Reserva Natural no Baixo São Francisco é destaque brasileiro de fórum em Paris

Em primeiro plano, a face de uma pequena espécie de sagui em uma das mãos de uma pessoa. Ao fundo, área verde com o tronco de uma árvore

Um filhote de sagui-de-tufos-brancos, tombado da árvore, é reconduzido à sua mãe | Foto: Carlos Eduardo Ribeiro Jr

Por Antônio Heleno Caldas Laranjeira

A trajetória da Reserva Mato da Onça é um exemplo de cooperação internacional e de como a conservação ambiental pode desempenhar um papel crucial na promoção da paz e na melhoria das condições de vida das comunidades.

O Brasil vai marcar presença no Fórum de Paris sobre a Paz representado pelo Projeto Florestas pelo Futuro, criado pela Reserva Mato da Onça, um território de conservação ambiental do Nordeste que ganha destaque internacional pela sua capacidade de resiliência e sustentabilidade.

O Fórum de Paris Sobre a Paz, lançado em 2017 pelo governo francês, reúne cerca de 60 a 80 iniciativas de todo o mundo para abordar desafios globais. Ele oferece oportunidades de apresentação, negociação e captação de recursos para projetos que buscam soluções para problemas complexos. Além disso, durante o evento, as iniciativas selecionadas recebem apoio e acompanhamento para sua implementação.

Igor da Mata, professor de Engenharia da Pesca da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), reitera que a paz começa com um meio ambiente que promova condições de trabalho e saúde no contexto humano, como vem ocorrendo, neste caso, na Bacia do Rio São Francisco. “A Reserva Mato da Onça deve ser padrão de referência para comparação em monitoramentos das condições do Baixo São Francisco com outros trechos que vêm sendo estudados por um grupo de trabalho com foco na parte navegável do rio”, comenta Igor.

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A história da Reserva Mato da Onça começou a se integrar às atividades da Ufal em Penedo (AL), quando a instituição convidou a ONG Canoa de Tolda para publicar uma obra sobre história, técnicas e cultura das embarcações pesqueiras do Baixo São Francisco. Esse convite foi o ponto de partida para uma série de projetos e ações que consolidaram a Canoa de Tolda como uma parceira vital e estratégica da Ufal.

Com 46 hectares, essa área reflorestada é reconhecida como uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) que, orientada pelo seu plano de manejo, desempenha um papel fundamental na conservação da biodiversidade da região do Baixo São Francisco com um território de proteção que se destaca no mapa em meio a um “deserto de proteção ambiental” conforme o mapa da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) a seguir.

Mapa demonstra em verde áreas de proteção ambiental, em rosa as áreas urbanas. Ao centro um box destaca a localização geográfica da Reserva Mato da Onça e seu registro como Patrimônio Natural

Mapa da Nasa demonstra em verde áreas de proteção ambiental, em rosa as áreas urbanas. A Reserva Mato da Onça fica ao centro, com 46 hectares. A área fica entre as cidades alagoanas de Pão de Açúcar e Piranhas, no Baixo São Francisco

De lá para cá, um dos projetos de destaque é o MapSãoFrancisco. A ação coletiva de mapeamento de populações em áreas de risco de situações hidrológicas extremas. Esse projeto, que visa avaliar o impacto de diferentes cenários de cheias e secas nas comunidades ribeirinhas da região, atraiu parceiros como o Humanitarian OpenStreetMap Team (HOT) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemadem), o que tem promovido avanços significativos em tecnologias de mapeamento e avaliações hidrológicas.

Impactos no Nordeste

Marina Aragão, internacionalista e integrante do HOT, reitera que enquanto o Brasil é frequentemente associado às discussões sobre a Amazônia, a região Nordeste enfrenta impactos significativos das mudanças climáticas, incluindo chuvas intensas, inundações e desertificação. “Essa participação da Reserva Mato da Onça no Fórum de Paris pela Paz é uma oportunidade única para destacar os desafios enfrentados pelo Nordeste brasileiro em um cenário global”, avalia Marina.

A Reserva Mato da Onça documenta um consistente retorno da fauna, o que inclui espécies chave de mamíferos, avifauna e herpetofauna, como resultado das ações de conservação da Caatinga.

Desde 2014, a trajetória da Reserva Mato da Onça também é um exemplo de cooperação internacional. Para essa viagem à Paris, a ONG, com o apoio do Humanitarian OpenStreetMap Team (HOT) e do próprio Fórum de Paris sobre a Paz, conseguiu superar desafios financeiros e receber o reconhecimento merecido no cenário global.

Carlos Eduardo Ribeiro Jr., cogestor da Reserva Mato da Onça, enfatiza a importância da Unidade de Conservação como a única no Baixo São Francisco localizada na Caatinga de Alagoas, com grande capacidade de produção de mudas, pesquisas e educação ambiental. “A Reserva hoje é uma referência para monitoramentos das condições de vida no Baixo São Francisco que envolve pesquisadores de diversas áreas na avaliação das profundas expressões de desequilíbrio ambiental da região”, detalha.

Igor, Marina e Carlos Eduardo viajarão juntos para participar do Fórum de Paris pela Paz como representantes desta reserva ambiental brasileira que está pronta para compartilhar suas inovações e inspirar líderes e entidades globais a abraçar iniciativas similares em todo o mundo. O evento, que será realizado entre os dias 10 e 11 de novembro e promete ser um marco na promoção da paz sustentável e na colaboração global.

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