Os plantios estão sendo realizados em unidades demonstrativas no Sertão do Pajeú, em Pernambuco; e no Sertão do Apodi, no Rio Grande do Norte

Com o objetivo de restaurar a riqueza natural da Caatinga estão sendo cultivadas 38 espécies nativas do bioma em duas unidades demonstrativas no Sertão do Pajeú, em Pernambuco; e no Sertão do Apodi, no Rio Grande do Norte. Cada unidade experimental possui um hectare.
O projeto conta com o apoio do WRI Brasil, em parceria com a Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), a Associação para o Desenvolvimento Sustentável Empreender Para Reforçar Emprego e Renda (Adaserer), o Redário e o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan).
A iniciativa visa restaurar o bioma Caatinga em ambos os estados com plantios de espécies como carnaúba, pajeú, emburana, angico, jurema, mulungu, juazeiro e craibeira. As Unidades demonstrativas de restauração ecológica servirão de modelos de produção sustentável no Semiárido.
As ações de reflorestamento e os locais escolhidos para atuação são resultado do estudo “Restauração de Paisagens e Florestas no Bioma Caatinga”, baseado na metodologia Avaliação das Oportunidades de Restauração (Roam), desenvolvida pelo WRI. O estudo identifica áreas prioritárias para ações de recuperação que integrem conservação ambiental, inclusão social e produção sustentável.

No município de Itapetim, no Sertão do Pajeú, em Pernambuco, está sendo utilizada a técnica da muvuca com o plantio intercalado em linhas de semeadura direta com linhas de mudas. Assim será viável analisar de forma comparativa o desenvolvimento de mudas e sementes nas ações de restauração.
A muvuca, técnica na qual as sementes não são separadas por espécies, mas misturadas entre si, tem como intenção reproduzir a forma como as plantas ocorrem naturalmente na paisagem. Tanto as mudas quanto as sementes são obtidas de organizações locais, como a própria Rede de Mulheres, o Redário e a Rede de Sementes do Pajeú.
Apolônia Gomes da Silva, educadora social da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú destaca que essa primeira etapa de implantação da unidade demonstrativa de restauração ecológica no território foi de muita troca de experiência e foi fundamental para estreitar os laços entre os atores importantes existentes dentro do território, e também fora dele. A exemplo das secretarias municipais de Agricultura e de Meio Ambiente, das instituições parceiras que atuam no território e fora dele também, que vêm desenvolvendo estratégias de restauração no bioma.
“Foi uma construção muito significativa para nós da Rede. Estreitar esses laços, assumir compromissos coletivos em defesa do nosso bioma, buscando estratégias de restauração dos nossos solos e de preservação das nossas águas. Isso é muito importante. Além disso, a Rede vem com esse papel fundamental de aproximar os laços, de pensar coletivamente e de trazer esse tema tão importante a partir do olhar das mulheres, uma vez que são elas que desempenham esse papel essencial na restauração da Caatinga”.
Protagonismo feminino

A educadora social reforçou o protagonismo feminino neste trabalho de conservação da Caatinga: “são elas que coletam as sementes, que replicam seus conhecimentos por onde passam, que trocam sementes e experiências. Elas estão no dia a dia, na prática, fazendo com que isso aconteça. São elas que conseguem fazer melhor a gestão da água e dos alimentos. Por isso, são peças fundamentais na preservação e na restauração das áreas degradadas, para que a gente consiga produzir”.
Já em Apodi, no Rio Grande do Norte, a restauração será produtiva, por meio da implantação de um sistema agroflorestal (SAF) com espécies melíferas, que serão inseridas nas áreas também por meio de sementes e mudas. O método possibilita a criação de abelhas meliponas, espécies nativas sem ferrão, e assim fortalece a segurança alimentar e a geração de renda. O SAF permitirá o cultivo de alimentos para o consumo das famílias e a comercialização de excedentes.
Restauração, produção e inclusão
Essas áreas piloto equilibram a restauração da natureza, a produção de valor e inclusão de grupos sociais. “As unidades demonstrativas destacam o potencial da restauração em gerar renda e faz sentido para as comunidades locais”, diz Luciana Alves, coordenadora de Projetos e Pesquisa do WRI Brasil. “O caso da Rede de Sementes do Pajeú exemplifica como a estruturação de redes como essa fortalece mecanismos de comercialização, mobiliza comunidades e gera renda a partir da restauração”, completa.
Luciana Alves ressalta que a implementação dessas unidades demonstrativas marca um passo muito importante para o WRI e para as organizações parceiras, por ser uma forma de mostrar, na prática, como é possível recuperar, restaurar e regenerar a Caatinga com base nos saberes que as pessoas já têm no território, mas também com o apoio da ciência e da pesquisa.
“Essas unidades são fruto de um esforço coletivo. Foram construídas com as organizações locais, com agricultores e agricultoras, pesquisadores e diversas instituições que atuam no território. E mais do que plantar mudas e sementes, o que a gente espera com essas unidades demonstrativas é fortalecer parcerias, escutando as comunidades e valorizando o conhecimento que já existe no território sobre restauração, sobre a Caatinga e sobre os produtos que podem ser recuperados quando restauramos a vegetação nativa”.
E continua: “o que a gente deseja é que a restauração seja adaptada, que seja eficaz e que gere benefícios reais. E é por isso que esses passos combinam a restauração ecológica com a produção de alimentos, gerando renda e produtos que integrem a proteção da natureza com a melhoria das condições de vida das pessoas que vivem no território”.
O projeto integra o Programa Raízes da Caatinga, conduzido pela IDH em parceria com o WRI Brasil e a Diaconia, que apoia municípios nos estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba a construir pactos pela produção sustentável, proteção da vegetação nativa e fortalecimento da governança territorial em paisagens da Caatinga. A ação está alinhada às metas do pilar Proteger dos Pactos Pajeú Sustentável e Apodi Sustentável, que integram a estratégia territorial desse programa, com vistas a fortalecer a governança e impulsionar soluções baseadas na natureza no Semiárido nordestino.
Entre as espécies que serão plantadas nas duas unidades demonstrativas estão: emburana (Amburana cearenses), angico (Anadenanthera colubrina), pereiro (Aspidosperma pyrifolium), aroeira-preta (Astronium urundeuva), catingueira (Cenostigma pyramidale), pombeiro-vermelho (Combretum lanceolatum), mofumbo (Combretum leprosum), carnaúba (Copernicia prunifera), xique-xique (Crotalaria sp.), mucunã (Dioclea grandiflora), mulungu (Erythrina velutina), ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus), pau-mocó (Luetzelburgia auriculata), jurema-branca (Mimosa ophthalmocentra), angico-de-bezerro (Pityrocarpa moniliformis), embiratanha (Pseudobombax marginatum), saboneteiro (Sapindus saponaria), juazeiro (Sarcomphalus joazeiro), baraúna (Schinopsis brasiliensis), craibeira (Tabebuia aurea), pau-jaú (Triplaris gardneriana) e jaramataia (Vitex gardneriana), entre outras.