho é filho da mãe”, pesquisa visual com retratos e relatos de mães solo.

Convocatória Artística

Ao final do QXAS on-line 2020, o Festival abre sua tradicional Convocatória, que será realizada entre 15 de agosto e 30 de setembro. Também com o tema “Sertão em Mim”. As inscrições serão gratuitas e, neste ano, em duas categorias: Fotografias e Vídeos para Projeção.

“Fico muito feliz e honrado por ter tido o meu trabalho escolhido pelo Festival e agora também me sinto motivado a me inscrever. É muito bom, a gente passando por esse momento tão difícil da pandemia, o festival ser realizado, mesmo de uma maneira diferente, não presencial, mas virtual. Reconheço a batalha dos organizadores para que ele aconteça e dê voz aos fotógrafos neste momento tão difícil. Abre a possibilidade de que, por meio das imagens, possamos mostrar nossos sentimentos, tanto de tristeza, angustia, alegria, apreensão, enfim, é um canal de possibilidades de compartilhar esses sentimentos conjuntos de fotógrafos de todo o Brasil e até do estrangeiro. O Qxas faz esse papel de abrir a fotografia para o Sertão do Ceará, mas não estão só fechados aos sertões, e sim a quem queira participar”, empolga-se Alex Costa, fotógrafo profissional, com uma trajetória de fotojornalista na imprensa cearense e que participou da primeira edição.

Glícia Gadelha, produtora e também idealizadora do Qxas nos conta que “os maiores desafios foram financeiros. Outra limitação foi propor ações para a programação que tivessem conteúdos que dialogassem com o formato on-line”. E ressalta também que “o isolamento social apontou possibilidades de imersão em si e de contemplação, pautadas ora pelo silêncio e pela solidão, ora pelas outras existências que nos cercam. Ao mesmo tempo, a pandemia também explicitou e aprofundou violências e desigualdades sociais já existentes, vivenciadas nos sertões de cada um. Neste ano absurdo, o que é possível narrar a partir da experiência que mora no corpo? E da imaginação?”.

QXAS Festival

O Festival tem o objetivo de promover o intercâmbio entre a fotografia cearense e a produção contemporânea brasileira nos campos da expressão e do conhecimento e fomentar a produção cultural e artística, contribuindo para a democratização do acesso à cultura e a difusão da fotografia brasileira.

O QXAS é uma realização da AnimaCult e do iFoto, com apoio da Verve Comunicação, Sistema Maior de Comunicação, Rede de Produtores Culturais de Fotografia do Brasil, Casa de Saberes Cego Aderaldo, Instituto Dragão do Mar e Secretaria da Cultura do Ceará (Secult).

Serviço

O quê: QXAS On-Line 2020
Quando: De 11 a 14 de agosto
Onde:
Canais QXAS
https://www.youtube.com/channel/UCfc_lFDr_QdHos_bZL3XSdA/
https://www.facebook.com/qxasfestival/
https://www.instagram.com/festivalqxas/
Casa de Saberes Cego Aderaldo:
https://www.youtube.com/channel/UC5g23jB-TuIKlKrh0g_PHyw

Mais informações

E-mail: qxasfestival@gmail.com
Telefone: (85) 9 9691.8458

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