Semente assume vários significados no Semiárido

A palavra semente possui, originalmente, diversos significados, que, em geral, remetem à vida, esperança, fartura. Para os agricultores familiares do Semiárido brasileiro, esses sentidos são ainda mais diversificados e carregados de sentimentos.

A manhã desta quinta-feira (14), no V Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores (Enae), realizado em Juazeiro do Norte, no Cariri Cearense, foi dedicada a dez diferentes oficinas e a Agência Eco Nordeste escolheu acompanhar a de sementes, com o subtítulo que remete ao cultivo de conhecimentos para a Convivência com o Semiárido.

Vindos de diversas localidades do Semiárido brasileiro, esses pequenos produtores rurais trouxeram conhecimentos e curiosidades para dividir entre seus pares.

José Teodoro, por exemplo, é líder na Comunidade Quilombola de Tranqueira, localizada no município de Valença, no Piauí e representante das casas de semente Vale do Sambito.

Ele conta que a Casa de Sementes começou em 2012, com a participação de 20 famílias. Hoje, são 37 e continua funcionando a despeito da estiagem que vem afetando algumas culturas na região. “Nós fazemos uma reserva de sementes para quando a chuva vier”, explica.

Ele informa que o agricultor associado devolve 1,5 quilo de semente para cada quilo tomado emprestado e que, em caso de perda total, deve comunicar. Uma vez constatada a situação, sua dívida é perdoada. Quem não é associado devolve 2 quilos.

Os associados também pagam uma mensalidade de R$ 4 que auxilia na compra de sementes, em caso de necessidade, e também é aplicada em benefícios sociais na comunidade. Entre as ações desenvolvidas estão trilhas com jovens e crianças para formar futuros guardiões de sementes.

A casa possui uma ampla variedade de sementes e mudas nativas. Sobre a garantia da qualidade, José Maria Saraiva, que é coordenador técnico do Centro Regional de Assessoria e Capacitação (Cerac), também do Piauí, explica que o Programa Sementes do Semiárido, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundação Banco do Brasil (FBB), disponibilizou kits de transgenia para a análise das sementes de milho, que é feita periodicamente por amostragem.

Sebastião Damascendo, do Sítio Cabaceira, em Santana do Ipanema (AL), destaca a importância da capacitação, da união e do cuidado, em todas as etapas, para garantir a saúde e a durabilidade das sementes armazenadas. “Precisamos fazer um barramento de consciência para que isso não se perca”, afirma.

Quando ele fala em todas as etapas, dá ênfase à preparação do solo, adubação verde, plantio consorciado, colheita no tempo certo e armazenamento da forma correta.

Por fim, Sebastião reivindica uma atenção especial na aquisição governamental dessas sementes. “O governo refuga a diversidade ao adquirir de empresas que produzem em larga escala”, conclui.

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