Por meio do Projeto Paulo Freire, que estimula a geração de renda e trabalho no Semiárido, o governo do Ceará investiu, no ano passado, em torno de 40,3 milhões de reais nas capacidades produtivas de 17,6 mil famílias de agricultores. Em parceria com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), que faz parte da Organização das Nações Unidas (ONU), a iniciativa beneficiou 31 municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
O Projeto promove o acesso de pequenos produtores a mercados e a estruturas básicas de negócios rurais. Em 2018, foram elaborados 588 projetos produtivos, que envolveram diretamente 17.606 famílias de agricultores considerados “pobres” e “extremamente pobres”.
Os beneficiários do projeto trabalham em diferentes setores e nichos da produção agrícola — avicultura, caprinocultura, ovinocultura, mandiocultura, fruticultura, suinocultura, criação de abelhas, quintais produtivos, biodigestores, reúso de água cinza, cultivo de hortaliças, artesanato, beneficiamento, entre outros.
Do total de planos produtivos, 526 estão em execução, com um investimento de 40 milhões de reais. Com duração de seis anos, o Paulo Freire foi aprovado em 2012 e será implementado até o fim de 2019 pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) do Ceará e pelo Fida. Por meio de empréstimo, o fundo internacional viabiliza metade do orçamento total do projeto, estimado em cerca de 300 milhões de reais.
Segurança hídrica
Nas cidades que integram o projeto, a pasta estadual instalou 1.073 cisternas de água para consumo humano, de um conjunto de 1.209 cisternas contratadas para 2018. Também foram implantadas 21 cisternas escolares. A SDA criou ainda três estações móveis de tratamento de água, a fim de garantir o abastecimento das famílias atendidas pelo Paulo Freire. Com isso, o governo espera disponibilizar água potável para os agricultores até, pelo menos, o início da próxima quadra chuvosa.
A expectativa para 2019 é de que sejam implantadas, em 600 comunidades cearenses, outras 4 mil cisternas de placas (recipientes cilíndricos com estrutura para captação e armazenamento da água da chuva) e 30 reservatórios escolares.
Essas iniciativas para promover a segurança hídrica no Ceará são executadas pelo Centro de Estudos e Assistência às Lutas do/a Trabalhador/a (Cealtru), o Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (Cetra), a Cáritas Diocesana de Crateús, o Centro de Pesquisa e Assessoria (Esplar), o Instituto Antônio Conselheiro (IAC), o Instituto Flor do Piqui e a organização não governamental Cactus.
Integrantes das instituições orientam a população sobre como usar corretamente os recursos hídricos locais. Os técnicos também fazem medição do terreno e entrega de material, além de trabalharem na construção das cisternas. Os reservatórios serão abastecidos pelas estações móveis de tratamento de água.
Reutilização da água
A coordenadora do projeto, Íris Tavares, lembra que as mais de 17 mil famílias do Paulo Freire participaram de iniciativas e discussões sobre o reúso da chamada água cinza — a água originária do banho, da pia da cozinha e da lavanderia. Rica em resíduos químicos e biológicos, essa água agora é direcionada para um filtro próprio, que permitirá o seu reaproveitamento na irrigação de fruteiras e hortaliças, cultivadas no quintal dos participantes do projeto.
“Foram desenvolvidos também programas de capacitação com juventudes, mulheres, (sobre) raça e etnia, focada no acesso às políticas públicas, na gestão, produção e organização das famílias”, acrescenta Tavares, que descreve 2018 como um ano de “muito trabalho, esforço e realizações” para a SDA.
Essas oficinas temáticas foram promovidas pelas autoridades estaduais em 600 comunidades, mobilizando 21,5 mil famílias do campo, o que representa quase 70 mil cearenses.
O Projeto Paulo Freire engloba os municípios de Coreaú, Graça, Sobral, Senador Sá, Moraújo, Massapê, Frecheirinha, Mucambo, Pacujá, Irauçuba (Sobral I), Hidrolândia, Ipú, Pires Ferreira, Reriutaba, Ipueiras, Varjota (Sobral II), Arneiroz, Aiuaba, Tauá, Parambu, Quiterianópolis (Inhamuns) e Assaré, Araripe, Altaneira, Antonina do Norte, Campos Sales, Nova Olinda, Potengi, Tarrafas, Salitre e Santana do Cariri (Cariri Oeste).
Editada a partir do original publicado na ONUBR