Fortaleza – CE. A Rede Nacional de Manguezais (Renaman) começou a divulgar, no dia 9 passado, uma carta construída coletivamente por meio de diálogos / reuniões virtuais e troca de textos via aplicativos, consultas bibliográficas (livros, leis, resoluções, etc) para elaboração de um texto que parte da necessidade de discutir e sensibilizar sobre as consequências dos impactos gerados pela interação insustentável do modelo de sociedade com o meio ambiente, “um entendimento que deve incluir a sociedade em geral, tomadores de decisão e grandes empresas”. A divulgação inicial foi pelo Podcast Mangue Fala, no Site da Renaman e na Feira do Conhecimento 2020, realizada a partir de Fortaleza (CE).
A preocupação é por ser o manguezal um ecossistema tido como berçário da vida marinha, ambiente de transição e limites à tolerância às condições ambientais extremas. “É fonte de renda e segurança alimentar para as comunidades costeiras. As florestas de mangue são as que mais sequestram carbono da atmosfera”, ressalta Fabiana Pinho, coordenadora voluntária do Ecomuseu Natural do Mangue, de Fortaleza (CE).
Entre os objetivos da carta estão: discutir a necessidade de ampliar o campo de debates e cobrar o real cumprimento de legislação pertinente à conservação do ecossistema manguezal e de suas áreas de vegetações associadas; e ser instrumento de disseminação de conhecimento para pesquisadores, instituições públicas / privadas e comunidades em geral, visto que, para proteger é preciso conhecer e estar orientado sobre os caminhos legais a seguir.
Para Fabiana, a importância de um documento como a Carta dos Manguezais, está, em especial, na necessidade de levar ao público em geral informações sobre o manguezal, sua importância e as formas de preservá-lo para as presentes e futuras gerações, visto que o texto consiste em material de fácil leitura para pesquisadores e leigos no assunto.
Conforme a professora doutora Rafaela Camargo Maia, do Laboratório Ecomangue, em Acaraú (CE), os manguezais possuem diversas funções naturais de importância ecológica e socioeconômica, entretanto ações antrópicas (humanas) ameaçam a existência do ecossistema. “A Carta dos Manguezais busca dar voz aos diversos setores da sociedade, além de nos fazer um chamado para ampliar a consciência e as atitudes adequadas para sua conservação”, acrescenta.
Os manguezais
Num trecho inicial, a carta conceitua os manguezais como “ecossistemas de transição entre o ambiente terrestre e marinho com características únicas, e limites de tolerância a condições ambientais extremas. Possuem solos ricos em nutrientes, uma alta biodiversidade associada e apresentam um grande valor econômico e social associado à sua exploração. Os manguezais são importantes fontes de renda e de segurança alimentar para as comunidades tradicionais costeiras. Além dos recursos obtidos por extração direta, a sociedade ainda se beneficia dos chamados serviços ecossistêmicos providos pela estrutura da vegetação e solo desses ecossistemas. Serviços como aumento de conforto térmico local, promoção de contenção natural para enchentes, prevenção de erosões naturais, o que torna os manguezais excelentes aliados na contenção de efeitos negativos das mudanças climáticas“.
Ressalta, no entanto, que, “apesar de sua importância econômica e ambiental, esses ecossistemas são impactados negativamente por alguns fatores, como poluição nos estuários e nas florestas de mangue, exploração exacerbada de recursos pesqueiros, desmatamento e consequente assoreamento das regiões aquáticas, entre outros fatores. As iniciativas de proteção ambiental por parte dos órgãos governamentais competentes e instituições não governamentais surtiram efeitos ao longo do tempo, porém, não foram suficientes para solucionar os problemas ambientais como um todo; prova disto é a crescente quantidade de resíduos sólidos encontrados nesses ambientes, desmatamento desenfreado em algumas áreas de manguezais, poluição dos estuários devido à falta de saneamento básico em alguns lugares e substituição das florestas de mangue por áreas de monoculturas em algumas cidades”.
Colaboraram na construção da Carta, além de Fabiana Pinho, Rusty Sá Barreto, Jessika Albuquerque e Beatriz Zacharias, de Ecomuseu Natural do Mangue, de Fortaleza (CE); Pedro Belga, do Projeto UÇÁ, de São Gonçalo (RJ); professora doutora Rafaela Camargo Maia, de Laboratório Ecomangue, de Aracaú (CE); Lucas Silva e Kelven Pinheiro, da Secretaria de Meio Ambiente do Ceará (Sema); professor mestre Mirleno Livio de Jesus, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi); professora doutora Erminda da Conceição Guerreiro Couto, da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), de Ilhéus (BA); Jacqueline Vieira, do Instituto Terra e Mar, de São Sebastião (SP); Letícia Rizzetto, bióloga da Redemar, de Salvador (BA); e Raimundo Nonato, do Museu Caranguejo Vivo, de Ipojuca (PE).