Você sabe o que ficou de importante da COP30?

A imagem mostra a mesa principal de uma plenária da COP30, com várias pessoas reunidas em intensa troca de informações antes ou durante uma sessão oficial. No centro, um homem de barba grisalha, sentado, olha atentamente para uma mulher à sua direita, que se inclina para falar com ele, enquanto outra mulher, à esquerda, também se aproxima para conversar. Ao redor deles, outras pessoas — homens e mulheres de diferentes origens — observam, trocam sussurros ou analisam documentos. A mesa exibe placas indicando funções como “COP President” e “Secretary”, e, à gente da mesa, aparece o grande painel oficial da conferência, com os logotipos das Nações Unidas e da COP30 no Brasil
André Corrêa do Lago, presidente, e Ana Toni, diretora executiva, discutem com interlocutores nos últimos momentos da COP30 Foto: Ueslei Marcelino/COP30

Por Isabelli Fernandes e Maristela Crispim

A COP30 acabou e o que isso significa na prática? O que foi discutido e acertado nesse encontro gigante de líderes de todo o mundo em Belém? Nós fizemos um compilado de posicionamento de algumas organizações da sociedade civil para mostrar o olhar dos observadores sobre o que foi esta primeira conferência do Clima no Brasil.

O Observatório do Clima Começa a sua avaliação destacando que essa foi uma COP como nenhuma outra: “uma cúpula de líderes começando dias antes da abertura do encontro; um incêndio no pavilhão; e uma decisão pessoal do presidente de criar dois mapas do caminho que não puderam ser incluídos na decisão final da COP por oposição de alguns países”.

Avanço parcial

Já o Instituto ClimaInfo indicou que o esforço para implementar a decisão de Dubai, de 2023, para afastamento dos combustíveis fósseis avançou parcialmente. Na plenária final, Correa do Lago afirmou que um grupo de trabalho liderado “pela ciência” será criado para orientar os roadmaps; e uma Cúpula específica para o fim dos fósseis será organizada em abril de 2026, na Colômbia.

“A COP30 ofereceu um fio de esperança, mas muito mais decepção, já que a ambição dos líderes globais continua aquém do que é necessário para um planeta habitável. As pessoas do Sul Global chegaram a Belém com esperança, buscando progresso real em adaptação e financiamento, mas as nações ricas se recusaram a fornecer o financiamento crucial para adaptação”, destacou a Oxfam Brasil.

“O resultado contém elementos positivos relacionados à justiça climática, incluindo diretrizes para uma transição justa e ordenada para as energias renováveis com o estabelecimento do Mecanismo de Ação de Belém (MAB), que incorpora linguagem sobre os direitos dos povos indígenas. Isso representa um sinal importante de que o multilateralismo pode entregar resultados, porém, um plano com prazos para eliminar carvão, petróleo e gás segue sendo urgente”, ressaltou o 350.org Brasil.

E conclui: “mais uma vez, os países deixam a COP com promessas no papel, mas sem os caminhos, cronogramas e recursos necessários para chegar lá e proteger as comunidades impactadas pela crise climática hoje. Enquanto isso, países ricos evitam assumir compromissos concretos e se recusaram a abandonar sua dependência de combustíveis fósseis”.

A interpretação dessas falas aponta para uma conclusão comum, houve avanços políticos, simbólicos e estruturantes. Porém, esse resultado é insuficiente para reduzir as emissões e acelerar o ritmo da transição energética justa. O InfoAmazonia reforça essa leitura ao destacar, na plenária de encerramento, o discurso de Marina Silva. A ministra reconheceu que a “virada ambiental” esperada desde a Rio 92 não ocorreu com a velocidade necessária e que a ciência nem sempre conseguiu orientar decisões globais. Ainda assim, celebrou conquistas específicas da COP realizada na Amazônia.

Promessa diante do não avanço

Ainda segundo o InfoAmazonia, Marina reafirmou que a presidência da COP desenvolverá dois mapas do caminho: um para deter e reverter o desmatamento e outro para uma transição energética justa, ambos guiados pela ciência e desenvolvidos em processos inclusivos. A ministra também destacou o lançamento do Tropical Forests Forever Facility (TFFF) como um mecanismo inovador para valorizar os povos e comunidades que conservam florestas tropicais, reforçando a centralidade da natureza e dos territórios tradicionais no combate à crise climática.

Os representantes da The Nature Conservancy (TNC) também enfatizaram que o chamado “mutirão” da COP30 não entregou a robustez esperada nos compromissos sobre combustíveis fósseis e desmatamento, justamente os dois maiores vetores da crise climática. Entretanto, a TNC classificou como histórica a inserção da natureza no centro do processo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e a consolidação do reconhecimento de direitos territoriais dos povos indígenas, citados explicitamente em três textos diferentes e acompanhados da reafirmação do consentimento livre, prévio e informado como princípio necessário para qualquer ação climática que os afete.

Marcos a destacar

Apesar das medidas insuficientes, a COP30 deixou marcas importantes para justiça climática, povos tradicionais e soluções baseadas na natureza. Agora, o foco se desloca para a elaboração dos mapas do caminho prometidos pela presidência brasileira da COP e para a Cúpula do fim dos fósseis, prevista para abril de 2026, na Colômbia. A trajetória entre Belém e esses próximos marcos será determinante para avaliar se as promessas desta conferência se traduzirão em ação.

COP 31 na Turquia

Para fechar este balanço de fim de COP30, o ClimaInfo destacou que a COP31 terá uma presidência inovadora compartilhada entre Turquia e Austrália com influência das ilhas do Pacífico. A COP32 na Etiópia será a primeira a ser presidida por um membro do grupo dos países menos desenvolvidos (LDCs) e que menos contribuíram para a mudança climática, apesar de estarem na linha de impacto de forma desproporcional.

Esperamos que você tenha gostado da nossa cobertura. Mas ainda não acabou. Conversamos com tanta gente, ouvimos tantas histórias importantes da participação do Nordeste neste momento histórico que seguiremos publicando conteúdos relacionados até o começo de dezembro. Acompanhe!

É importante destacar que nós, Isabelli Fernandes e Maristela Crispim, viajamos a Belém para a cobertura da COP30 com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e ficamos hospedadas na Casa do Jornalismo Socioambiental, uma iniciativa que reuniu profissionais e veículos brasileiros especialistas de todo o País para ampliar abordagens e vozes sobre a Amazônia, clima e meio ambiente. Foi uma experiência muito inovadora e inspiradora do jornalismo brasileiro.

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