Periquito-Cara-Suja: filhotes de ave ameaçada de extinção nascem na Serra de Baturité

Por Alice Sales
(Colaboradora)

Quatro filhotes de Periquito-Cara-Suja (Pyrrhura griseipectus) nasceram em vida livre, nas caixas-ninho instaladas na Serra de Baturité, situada no Centro-Norte do Ceará. Essa é a primeira ninhada desde a criação do Refúgio de Vida Silvestre (RVS), Unidade de Conservação (UC) com o intuito de preservar essa espécie endêmica do Nordeste, que encontra-se classificada como Em Perigo (EN) pelo Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

A instalação das caixas-ninho é uma inciativa do Projeto Periquito-Cara-Suja, liderado pela Organização Não-Governamental (ONG) Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), que comemora, neste 7 de abril, 25 anos de atividades pela conservação da biodiversidade nordestina.

Os filhotes recém-nascidos seguem saudáveis, monitorados pelos pesquisadores. “Esse feito simboliza um grande potencial para a espécie e demonstra de forma clara os objetivos dessa Unidade de Conservação”, comemora Fábio Nunes, biólogo e coordenador do projeto.

A ave, que antes era comum em áreas dos estados do Ceará, Alagoas e Pernambuco, enfrenta o desafio de se reproduzir e sobreviver aos efeitos do desmatamento e da captura para contrabando.

Atualmente, a espécie existe somente no Ceará, em quatro pontos de ocorrência:

  • Serra do Parafuso (Canindé)
  • Serra Azul (Ibaretama)
  • Serra do Mel (Quixadá)
  • Serra do Baturité

Segundo Fábio Nunes, a população com maior número de indivíduos encontra-se no Maciço do Baturité, onde há o Refúgio de Vida Silvestre da espécie. “No censo de 2018, foram contabilizados 456 indivíduos na Serra. Essa Unidade de Conservação foi criada com o objetivo de proteger integralmente uma porção da Serra de Baturité onde se assegurem condições para a existência e reprodução do periquito e de outras espécies ameaçadas”, ressalta.

Para o especialista, essa iniciativa é fundamental para estabelecer ambientes mais controlados e com menor intervenção humana possível, favorecendo a perpetuação de espécies. Entre os anos de 2010 e 2018, mais de 800 filhotes voaram dos ninhos, em vida livre.

Atualmente, estão instaladas 50 caixas-ninho na Serra de Baturité e o número de caixas ocupadas pelos periquitos-cara-suja vem aumentando a cada ano. Fábio Nunes comenta, ainda, sobre as expectativas para o ano de 2019: “Considerando que a média de sucesso na reprodução é por volta de 80%, este ano poderá ser o melhor em termos de ampliação populacional”.

Educação Ambiental para salvar a espécie

Uma das estratégias adotadas para a conservação da espécie são as atividades de Educação Ambiental em comunidades próximas aos pontos de ocorrência da ave. Durante palestras em escolas, cartilhas infantis, guia de aves que vivem na região e manual do educador ambiental são distribuídos para a comunidade local.

“A conservação dessa espécie implica também em salvar seu ambiente. Além de desempenhar um papel ecossistêmico onde vive, o Periquito-Cara-Suja assume papel de espécie-bandeira, com estratégia favorável para o envolvimento das comunidades locais”, explica Fábio, que aposta no apelo simbólico como facilitador das ações.

“Essa espécie tem favorecido a proteção de habitat ameaçados, ou seja, a conservação dos habitats da ave beneficia diversos outros táxons ameaçados e populações humanas que dependem da recarga hídrica da região”, finaliza.

Refúgio da Vida Silvestre

O Refúgio de Vida Silvestre do Periquito-Cara-suja, área definida dentro do Sítio Batalha, na Serra de Baturité, foi criado em 2018, com o objetivo de proteger as espécies endêmicas da região.

Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), essa categoria tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.

Pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da UC com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da Unidade e às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da UC e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas.

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